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Opinião: «Educar ou sobrecarregar: o polémico método de poupança infantil que pode sabotar valores essenciais», Cristina Judas, especialista em Educação Financeira Infantil

Artigo de opinião de Cristina Judas, especialista em Educação Financeira Infantil

18 Dezembro 2024
Cristina Judas, especialista em Educação Financeira Infantil

Há uns dias, uma história viralizou nas redes sociais: uma mãe que, através de um método aparentemente inovador, ensina os filhos a poupar e a acumular responsabilidades financeiras desde cedo. Embora muitos aplaudam a ideia como “brilhante” é preciso fazer uma reflexão mais ampla sobre as consequências de práticas como esta.

Educar financeiramente as crianças é, sem dúvida, essencial. Vivemos em tempos onde o consumismo desenfreado e a falta de literacia financeira afetam gerações inteiras. Mas a forma como ensinamos esses valores importa tanto quanto o objetivo final. O método desta mãe, que inclui “cobrar renda” e impor regras rígidas de uso de uma semanada alta, merece ser analisado com cuidado.

Porque é que este método pode ser problemático?

A infância não é a vida adulta: A infância é como uma ponte para a vida adulta – um espaço para aprender, experimentar e errar com segurança. Forçar as crianças a ‘pagar renda’ ou assumir responsabilidades excessivas antes do tempo é como exigir que alguém corra antes mesmo de aprender a caminhar. Isso pode gerar confusão e sobrecarregar emocionalmente uma fase que deveria ser de descobertas e crescimento.

Remunerar tarefas domésticas gera consequências negativas: Transformar tarefas domésticas ou até boas notas em transações financeiras é como substituir laços familiares por contratos. O valor do trabalho em casa não deveria ser contado em moedas, mas em colaboração e senso de responsabilidade. Estas atividades devem ser encaradas como parte das responsabilidades familiares, e não como transações comerciais. Quando o dinheiro se torna o único motivador, corre-se o risco de enfraquecer a cooperação espontânea, a empatia e o senso de dever. Além disso, crianças podem aprender a “negociar” até mesmo o básico, como arrumar o quarto ou ajudar em casa, criando uma relação transacional em situações que deveriam ser naturais.

O equilíbrio entre liberdade e controlo: Educar financeiramente as crianças é como ensinar a andar de bicicleta: é preciso segurar firme no início, mas dar liberdade gradual para que pedalem sozinhas. Regras demasiado rígidas são como rodinhas que nunca saem – limitam a autonomia e impedem a aprendizagem real. As crianças precisam tomar pequenas decisões, acertar e errar, para ganhar confiança e desenvolver uma relação saudável com o dinheiro.

O que deveríamos ensinar às crianças sobre dinheiro?

Educação financeira infantil deve ser baseada em conceitos práticos, mas adaptados à maturidade emocional da criança. O uso de ferramentas como mesadas educativas e cofrinhos segmentados (para poupar, gastar, doar e investir) são estratégias mais equilibradas. Elas permitem que as crianças entendam o valor do dinheiro, mas também desenvolvam empatia, autonomia e pensamento crítico.

Ensiná-las a poupar, sim, mas com propósito — para algo que desejam ou para contribuir com uma causa em que acreditam. Mostrar que o dinheiro é uma ferramenta que nos ajuda a alcançar objetivos e não uma fonte de pressão ou preocupação desde cedo.

Conclusão e Chamado à Reflexão:

Este método, embora eficaz para acumular poupanças, pode sobrecarregar emocionalmente as crianças e gerar uma relação distorcida com o dinheiro. A educação financeira não deve ser um fardo, mas um presente que preparamos com responsabilidade e carinho, respeitando as etapas do desenvolvimento infantil.

A verdadeira transformação começa quando unimos equilíbrio, empatia e uma aprendizagem gradual. Que este debate sirva para repensarmos como podemos ensinar as nossas crianças a serem financeiramente conscientes, sem esquecer de protegê-las das pressões do mundo adulto antes do tempo.

 

 

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