Considero que se dedicarmos alguns momentos a observar ao nosso redor é fácil caraterizar as rotinas diárias por um excesso de sedentarismo, elevados níveis de stress e intervalos de horas de ingestão alimentar muito alargados; de igual modo verificamos um período de jejum noturno reduzido o que acaba por originar uma necessidade quase contínua de ingestão de alimentos, o que se traduz numa desregulação metabólica.
Vivemos num ambiente em que não existe tempo para apreciar as refeições, nem para nos dedicarmos a cozinhar o que se reflete na procura de alimentos fabricados rapidamente, disponíveis a qualquer hora. Estes alimentos além de serem menos saudáveis, poderão ser mais baratos afetando, especialmente, pessoas com um poder económico mais limitado.
Estes maus hábitos alimentares estão ligados a diversas doenças, incluindo anemia e desnutrição, mas também obesidade e outras comorbidades graves, como diabetes, doenças cardiovasculares e cancro. O consumo excessivo de açúcares, amido e gorduras hidrogenadas é um dos principais fatores para o aumento da obesidade, o que segundo o World Obesity Atlas 2023, pode afetar mais da metade da população mundial até 2035. As crianças não são exceção e prevê-se um aumento da percentagem de crianças com IMC elevado, estimando-se um aumento dos 41% verificados em 2020 para os 57% em 2035. Com o aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade é natural que ocorra consequentemente uma subida da inflação, já que os consumidores acabam por preferir alimentos menos saudáveis que, por norma, têm preços mais reduzidos.
A publicidade em torno de certos alimentos não facilita a seleção quando procuramos soluções mais saudáveis, uma vez que se utilizam figuras conhecidas e brindes que atraem especialmente crianças, levando-as a consumir produtos sem valor nutricional.
A educação alimentar desde a infância é por isso crucial, uma vez que muitos desses hábitos são adquiridos na infância, influenciados pelo ambiente familiar e social. A presença do Nutricionista é por isso crucial devendo ser mais frequente e introduzida logo nos primeiros anos de escolaridade, de forma a que seja possível desenvolver a aquisição de conhecimentos e atitudes mais saudáveis, promovendo bons hábitos alimentares, promovendo a saúde e prevenindo a doença.
Apesar das medidas já implementadas para travar a pandemia da obesidade, como a proibição de venda de certos produtos alimentares nas escolas e a redução de horários de manutenção de serviços como bares escolares, a oferta de opções saudáveis continua limitada e reduzida. As crianças continuam também a não levar as suas próprias marmitas, passam muitas horas sem comer entre as refeições principais, não consomem legumes, recorrem a alimentos processados como snacks, uma vez que são mais fáceis de transportar e rápidos de consumir e muitos nem tomam o pequeno-almoço, muito embora esta refeição seja referida várias vezes como a refeição mais importante do dia.
É necessário continuar a investigar e a aprimorar a prevenção e o tratamento da obesidade infantil, reinvestindo mais na saúde infantil, aplicando, por exemplo, mais medidas legislativas, como a aplicação de taxas na aquisição de produtos demasiado processados, ricos em açúcares, gorduras hidrogenadas, corantes e conservantes artificiais.
Note-se que uma alimentação saudável, não precisa de ser uma alimentação cheia de restrições ou sem sabor, mas deve assegurar que o organismo recebe todos os nutrientes necessários para o seu bom funcionamento.
Fica o apelo geral, se pretende ter uma alimentação mais cuidada, leia atentamente os rótulos nutricionais, estes são certamente um aliado nesse processo. Quanto menos ingredientes o alimento tiver na sua composição, melhor; se o açúcar, sal ou gordura aparecerem como os primeiros na lista, é um sinal de alerta, porque significa que o produto tem maior composição desses ingredientes do que de qualquer outro componente.
O ideal será começarmos a descascar mais alimentos e abrir menos embalagens. Planifique os menus semanais e envolva os mais novos na sua elaboração, pode ser divertido preparar as marmitas e será certamente mais eficaz quando pretendemos assegurar uma alimentação mais saudável.