Um crescente número de estudos tem ajudado a sugerir que a perda de consciência após o parar do batimento cardíaco acontece de forma menos imediata do que inicialmente pensado.
Cerca de 20% das pessoas que foram revividas após serem declaradas clinicamente mortas afirmam ter-se mantido alerta e conscientes, isto apesar de não se conseguirem mexer. Algumas destas chegam a declarar ter escutado o médico a anunciar a data e hora do seu falecimento.
Estas evidências têm vindo a dar alguma credibilidade a todas as histórias de experiências de quase-morte que envolvem normalmente ideias de experiências fora do “próprio corpo”, e de uma quase “vida após a morte”.
Por convenção os médicos determinam a hora de morte de uma pessoa, baseando-se exclusivamente no momento em que o coração deixa de bater. O Dr. Sam Parnia, da NYU Langone School of Medicine, explica que após uma falha absoluta do batimento cardíaco a atividade cerebral tende a parar “quase imediatamente” e o resto do corpo deixa de produzir outros reflexos básicos.
Exatamente pelo facto de o coração não bater mais e o corpo parecer não responder a estímulos exteriores, sempre se assumiu que uma falha absoluta do funcionamento cardíaco representava a fase final do estágio da morte. No entanto Parnia refere que muitos pacientes que voltaram ao “Mundos dos Vivos” afirmam ter tido a capacidade de ver e ouvir, mesmo enquanto estavam a ser declarados mortos pelos médicos.
Mas afinal como se explica isto?
Segundo este especialista médico, alguns segundos após a paragem cardíaca, a atividade do nosso córtex cerebral – a parte do cérebro responsável pelo pensamento – começa a abrandar e depois pára. A partir deste momento as máquinas e os monitores deixam de conseguir registar a atividade cerebral.
Esta situação dá início à morte das células cerebrais. Este processo pode, no entanto, demorar várias horas.
As diversas tentativas, levadas a cabo pela equipa médica, para ressuscitar os pacientes através de técnicas de CPR ajudam a prolongar o tempo que este processo (morte cerebral) pode registar. As habituais técnicas de reanimação conseguem trazer de volta ao cérebro cerca de 15% do sangue que este necessita para uma atividade normal.
Este facto pode assim contribuir para manter alguma consciência no paciente e ajuda a justificar algumas destas experiências de quase-morte.
A investigação do Dr Sam Pernia sobre este tema focou-se particularmente na tentativa de encontrar melhores maneiras de ressuscitar as pessoas após paragens cardíacas, minimizando os riscos de danos cerebrais ao longo das tentativas de reativar o coração.
Ao mesmo tempo que estuda esta questão e analisa os níveis de oxigénio que o cérebro vai recebendo em todo o processo de morte e salvamento, a equipa de investigadores procura melhor entender se a consciência humana é aniquilada ou não no momento da morte. Ou se realmente esta continua para além da morte, sendo aqui interessante perceber exatamente o que se passa na mente humana em tempo real.
As estimativas sugerem que milhões de pessoas têm realmente experiências vividas ao longo do processo de morte, mas a evidencia cientifica sobre este tema é ainda curta, alerta o Dr. Parnia. Muitos acreditam que esta “consciência” não passa apenas de alucinações e ilusões, mas a verdade é que os relatos e histórias dos pacientes correspondem muitas vezes à verdade dos factos que os próprios médicos testemunharam.