De acordo com dados da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, partilhados no início de 2022, o Cancro da Próstata é o tumor mais frequente nos homens e a terceira principal causa de morte.
O cancro da próstata é uma doença silenciosa e um tema tabu para muitos homens, como assegurou à Forever Young Paulo Dinis, chefe do serviço de Urologia do Hospital de S. João, que explicou em entrevista de que forma se pode mudar esta situação.
Qual é a importância do rastreio atempado do cancro da próstata?
O cancro da próstata pode apresentar-se em várias fases de evolução. Antes do advento dos métodos de diagnóstico precoce, a doença era apenas detetada, na sua maioria, em fases tardias em que o cancro já tinha ultrapassado os limites do órgão, com metastização noutros órgãos. Esta situação de cancro disseminado à distância, mesmo hoje, não se consegue curar. A Medicina apenas consegue prolongar a vida dos doentes mais do que antigamente, mas, infelizmente, ainda não os cura.
Em contrapartida, o diagnóstico precoce veio permitir inverter a situação. Antes de haver a possibilidade de determinar o nível de antigénio específico da próstata (PSA) no sangue, 80% dos doentes apresentavam metastização na altura do diagnóstico. Após a sua utilização em larga escala e os consequentes estudos para estabelecimento de um diagnóstico, a situação inverteu-se, sendo que neste momento os cancros diagnosticados são-no em fase precoce da doença. Isto, naturalmente, permite a sua cura.
É cada vez mais essencial sensibilizar os portugueses para esta questão?
Sem dúvida, porque a expectativa de vida dos portugueses melhorou exponencialmente desde os anos 60, passando de cerca de 60 para, atualmente, pouco mais de 80 anos. Podemos dizer que estamos a ganhar esta luta, contudo, ainda lutamos pelo envelhecimento saudável, pois estamos muito atrás da generalidade dos países desenvolvidos. O envelhecimento saudável conquista-se pela prevenção de doenças ab initio, e/ou pela sua deteção e tratamentos precoces, evitando, assim, as fases avançadas da doença oncológica, no caso, da neoplasia prostática.
Qual o impacto da doença na população masculina nacional?
O cancro da próstata é a doença mais diagnosticada nos homens e representa a terceira causa de morte por cancro. A morte por cancro da próstata, na maior parte dos casos, não é rápida, podendo ser este um aspeto positivo, por permitir muitas vezes anos de sobrevida com alguma qualidade; porém, tem também um lado negativo, que está relacionado com todo um acumular de seguimentos e tratamentos que drenam energia, recursos e qualidade de vida/bem-estar ao doente, aos que o reiam e à própria sociedade. O fardo e sacrifício sobre os doentes é tão menor quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento atempado.
Têm os números vindo a subir? Ainda é causa de muitas mortes?
Os números têm vindo a subir, mas mercê da deteção mais precoce e mais frequente dos casos. A mortalidade tem vindo a diminuir pela mesma razão: a deteção e tratamento mais precoces.
Qual é hoje a taxa de sucesso do tratamento do cancro da próstata?
A taxa de sucesso pode ser avaliada segundo diferentes variáveis, mas podemos afirmar, de acordo com os estudos existentes, que o tratamento da generalidade dos cancros ainda localizados na próstata tem um sucesso entre 80% e 99%, mais baixo, naturalmente, nos cancros mais agressivos.
Quando se diz que o cancro da próstata é uma doença silenciosa o que é que isso significa?
Significa que esta doença só dá sintomas numa fase muito adiantada da mesma. Ou seja, um cancro da próstata pode crescer dentro do órgão e espalhar-se no organismo ao longo de anos de evolução, sem nenhum sinal ou sintoma, tornando ainda mais pertinente a questão do diagnóstico precoce. Se optarmos por não fazer nada e viermos a ter cancro da próstata diagnosticado pelas suas manifestações clínicas, o mais provável será que já não esteja em fase curável.
Ainda é esta doença um tema tabu para muitos homens?
Sim, é claramente um tema tabu para muitos homens.
Na sua opinião porque é que isso ainda acontec
No que respeita à próstata, existe uma grande desinformação, quer em relação ao próprio órgão e às suas funções fisiológicas, quer ao diagnóstico de doenças prostáticas. Por exemplo, um grande número de pessoas associa o órgão próstata à nossa capacidade erétil, o que não tem fundamento, mas torna imediatamente o assunto do seu estudo num embaraço a esconder. Os sintomas urinários associados ao crescimento benigno da próstata são igualmente associados a velhice, fraqueza e perda de virilidade. Ainda assim, é verdade que muitos tratamentos para o cancro da próstata podem interferir com o desempenho sexual. Estas noções fomentam uma cultura de evicção da procura de cuidados de saúde, ainda bem patente nesta área.
