As representações da evolução humana são racistas e sexistas numa vasta gama de materiais, na comunicação social, na educação e na ciência, indica um estudo agora divulgado, avança a Lusa.
Da autoria de investigadores da Universidade de Howard, Estados Unidos, e publicado na revista científica “Evolutionary Anthropology”, o estudo resultou da análise de imagens apresentadas em artigos de investigação científica, museus, locais de património cultural, documentários, programas televisivos, livros de medicina e outros materiais educativos, que chegam a milhões de crianças do mundo inteiro.
Dando como exemplo uma representação de fósseis humanos que foram expostos no “Smithsonian National Museum of Natural History”, em Washington, os investigadores mostram como a representação tradicional sugere que a evolução humana foi de uma pigmentação de pele mais escura para uma pele mais clara.
No artigo publicado sobre o estudo, os investigadores notam, no entanto, que na atualidade só 14% das pessoas são identificadas como “brancas”.
Rui Diogo, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Howard e principal autor do artigo, disse à Lusa que todo o racismo e sexismo representando a evolução humana mostra a imposição da visão ocidental, ainda que possa ser inconsciente.
“Para o estudo, contactamos pintores, curadores de museus… e o que é curioso é que o racismo e o machismo são quase inconscientes. Poucos admitem que são racistas ou sexistas. Nem pensam nisso, repetem as mesmas narrativas sem pensar”, disse o investigador.
Rui Diogo diz entender o porquê de as pessoas seguirem essas narrativas inconscientemente, diz que é o que lhes é apresentado desde pequenas, mas acrescenta que tal não pode ser uma desculpa. “Todos temos responsabilidade, os curadores, os jornalistas, os que escrevem livros para os jovens das escolas”.
“Quando falo do Homem das Cavernas, apago instantaneamente a mulher da pré-história”, diz, acrescentando que o que se vê nos livros e na Internet sobre a evolução humana dá uma ideia que não corresponde à realidade. “É quase como se fossemos todos brancos e que os outros estão condenados a desaparecer. Charles Darwin já dizia isso”.
Questionado pela Lusa Rui Diogo salientou também que mesmo nas publicações na Ásia a narrativa pode ser racista, colocando o asiático em destaque, mas no essencial repete a narrativa ocidental.
Em termos gerais, diz, sobretudo em livros para crianças, a evolução não é representada apenas pelo homem branco, é representada “pelo homem branco ocidental, de gravata”.
No artigo, com o título “Not Just in the Past: Racist and Sexist Biases Still Permeate Biology, Anthropology, Medicine and Education”, o principal autor lamenta que ainda hoje haja essa tendência de colocar os seres humanos mais escuros como “supostamente mais primitivos” e os mais claros como “mais civilizados”.
Essa representação inexata distorce a “autêntica variabilidade biológica humana”, salientam os investigadores, que admitem que o racismo e sexismo persistente poderão estar a servir o propósito da “manutenção da supremacia branca e masculina” e a exclusão dos “outros”, e alertam que as imagens que são difundidas “minimizam a complexidade” da evolução humana.