A escoliose é um desvio da coluna vertebral no plano de frente, que se traduz numa curvatura anómala na forma de um “S”. Esta deformidade pode surgir em qualquer idade, desde os mais pequenos até aos mais idosos, sendo, obviamente, a sua causa de diferentes origens.
Por Jorge Mineiro, Presidente da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia
O tratamento estandardizado para os mais novos é seguramente o uso de uma ortótese (um colete de vários tipos), cuja evidência científica foi demonstrada por um estudo da autoria do Professor Stuart Weinstein, de Iowa City, nos EUA, e publicado em 2013 no New England Journal of Medicine (uma das “bíblias” das revistas médicas internacionais). Este estudo multicêntrico demonstrou que o uso de colete era benéfico para o tratamento das escolioses idiopáticas do adolescente, facto que veio reforçar a nossa confiança ao prescrever um tratamento conservador deste tipo.
No entanto, sabemos o quão difícil é usar um colete diurno na adolescência, facto que é responsável pela atitude negativa de muitos jovens em utilizar o colete nesta fase da vida.
Embora a alternativa seja cirúrgica, por técnicas já utilizadas há cerca de 50 anos, atualmente começam a surgir técnicas alternativas de cirurgia que já não implicam a fusão e bloqueio de vários segmentos da coluna.
Tratam-se de procedimentos cirúrgicos que “prendem” as vértebras da curva anómala com uma corda e parafusos em jovens numa fase inicial do crescimento, corrigindo a deformidade em escolioses menos graves entre os 40 e os 60 graus e em adolescentes entre os 10 e os 14 anos. São de facto cirurgias verdadeiramente inovadoras pois permitem a prática desportiva sem as restrições anteriores da técnica clássica.
Mas estas são apenas algumas novidades recentes para este grupo etário. Outras técnicas inovadoras têm surgido no mundo da cirurgia, que se traduzem em cirurgias mais seguras e com menores riscos para todos os grupos etários. Deste modo, utilizando a Inteligência Artificial é possível, no planeamento cirúrgico antes da operação, calcular como vai ficar corrigida a curva anómala/escoliose e mandar moldar antes da cirurgia a prótese que vai ser usada naquele caso específico. Esta forma permite ter um melhor resultado e encurtar o tempo de cirurgia, evitando o tempo que o cirurgião leva a moldar a barra que vai colocar de acordo com o seu planeamento cirúrgico. Cirurgia mais curta significa menos perda de sangue, menor risco de infeção e internamentos mais curtos com menores custos.
Outras das áreas que teve um enorme avanço nestes últimos anos foi a radiografia da cabeça aos pés EOS, a utilização dos moldes 3D nos casos mais complicados e pré-operatório, a neuro-navegação e a cirurgia robótica. O planeamento pré-operatório correto é um passo essencial para o êxito do procedimento cirúrgico – a radiografia EOS dá-nos uma visão global do alinhamento integral da coluna vertebral, podendo dar-nos indicações específicas de onde e como temos de corrigir a deformidade da coluna para terminar com uma coluna bem equilibrada, requisito essencial para o sucesso da cirurgia nas deformidades dos adultos.
Numa deformidade de escoliose complexa e em vários planos, ter um modelo de “plástico” antes da cirurgia, em que possamos cortar e planear o que vamos fazer na cirurgia real é de uma utilidade extrema, uma vez que para além de aumentar a segurança no procedimento cirúrgico, ajuda também a encurtar o tempo cirúrgico com todos os benefícios acima mencionados.
A utilização da neuro-navegação é outra mais-valia para a cirurgia das escolioses e cifoses onde temos que colocar parafusos bem ao lado da medula espinhal sem lhe tocar ou causar dano. Esta técnica aumenta substancialmente a segurança deste procedimento, podendo também encurtar a cirurgia, em particular nos casos mais complexos.
Por fim, a utilização da cirurgia robótica na cirurgia da coluna vertebral é uma realidade distinta, ainda não existente em Portugal, e que está agora a dar os seus primeiros passos. É utilizada essencialmente para a colocação dos parafusos nas vértebras rodadas e com anomalias anatómicas, evitando o erro humano pela sua precisão milimétrica, aumentando assim também a segurança neste tipo de procedimentos para a correção das deformidades da coluna em qualquer idade, sejam elas escolioses ou cifoses.
Portugal é um país seguro para a cirurgia da coluna vertebral em que se praticam todas estas técnicas inovadoras, à exceção da robótica que de momento é substituída pela neuro-navegação praticamente com a mesma margem de segurança, com um investimento consideravelmente menor e com os mesmos benefícios.