Por outro lado, alguns exames conducentes ao diagnóstico, nomeadamente o toque rectal, são temidos quer pela dor que suspeitam que o exame cause, quer pelo embaraço de serem submetidos a um exame que veem como invasivo e atentatório da sua dignidade/masculinidade. Apesar de o exame ser em geral desconfortável, mas não doloroso e apenas mais um componente do exame físico geral, estamos longe de ter os homens com a mesma atitude de prevenção e preservação da saúde que as mulheres com os exames ginecológicos.
A partir de que idade devem os homens fazer o rastreio?
Todos os homens devidamente informados dos riscos e benefícios devem fazer rastreio a partir dos 45 anos se tiverem ascendência africana, familiares com cancro da próstata ou ainda mutações genéticas que indiciem maior risco. Para todos os outros, deverá aquele ser feito a partir dos 50 anos. De acordo com os resultados obtidos, a repetição dos rastreios pode ser protelada até oito anos ou repetida com maior frequência.
Em que consiste esse rastreio?
O rastreio resume-se a um exame digital da próstata designado habitualmente por toque rectal e ao doseamento do PSA no sangue. De acordo com os resultados de um e de outro, encaminha-se o doente para biópsia prostática, geralmente precedida de ressonância magnética.
Há fatores de risco para se contrair a doença?
Há doentes com maior risco, nomeadamente com a existência de cancro da próstata em familiares em três gerações, mais do que dois cancros da próstata na família ou ainda cancro em familiares diretos. A ascendência africana também confere maior risco. Ainda doentes com doença inflamatória do cólon ou com história de HPV (condiloma acuminado, mas apenas a estirpe 16) têm também maior risco.
Há alguma associação a riscos alimentares e ambientais, mas não suficientemente fortes para estabelecer recomendações. Existe associação com o tabaco, consumo excessivo de álcool, obesidade, exposição ocupacional a cádmio, consumo de carnes vermelhas ou processadas.
Que palavra deixaria aos homens que sentem algum “temor” em avançar para o rastreio?
Se foi esclarecido sobre os riscos e benefícios de rastrear o cancro da próstata e quer anular ou diminuir a sua probabilidade de morrer de um, deve fazer o rastreio. Ao contrário do que é crença comum, os exames de rastreio são simples: uma análise a uma amostra de sangue e um exame digital da próstata. O exame é feito através do reto, não porque lá se encontre a próstata, mas porque este órgão está literalmente encostado ao reto. Como este tem uma espessura de milímetros, é possível palpar a próstata por aquele meio. O toque é desconfortável mas não doloroso e pode dar só por si uma suspeita suficientemente forte para indicar biópsia, mesmo sem a análise.
Estes dois atos tão simples podem significar para si uma vida livre de uma doença que, nas suas fases adiantadas, causa sofrimentos múltiplos com as manifestações da doença, locais e à distância, e com os efeitos adversos dos tratamentos.
Mais, estes atos são habitualmente enquadrados numa abordagem mais lata da nossa função sexual e miccional, cuja preservação é fundamental para um envelhecimento saudável e com qualidade de vida.
Esta é uma doença que faz parte da história da Couto, S.A. A forma como tal acontece foi o que nos contou a administradora, Alexandra Matos Gomes da Silva, revelando o que levou a marca a estabelecer uma parceria com a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata e que deu origem à campanha “Próstata sem tabus”. Esta uma campanha de sensibilização que tem como objetivo trabalhar na prevenção desta doença através da consciencialização do grande público para a importância do diagnóstico atempado, uma vez que a deteção precoce pode fazer toda a diferença no curso da doença e no sucesso do tratamento.
Já passaram 105 anos desde que Alberto Ferreira do Couto e Alfredo Barbeitos Flores tomaram conta do negócio da farmácia Higiénica, a 26 de junho de 1918. Rapidamente deram uma reviravolta ao negócio, começando pelo nome, que passou a Flores & Couto, publicitando a sua Emulsão Flores, que na altura era produzida com um dos preparados mais importantes da medicina. Passados 13 anos, dá-se uma nova mudança e o nome da farmácia passa a ser Couto, e, em 1932, a marca lança a Pasta Medicinal Couto, que se tornou desde logo o verdadeiro símbolo da marca e que, ao longo de um século, se tornou num produto icónico em Portugal. «Temos sempre mantido o legado familiar e os valores, que nos têm acompanhado de ano para ano. Somos uma empresa orgulhosa de ser portuguesa, privilegiamos a qualidade dos nossos produtos e mantemo-nos sempre fiéis à nossa identidade única. Acreditamos em cuidar dos nossos clientes com carinho e respeito, criando relações próximas em que ouvimos muito o seu feedback. Na verdade, a pasta Couto com flúor nasce precisamente de ouvirmos os pedidos dos nossos clientes» afirma Alexandra Matos Gomes da Silva administradora da empresa. Uma marca que merece a confiança dos portugueses há 105 anos tem alguma responsabilidade em ações de apoio à comunidade em que está inserida, refere. «Além da empresa Couto, S.A., o meu marido criou a Fundação Couto, para dar apoio a crianças mais necessitadas por meio de uma creche, apoio pré-escolar e um centro de atividades de tempos livres, onde as crianças podem aprender e desenvolver as capacidades necessárias para um futuro melhor. Este projeto era a sua grande paixão, mas a nossa responsabilidade não cessa aqui. E como empresa, quisemos também contribuir de forma ativa para outras causas e, este ano, escolhemos uma que nos diz muito, pois o meu marido teve afeções da próstata durante muitos anos», revela Alexandra Matos Gomes da Silva.
