O retábulo do Trânsito de São Bernardo, conjunto que inclui peças escultóricas, pintura mural e pedra, “encontra-se num estado de degradação e deve ser preservado para o futuro”, defendeu a World Monuments Fund (WMF), que hoje anunciou a escolha deste património, localizado no Mosteiro de Alcobaça, no distrito de Leiria, para o programa bienal World Monuments Watch.
A lista hoje divulgada inclui ainda um projeto para a recuperação do Cine-Estúdio Namibe, em Angola, que vai ser levado a cabo pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, e o alerta para a situação do património na África Oriental, em particular nas costas das Comores, do Quénia, de Moçambique e da Tanzânia.
Na sequência da publicação desta lista, que é divulgada a cada dois anos, “a equipa global da WMF trabalhará com os locais inscritos no Watch 2025 para avaliar as suas necessidades locais e co-desenhar estratégias de advocacia, preservação e angariação de fundos”.
“Uma vez obtidos os fundos, a WMF também apoiará os seus parceiros locais no desenvolvimento de um projeto de preservação no local, incluindo campanhas de sensibilização direcionadas, planeamento, investigação, iniciativas educativas e trabalhos de conservação física”, acrescentou o comunicado da organização.
Para a presidente da WMF, Bénédicte de Montlaur, o retábulo é uma “obra-prima da arte barroca”, criada nos séculos XVII e XVIII, utilizando técnicas específicas de cozedura a baixa temperatura e sobreposição de camadas designadas ‘tacelos’.
“Estas frágeis esculturas estão agora ameaçadas pelas alterações climáticas, com danos provocados por crescentes oscilações de humidade e temperatura”, afirmou, citada num comunicado em que sublinha o objetivo do programa de “apoiar iniciativas que enfrentem estes desafios, valorizem a tradição cerâmica da região e tirem partido do estatuto do mosteiro como Património Mundial da UNESCO para preservar este legado artístico único, procurando simultaneamente beneficiar a comunidade”.
O retábulo de terracota entra assim para a lista do programa de vigilância do World Monuments Watch, no âmbito de um projeto que, segundo a organização, “abrange diferentes aspetos que serão cofinanciados pelo WMF, pela instituição Museus e Monumentos de Portugal e pelo Instituto Politécnico de Tomar”.
O World Monuments Watch selecionou este ano “25 locais históricos a enfrentar desafios significativos, como alterações climáticas, turismo, conflitos e desastres naturais”.
Os locais, anunciados em Nova Iorque, incluem, além do retábulo de Alcobaça, o Centro Histórico de Gaza, na Palestina; a Casa do Professor, na Ucrânia; a Cidade Antiga de Antakya, na Turquia, entre outros locais que representam 29 países em cinco continentes, incluindo a Lua.
“Embora a Lua possa parecer estar fora destes desafios ela representa um património humano partilhado, desde o seu papel nos nossos relatos culturais até à sua importância na história recente, enfrentando agora pressões crescentes devido aos interesses privados”, disse Bénédicte de Montlaur, acrescentando que a Lua possui “centenas de artefactos humanos, incluindo a câmara que filmou os primeiros passos na Lua e um disco comemorativo deixado por Armstrong e Aldrin”, que justificam a sua inclusão na lista do património a salvaguardar.
A World Monuments Fund é uma organização independente sediada em Nova Iorque e dedicada à salvaguarda dos locais mais preciosos do mundo, trabalhando há mais de 55 anos em mais de 700 locais em 112 países.
Em Portugal, já trabalhou sobre diversos espaços patrimoniais, desde a Catedral do Funchal, na Madeira, ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, passando pela Sinagoga Shaaré Tikvah, também na capital, entre outros.
DA // TDI
Lusa/Fim