Opinião: Saiba como criar um colete à prova de comentários depreciativos

Artigo de opinião de Catarina Lucas, psicóloga 

Com o passar dos anos, assistimos à evolução da desmistificação de novos conceitos, “tabus” e até de novas mentalidades, educando as mais recentes e antigas gerações.  No entanto, ainda existe quem considere, por bem ou não, tecer comentários depreciativos sobre os outros à sua volta.

Existem conceitos que se poderiam atribuir a este tipo de ocasiões: bullying, mobbing e body shaming. O primeiro refere-se à prática de atos violentos, intencionais e repetidos, que podem causar danos físicos e psicológicos nas vítimas; o segundo partilha do mesmo significado, mas em contexto laboral. E o ato de criticar a aparência física de alguém define-se por body shaming.

Mas independentemente do termo atribuído, e pouco importa se o comentário despropositado vem em jeito de preocupação ou elogio, as consequências para quem é visado podem ser enormes e levar a adotar comportamentos prejudiciais, desde ansiedade e depressão às perturbações alimentares e baixa autoestima – tudo consequências que afetam diretamente a vida pessoal e profissional e ainda mais relevante quando a vítima passa a sentir que merece as opiniões de que é alvo, inferiorizando-se constantemente e perpetuando perceções enviesadas de si própria.

A autocentração do ser humano – que o faz acreditar que só ele e a sua conduta é que está correta – torna habitual criticar o diferente ou aquele que pensa de forma diferente. Mas este controlo sobre o outro e sobre o corpo do outro é perigoso e só reforça os preconceitos que ainda existem relativos às medidas corporais de alguém.

Quando estes comentários maldosos ou uma opinião não solicitada surge e atinge a pessoa visada, é normal que haja desestabilização. No entanto, é necessário desenvolver uma carapaça que filtre tudo o que entra no sistema, principalmente no emocional, para que não se perca o discernimento. E

Vejamos algumas  algumas dicas.

Não é viável impedir a crítica, já que ela não depende de nós, e uma vez que o comportamento do outro também não é algo controlável. Pelo que a maior proteção que podemos desenvolver é estarmos conscientes de quem somos e do nosso valor, de modo que, quando o ataque surgir, estejamos mais preparados para lidar com ele.

O silêncio é, muitas vezes, a melhor resposta e não devemos dar palco a certo tipo de comentários, que em nada nos acrescenta. É normal querer responder e orientar as pessoas que, consciente ou inconscientemente, tecem comentários depreciativos, mas deixar-se levar pelo que os outros dizem sobre si, só o leva a um caminho sem saída.

É importante trabalhar a autoestima e o autoconceito, principalmente em atributos como valores, trajetos profissionais, esforços, derrotas e a forma como não nos deixamos derrotar por elas; e nunca resumir-se à sua imagem física, pois todos sabemos que é impossível alcançar o “corpo ideal” e ninguém é apenas o que mostra no exterior.

Ter consciência destes aspetos e priorizar o estado da saúde mental, facilita o processo de lidar com ataques externos. As inseguranças existem e todos as temos, o que torna natural sentir desconforto quando alguém se insurge e comenta algo sobre nós de modo depreciativo. Os comentários sobre o outro, e sobre o corpo do outro, tornou-se algo natural, mas combater o efeito e exercitar a empatia deve ser prioridade desta sociedade, onde ninguém é livre o suficiente para humilhar ou inferiorizar o outro.

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