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Opinião: «Síndrome de Peter Pan, o medo de ser adulto», Catarina Lucas, psicóloga 

Artigo de opinião de Catarina Lucas, psicóloga e Diretora Clínica e Executiva do Centro Catarina Lucas

7 Novembro 2024
Catarina Lucas, psicóloga 

A síndrome de Peter Pan carateriza-se por comportamentos infantilizados, acompanhado por um receio muito grande em assumir responsabilidades ou compromissos. Existe uma grande dificuldade na perceção de si como um ser adulto e no assumir das responsabilidades inerentes à vida adulta. Ocorre quando a pessoa quer permanecer num papel tipicamente infantil, recusando-se a crescer. A síndrome de Peter Pan é mais frequente no sexo masculino, contudo, não é exclusivo. Algumas mulheres também revelam caraterísticas típicas desta síndrome.

Quais os comportamentos mais recorrentes?
– fuga às responsabilidades
– medo do compromisso ou de decisões que o fomentem
– egoísmo e egocentrismo
– birras e amuos
– possessão por objetos
– rebeldia e inconsequência
– dificuldade na expressão emocional
– procrastinação
– culpabilização das figuras parentais
– medo do abandono
Como se desenvolve?
Esta síndrome surge por volta do início da idade adulta, ou seja, entre os 18 e os 25 anos. À medida que a pessoa vai crescendo fisicamente e desenvolvendo competências cognitivas, o mesmo não ocorre com o desenvolvimento de competências emocionais. Isto pode dever-se a múltiplos fatores, normalmente ocorridos na infância, como por exemplo a falta de afeto, de suporte e de autonomização por parte dos pais. Crianças superprotegidas estão mais vulneráveis.

Além disto, a sociedade atual e a forma como se têm vindo a desenvolver as práticas parentais parecem ter alguma associação com estes comportamentos. Cada vez mais as pessoas adiam as responsabilidades e os compromissos, existe uma grande dependência em relação aos pais, seja financeira, seja emocional.

Estes comportamentos imaturos e de desresponsabilização são muitas vezes reforçadas pelas pessoas que estão à volta. Começa numa fase inicial pelos pais, sobretudo pela mãe e mais adiante pode ser transferida para a companheira. Há efetivamente pessoas que gostam de cuidar e se sentem úteis e realizadas ao faze-lo, embora isto seja muitas vezes disfuncional e um mecanismo desadaptativo de busca de aprovação. Dadas as caraterísticas de personalidade é normal que pessoas com Síndrome de Peter Pan procurem aproximar-se e estabelecer relações com pessoas com um perfil mais cuidador. De igual modo, pessoas cuidadoras tendem a estabelecer relações afetivas com pessoas que lhes permitam cuidar.

Quais as consequências?
Estas pessoas têm muita dificuldade na área profissional e nos relacionamentos interpessoais, uma vez que, têm medo das responsabilidades e compromissos. É difícil estar integrado num mundo profissional e empresarial, onde se exige maturidade, responsabilidade, caraterísticas escassas em pessoas com Síndrome de Peter Pan. Além disto, assumir um nível de compromisso mais elevado numa relação amorosa, parece ser também ser extremamente difícil. Surgem ainda problemas psicológicos, financeiros e sociais, mantendo-se uma grande dependência em relação aos pais.

Uma pessoa que mantém um comportamento infantil pode em alguns momentos ter piada, mas com a convivência, aqueles que estão à sua volta acabam por cansar-se. Além disto, ao não querer crescer, estas pessoas acabam por manter algumas caraterísticas típicas em crianças como por exemplo o egocentrismo e a imaturidade.

Costuma dizer-se que há em nós um eterno lado infantil, mas viver eternamente na infância pode trazer muitos danos à vida de uma pessoa. Ninguém consegue viver num mundo adulto e de responsabilidades, mantendo uma atitude infantil e imatura. Para muitas situações na nossa vida é preciso responsabilidade, maturidade e compromisso. Seria impossível viver-se uma adultez saudável mantendo essas caraterísticas infantis de forma permanente.

A vida pode ser vivida de forma leve, mas isso não significa vivê-la sem responsabilidades.

Qual a melhor forma de lidar com estas pessoas?

É importante não compactuar com os comportamentos imaturos e de desresponsabilização. A pessoa deve ser ajudada na tomada de consciência do seu novo papel enquanto adulto e daquilo que isso implica. Não colocar limites ou não se impor, dizendo não quando é preciso é um comportamento a evitar. Mesmo que a pessoa esteja em sofrimento, não deve ser tratada como uma criança, mas sim como um adulto que é.
Seja também um suporte emocional, já que estas pessoas sentem falta de afeto. Todavia, este afeto não deve conduzir à desresponsabilização ou ao assumir tarefas no lugar do outro. A pessoa deve ainda ser incentivada a procurar ajuda especializada.
 
O que fazer?
psicoterapia é certamente uma ajuda essencial no atenuar destas caraterísticas e na vivência de uma adultez saudável.

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