Por: Vera de Melo, psicóloga clínica
Vivemos uma nova realidade, confinados em casa, muitos em teletrabalho, com as crianças. Uma realidade desafiante e extremamente exigente para qualquer adulto. Conciliar todas as tarefas e responsabilidades pode ser algo complexo, mas não impossível.
Com as crianças em casa a dinâmica entre casal é inevitavelmente diferente. Desfrutar de um tempo a dois, em casal, pode parecer uma miragem, algo particularmente difícil, mas essencial para manter a harmonia.
Deixo-lhe um Kit de sobrevivência:
Resignação– Aceite que a situação é exigente, que a perfeição não existe. É um desafio equilibrar todas as responsabilidades. Seria ingénuo pensar que esta situação excecional pudesse persistir sem ter impacto no relacionamento do casal. Menos tempo de qualidade em conjunto pode limitar rapidamente as oportunidades de intimidade e os resultados podem ser inevitavelmente o aumento do número de conflitos. Ao aceitar que a própria definição de normalidade se alterou drasticamente, poderá não só diminuir as exigências sobre si mesmo como também sobre o seu relacionamento. Uma boa dose de romance na sua vida ajudará a reduzir os seus níveis de stress, pense nisso.
Limites– Os limites estruturam o dia, defina-os. Não caia na tentação de qualquer tempo livre que tenha o ocupar com deveres de pais. Defina regras e rotinas, são fundamentais e securizam todos. Todos precisam do seu tempo e espaço. Garanta que os mais pequenos vão para a cama cedo e que as crianças mais velhas estão ocupadas.
Simplicidade- Pense na qualidade do tempo que passam em casal e não na quantidade. A felicidade é feita de pequenos gestos, de momentos simples. Valorize pequenos momentos, como beber um café, antes do dia de trabalho começar, um abraço no lanche da tarde, um olhar ternurento entre reuniões. Expresse o que está a pensar e sentir, assegurando-se que estão juntos, enquanto casal nesta fase tão desafiante.
Empatia– Coloque-se no lugar do outro. A pandemia pode acentuar diferenças no que diz respeito ao desejo sexual. Se alguns encontram no sexo uma forma de escape à ansiedade e angústia, outros podem perder o interesse e o desejo. Não deixe que essas diferenças vos afastem e sejam motivo de conflito. Tenha em mente, que o desejo pode ser despertado.
Criatividade- Encontre novas formas de estar a dois. Certo que não tem o restaurante romântico, a sala de cinema, mas com criatividade a sua sala, o quarto, podem tornar-se verdadeiros paraísos. Não deixe que a inércia, impeça de agir.
Comunicação– Crie um momento diário onde partilham em casal sentimentos, pensamentos, sem receio de julgamentos. Este momento gera tranquilidade e desenvolve proximidade e intimidade. Escute atentamente o outro e tentem, em conjunto, encontrar, soluções para as preocupações e receios. Não é tempo para competir, mas sim para colaborar, não estamos perante um concurso de produtividade ou de adaptação. Não há lugar para ironias, ataques verbais, piadas, segundas intenções, mas sim, uma comunicação assertiva, empática, centrada na solução.
Flexibilidade – Tudo o que nos focamos aumenta de importância. Não valorize os dias maus do parceiro, afinal quem não os tem. Seja flexível, foque-se no essencial, seja sensível às necessidades do outro.
Ative o “descomplicómetro” e tenha em mente que o ser humano tem uma capacidade de adaptação infindável. Use a comunicação, paciência e tolerância e o “foram felizes para sempre” continuará a fazer parte da vossa história.