Por Inês Santos Filipe, Nutricionista Holmes Place Cascais
Sabia que ingerir fruta fresca pode ajudar no controlo da asma? Descubra como a nutrição pode influenciar esta doença.
A asma é uma doença inflamatória das vias aéreas, caracterizada pelo estreitamento dos brônquios, de que resulta a sensação de dificuldade respiratória e a pieira. Uma patologia crónica, com uma prevalência mundial elevada que afeta cerca de 300 milhões de pessoas. Segundo o Inquérito Nacional de Prevalência de 2010, Portugal registou 6.8% de pessoas afetadas.
Esta patologia apresenta uma maior incidência na infância, no entanto pode manifestar-se nos diferentes grupos etários, constituindo assim um problema de saúde pública.
A prevalência da asma tem sido associada a alterações no contexto ambiental e estilo de vida, havendo diversos estudos realizados sobre o impacto da nutrição e dos padrões alimentares relacionados com esta temática.
A associação de nutrientes com propriedades antioxidantes, rácio de ácidos gordos polinsaturados n-6 e n-3, bem como a deficiência de vitamina D, são alguns dos tópicos estudados na área que mostram resultados promissores e necessidade de aprofundamento. A alteração do perfil lípidico, adequeação do rácio de gorduras polinsaturadas e a utilização de antioxidantes (vitamina E, C, carotenoides, selénio, polifenóis e frutas) mostram um efeito protetor em diversos estudos, evidenciando, no entanto, a necessidade de aprodundar estas hipóteses para a criação de uma evidência robusta.
Por outro lado, estudos observacionais relacionados com a suplementação com estes nutrientes não evidenciaram benefícios significativo, não havendo assim evidência suficiente para a utilização complementar no tratamento convencional da asma.
Gravidez
A intervenção nutricional na gravidez tem tido especial interesse, devido ao seu potencial papel na redução da asma infantil. Existem alguns estudos que associam a asma infantil e a redução da ingestão de alguns nutrientes na gestação, nomeadamente a vitamina E, vitamina D, selénio, zinco e gorduras polinsaturadas. Embora exista a sugestão de que possa ser vantajoso a utilização da vitamina D e a adequação das gorduras polinsaturadas, são necessários mais estudos para estabelecer se é viável uma alteração dos hábitos alimentares na gestante, como medida de redução na prevalência da asma infantil.
Dieta Mediterrânica
A utilização da dieta Mediterrânica tem sido associada a um melhor controlo da asma em adultos, devido ao seu teor de antioxidantes e alimentos com propriedades anti-inflamatórias, tendo sido também observados resultados na gravidez e infância. A utilização da fruta fresca no controlo da asma e de frutos oleaginosos no controlo da função respiratória, são alguns dos exemplos dos benefícios descritos.
Obesidade
Por outro lado, o estudo da obesidade e a sua influência no doente asmático também tem sido alvo de interesse. O aumento da prevalência da obesidade tem sido associado ao aumento da incidência e prevalência de asma em Portugal, sendo importante a intervenção nutricional nestes casos.
Nutrição e Asma
A associação entre a alimentação e a asma tem sido abordada em diversos estudos ao longo dos anos, evidenciando alguns resultados promissores com potencial impacto clínico.
Os resultados descritos evidenciam a complexidade da adequação alimentar e realçam a importância do estudo das interações nutricionais e da associação com diferentes padrões alimentares e estilos de vida – a importância de olhar para alimentação de uma perspetiva globa e sinérgica.
Em suma, é fundamental realçar que a alimentação pode ter um papel benéfico na asma que se baseia na interação nutricional e efeito combinado de determinados alimentos. Devendo também existir uma monitorização do estado nutricional, atividade física e ingestão alimentar no contexto da nutrição clínica, em complemento com a terapêutica ajustada.
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