Segundo dados do segundo inquérito do Observatório Internacional de Microbiotas, que envolveu a recolha de respostas de 11 países de três continentes, apenas uma mulher em cada cinco afirma saber exatamente o que é a “microbiota vaginal” (22%, +2 pontos em relação a 2023).
Embora a notoriedade do termo microbiota vaginal tenha aumentado, 48% das pessoas inquiridas ainda desconhece, por completo, o seu significado. As mulheres estão mais familiarizadas com o termo “flora vaginal”, já que uma em cada duas mulheres sabe exatamente o que significa.
Mas o que é afinal este órgão tão pouco conhecido? Microbiota é o termo usado para definir a comunidade de microrganismos num ambiente específico, como é o caso da microbiota vaginal. Se estiver saudável e equilibrada terá muitas centenas de bactérias benéficas e um menor número de bactérias prejudiciais para a saúde e fungos (Candida, por exemplo).
Algumas bactérias, particularmente os lactobacilos, ajudam a manter um ambiente vaginal saudável e impedem que microrganismos nocivos se instalem na vagina. Qualquer desequilíbrio poderá levar a sintomas como corrimento incomum, ardor e irritação, prurido e odor vaginal desagradável.
A microbiota vaginal é uma comunidade dinâmica, sujeita à influência de diferentes fatores. A sua composição muda radicalmente desde a infância até à menopausa. Daí que seja importante usar produtos de higiene íntima adequados, evitar roupa apertada e tecidos sintéticos (optar por algodão), mudar regularmente o penso higiénico ou tampão durante a menstruação ou banir os duches vaginais, porque a microbiota vaginal tem uma função de autolimpeza.
No entanto, de acordo com o inquérito internacional, como muitas mulheres não têm um conhecimento aprofundado sobre a microbiota vaginal acabam por adotar comportamentos que podem não ser os mais adequados para uma boa saúde vaginal. Há cinco hábitos ainda que persistem e que são prejudiciais para a comunidade de microrganismos da zona íntima feminina:
- Automedicação, designadamente com antibióticos. Este tipo de medicamentos mata as bactérias más e as boas, pelo que deve ser tomado de acordo com as indicações do médico. Uma utilização inadequada pode fazer com que os microrganismos oportunistas proliferem e causem infeções secundárias. Neste inquérito, perto de 7 em cada 10 mulheres sabem que os antibióticos podem alterar a microbiota vaginal (69%). Quase 2 em cada 3 mulheres disseram que evitam a automedicação (63%).
- Tabaco. As mulheres que fumam estão mais sujeitas a sofrer infeções vaginais, além de o tabaco ter impacto também na saúde reprodutiva. Uma em cada 2 mulheres mostrou saber que o tabagismo tem impacto na microbiota vaginal (55%).
- Roupa interior de fibra. Trocar diariamente a roupa interior e preferir roupa interior de algodão em vez de tecidos sintéticos ajuda a manter uma boa saúde vaginal, assim como evitar roupas muito apertadas que possam causar fricção. Uma elevada percentagem de mulheres revelou que usa roupa interior de algodão (86%, +2 pontos em relação a 2023).
- Duches vaginais. Exceto se prescritos pelo médico, os duches vaginais não são recomendados. Podem alterar a flora protetora e a mucosa da vagina, o que afeta a microbiota e a sua função protetora contra infeções. Apesar de uma redução em relação ao ano passado, ainda são mais de 2 em cada 5 as mulheres que fazem duches vaginais (42%, -3 pontos em relação a 2023).
- Secura vaginal. A hidratação vaginal, em particular, na menopausa, é importante para melhorar a renovação celular, aumentar a proteção contra as agressões e a capacidade de elasticidade e flexibilidade dos tecidos. Na menopausa, os níveis de estrogénio baixam drasticamente. Em consequência, o pH vaginal aumenta e a flora vaginal sofre alterações (menos lactobacilos e maior diversidade bacteriana). Neste inquérito, 69% das mulheres mostraram que sabem que a secura/desidratação vaginal tem consequências para a microbiota vaginal.
Quanto à informação e sensibilização feita pelos profissionais de saúde sobre a microbiota vaginal, houve progresso em relação ao primeiro inquérito. Quase metade das mulheres foi sensibilizada para a importância de preservar o máximo possível a sua microbiota vaginal (+8 pontos face a 2023). Uma percentagem semelhante de mulheres afirma que um profissional de saúde já lhes explicou os comportamentos corretos que devem adotar para preservar o mais possível a microbiota vaginal (48%, +7 pontos em relação a 2023).
A idade é um fator determinante da microbiota vaginal: as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos estão menos sensibilizadas, ao contrário das pessoas com 25-34 anos e das mães jovens. Também não conhecem o papel e as funções da microbiota vaginal: menos de metade das mulheres com idade igual ou superior a 60 anos (49%) sabem que a vagina faz a sua autolimpeza (em comparação com 56% do conjunto das mulheres) e apenas 39% sabem que a vaginose bacteriana está associada a um desequilíbrio da microbiota vaginal (em comparação com 44% do conjunto das mulheres).
As mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos e as mães de crianças com menos de 3 anos parecem estar mais informadas e sensibilizadas para a microbiota vaginal. São também mais aquelas que sabem que a vagina faz a sua autolimpeza: 61% das mulheres entre os 25 e os 34 anos e 60% das mães estão cientes desse facto (em comparação com 56% do conjunto das mulheres). São ainda as que mais adotaram comportamentos benéficos para a microbiota vaginal: 2 em cada 3 usam uma solução de limpeza sem sabão (67% das mulheres entre os 25 e os 34 anos e 71% das mães de crianças com menos de 3 anos, em comparação com 61% do conjunto das mulheres).
Ao todo, o Observatório Internacional de Microbiotas realizou 7500 inquéritos nos Estados Unidos da América, Brasil, México, Portugal, Espanha, França, Polónia, Finlândia, China, Vietname e Marrocos. Em cada país, a amostra é representativa da população do país com idade superior a 18 anos em termos de sexo, idade, profissão e região. O inquérito foi realizado através da Internet, entre 26 de janeiro e 26 de fevereiro de 2024