De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, 31,5% dos nascimentos ocorre depois da mulher ter 35 anos de idade (dados de 2016); e esta tendência tem vindo a acentuar-se, começa por referir Paulo Vasco, Médico Especialista em Ginecologia e Obstetrícia | Sub-especialista em Medicina de Reprodução na AVA Clinic Lisboa
Vários estudos demonstram que as mulheres com mais idade são em geral mais instruídas, têm uma estrutura emocional mais forte, um melhor equilíbrio profissional e financeiro e estão mais vocacionadas e disponíveis para amamentar.
Mas se bem que estas podem ser vantagens para quem decide ser mãe depois dos 40 anos, é preciso ter em conta a maior dificuldade em conceber e os riscos associados.
Esta realidade, exige uma preparação prévia adequada para evitar ou minorar alguns desses problemas previsíveis.
Riscos na gravidez com a idade
Conforme a mulher vai envelhecendo, a quantidade e a qualidade dos óvulos vai diminuindo e torna a gravidez mais difícil.
A probabilidade de engravidar espontaneamente aos 40 anos ronda os 5% a 10% e acima dos 45 anos é praticamente impossível consegui-lo com os próprios óvulos ou sem ajuda para o fazer. A idade da mulher é também um fator que afeta o sucesso de todos os tratamentos de fertilidade, neste sentido, há riscos a ter em consideração, quando se decide engravidar depois dos 40 anos:
- Maior taxa de Aborto espontâneo (25% das gestações aos 40 anos e 54% aos 44 anos)
- Maior incidência de diabetes gestacionais e hipertensão arterial (pré-eclâmpsia e eclâmpsia)
- Aumento da frequência de alterações cromossómicas fetais – a principal é o Síndrome de Down (probabilidade de 5% aos 40 anos e 10% aos 44 anos); estas são também razões que explicam a maior dificuldade em engravidar e o aumento da taxa de aborto com a idade
- maior incidência de problemas na placenta e no parto
- maior incidência de baixo peso fetal e prematuridade – 15% dos partos
- 06Maior incidência de nados mortos e problemas na saúde dos recém-nascidos
Como preparar a gravidez e avaliar o risco
Toda a mulher que pretende engravidar, deve consultar o seu médico assistente e expor o seu propósito. Com uma correta história clínica e alguns exames auxiliares de diagnóstico, é possível avaliar a condição física da mulher para a gestação, acautelar alguns riscos e até identificar fatores que possam constituir causas de subfertilidade ou infertilidade, justificando o encaminhamento para consultas especializadas; desta forma, podem ser obviadas perdas de tempo que se venham a sobrepor à idade da mulher.
Passo a citar algumas considerações sobre a avaliação clínica referida, especialmente a ter em consideração na mulher que pretende engravidar depois dos 40 anos:
- É diferente ter 40 ou mais anos de idade, ser saudável e não ter excesso de peso, do que ser fumadora e ter doenças associadas como hipertensão arterial, doenças cardíacas, tiroide ou diabetes, e/ou doenças do sistema nervoso. Nesse sentido, é fundamental tomar medidas consequentes, adaptando estilos de vida (plano de exercício físico, evitar o stress e a ansiedade), dietas e/ou medicação adequada, para equilibrar devida e atempadamente toda a situação ou entidade clínica que venha a constituir uma dificuldade ou risco previsível para a gravidez.
- Exames auxiliares imprescindíveis complementares na avaliação clínica e da capacidade reprodutiva
Análises gerais de sangue, incluindo a identificação do grupo sanguíneo, virologia e doseamento da TSH, AMH, FSH e estradiol
Ecografia ginecológica para avaliação do útero e dos ovários e deteção de anomalias do aparelho reprodutor – quistos, miomas, etc);
Se a história clínica o justificar, sugere-se ainda:
- O estudo da permeabilidade das trompas de Falópio, com recurso a uma Histerossalpingografia,
- Não esquecer o fator masculino, a relação entre a idade do pai e problemas genéticos e hereditários;
- pode ser importante conhecer a qualidade do esperma por via dum espermograma.
Nas mulheres acima dos 40 anos, passados 6 a 8 meses de vida sexual regular sem conseguir engravidar, sugere-se que recorram a unidades especializadas de infertilidade, para uma avaliação técnica mais cuidada e/ou a realização de tratamentos tais como fertilização in vitro (FIV).
Embora muitas destas mulheres não tenham problemas de fertilidade e venham a conseguir a gravidez espontânea mais tarde (porque a probabilidade de engravidar é previsivelmente baixa pelas razões que já citámos), todo o tempo passado pode constituir uma agravante na ajuda possível para conseguir a gestação versus nas condições/risco da própria gravidez.
Com a FIV, é feita uma estimulação considerável dos ovários , de forma a conseguir que vários óvulos nesse ciclo menstrual, se desenvolvam e amadureçam (situação que sem esta medicação, só seria possível com vários meses de ciclos ovulatórios); esses óvulos são posteriormente colhidos através de uma aspiração controlada, e num laboratório especializado, fertilizados com os espermatozoides normais; o desenvolvimento dos embriões resultantes é então acompanhado em laboratórios especializados e selecionados os de melhor qualidade para transferir para o interior do útero; a cultura prolongada de embriões com recurso a alta tecnologia (Time-Lapse) e a embriologistas especializados, é recomendada e altamente vantajosa na seleção de embriões e no consequente aumento da taxa e viabilidade da gravidez em mulheres acima dos 40 anos.
Quando não se obtêm resultados através destas técnicas com recurso a reprodução medicamente assistida, existe ainda a possibilidade de utilizar óvulos doados. A utilização de óvulos de dadoras aumenta significativamente a probabilidade de engravidar e diminui o risco de aborto espontâneo e de anomalias cromossómicas.
Conseguida a gravidez, destaca-se a importância de um bom acompanhamento especializado. Os grandes avanços verificados na medicina nos últimos anos, permitem diminuir os riscos e impactos associados à idade nas mães e fetos, com diagnósticos precoces e atitudes consequentes e atempadas.