No dia 1 de Junho celebrámos mais um Dia da criança, que nos remete a brincadeira, descontração e felicidade. As famílias reúnem-se num ambiente repleto de amor, segurança e acolhimento. Em contrapartida, segundo o Diário de Notícias, em 2024, o cenário é diferente para 3237 crianças que foram vítimas de maus-tratos. Cada um destes casos representa uma criança que, em silêncio, sofreu de algum tipo de violência em locais que deveriam ser espaços seguros e por parte de membros de uma comunidade que a deveria proteger.
Com isto surge a pergunta: “O que estamos a fazer para garantir que todas as crianças cresçam em segurança?”. Hoje, essa segurança vai além do físico. Vivemos num mundo cada vez mais digital, onde a tecnologia está profundamente presente no quotidiano das crianças, oferecendo novas oportunidades, mas também novos riscos.
Tal como é essencial prevenir e combater os maus-tratos físicos e emocionais, é urgente olhar para os desafios do ambiente digital, onde muitas vezes se escondem formas mais subtis, mas igualmente prejudiciais, de violência: o isolamento, o cyberbullying, a exposição precoce ou o impacto das comparações constantes com uma realidade distorcida das redes sociais.
Ser pai, mãe ou cuidador sempre foi um dos maiores desafios da vida. É um caminho que se construí com amor, dúvidas e medos de não atingirmos a tão desejada “vida perfeita” das redes sociais. Habituados a ver fotografias sorridentes, crianças sempre bem-comportadas e casas impecáveis, somos confrontados com sentimentos de insegurança e culpa que nos traz a pergunta “Estarei a fazer o suficiente?”.
Nesta viagem da parentalidade, a comunicação aberta e a escuta ativa são aliados valiosos para criar um espaço seguro, onde se possa conversar sobre responsabilidade digital sem medo de julgamentos. Perguntas como: “Que redes sociais usas?”, “O que gostas de fazer lá?”, “Se vires algo que te assuste, sabes que podes falar comigo” são pequenas janelas para um diálogo genuíno.
É essencial demonstrar interesse real pelo que os mais novos fazem online, explicar a diferença entre o que é autêntico e o que é editado (para reduzir comparações e fortalecer a autoestima) e abordar temas como a segurança digital, desde a proteção de dados pessoais até ao reconhecimento de conteúdos perturbadores. Além disso, devemos incluir as crianças nas decisões relacionadas com o uso da tecnologia como definir horários, zonas livres de ecrãs ou pausas digitais, de forma a promover o pensamento crítico e a autonomia.
Mais importante do que controlar é estar disponível. Mais do que impor limites é importante estar presente e ser o exemplo que queremos que as crianças sigam. Se queremos que larguem os ecrãs e tenham tempo de lazer de qualidade, também temos que aprender a fazê-lo. Às vezes, tudo o que elas precisam que se faça, mais do que seguir “dicas infalíveis” ou “tendências parentais”, é de saber que podem contar connosco mesmo quando cometem erros.
Todos podemos ser agentes de mudança e promover uma cultura de respeito pelos direitos das crianças, não apenas neste dia, mas sempre. A prevenção da violência começa com educação, sensibilização e ação. É premente que possamos ensinar as crianças a identificar e gerir as suas emoções, para adquirirem capacidade de resolver conflitos pacificamente, bem como de respeitar os limites de cada um, inclusive os delas.
No fim do dia, a parentalidade é uma montanha-russa que vamos aprendendo a desfrutar à medida que fazemos o caminho. Que este Dia da Criança seja mais do que uma comemoração, seja um lembrete firme da responsabilidade coletiva que temos em garantir que todas as crianças cresçam num ambiente de amor, acolhimento, respeito e segurança, tanto no mundo real como no digital.