É no âmbito dessa preocupação que surge a colaboração com a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata?
Precisamente. O desafio que lançámos à Associação Portuguesa de Doentes da Próstata para criar a campanha solidária “Próstata Sem Tabus” partiu da ligação emocional que temos com a causa. Senti e vi como os tabus e os estigmas com as doenças da próstata impactam, não só os homens, mas a família que os acompanha.
Porque dão especificamente uma maior atenção a este tema, a esta causa?
Enquanto o rastreio das doenças da próstata for tema de chacota entre homens, vai sempre existir este tabu, quando muitas pessoas ainda não sabem que o primeiro exame apenas implica uma análise do sangue. É um primeiro passo, que pode salvar vidas, pois se detetado a tempo, o cancro da próstata pode ter até 95% de taxa de sobrevivência.
Tão importante como o rastreio é eliminar os tabus sobre o próprio exame, concorda?
Concordo, totalmente. E essa é a nossa maior missão e objetivo com esta campanha: informar e desmistificar. Mesmo as verbas que vamos angariar com a venda dos produtos de cuidado da barba são para depois a associação poder continuar o seu trabalho neste sentido.
Na sua opinião qual a causa de esse tabu ainda existi
Além de mexer com muitas inseguranças dos homens, que os afetam a um nível íntimo, na minha opinião, tem que ver com o facto de não se falar disto. Esconde-se, as pessoas têm vergonha de falar, penso que há um certo receio de se sentirem “emasculados” e, por isso, esconde-se. E quanto mais se esconde, mais se perpetua a desinformação, o adiamento dos exames de rotina, porque geram medo, ansiedade e também algum pudor social.
“No-Shave November”, em que se materializa este lema?
É um movimento internacional criado para aumentar a consciencialização, em que se aceita o não cortar o cabelo ou pelos, que muitos doentes oncológicos perdem, deixando-os crescer livremente. A nível global, há várias iniciativas que estão a ser desenvolvidas sob este mote com o intuito de educar sobre a prevenção do cancro, para salvar vidas e ajudar aqueles que estão a travar esta batalha.
Como nasceu o “Próstata Sem Tabus”?
O cancro da próstata e, principalmente, o rastreio das doenças da próstata, são temas tabu para os homens, e nós, conhecendo a importância do rastreio atempado, sentimos que é nossa missão deixar os outros conscientes e atentos à sua saúde. Nasce assim a campanha “Próstata Sem Tabus”, que visa salientar a importância do rastreio atempado da doença e ajudar a desmistificar todo o estigma que existe em torno deste tema. É importante que todos saibam que o primeiro exame para despistar doenças da próstata – o teste PSA – é feito com uma simples análise ao sangue. Não há motivos para adiar, é preciso que se fale disto para que se comecem a quebrar os tabus.
De que forma vai a Couto concretizar a sua participação na campanha “Próstata Sem Tabus”?
No final da campanha, a Couto irá doar 10% das vendas efetuadas de 1 a 30 de novembro, dos produtos de cuidado da barba e do coffret “Próstata Sem Tabus” à Associação Portuguesa de Doentes da Próstata, para que possam continuar a cumprir a sua missão de informar e apoiar quem os procura.
Em que vão ser aplicados os fundos angariados com a campanha “Próstata Sem Tabus”?
Os fundos angariados através da campanha “Próstata Sem Tabus” serão entregues à Associação Portuguesa de Doentes da Próstata, para que possam continuar a sua missão de informar, apoiar e prestar auxílio aos doentes e às famílias.
Enquanto mulher de um doente de doença da próstata que alerta gostaria de deixar a todas as mulheres que nos leem?
Informem maridos, pais, irmãos, parceiros, amigos sobre a importância do rastreio atempado e expliquem que a primeira linha de diagnóstico é um “simples” exame ao sangue, que não difere muito de ir fazer análises ao colesterol, por exemplo. É importante estar alerta, porque a taxa de sucesso do tratamento das doenças da próstata, mas sobretudo do cancro da próstata, é geralmente alta, principalmente quando detetado precocemente. Pode fazer toda a diferença! Não deixem que um tabu se transforme em arrependimento. Vamos falar sobre isto!
Depoimento de José Graça Guimarães Gonçalves, vice-presidente da Associação Portuguesa de Doentes da Próstata.
A Associação Portuguesa de Doentes da Próstata surgiu em junho de 2003, e a sua missão é sensibilizar os homens para a necessidade de um exame periódico da próstata a partir dos 45/50 anos de idade, uma vez que a prevenção precoce é crucial na deteção e tratamento com sucesso do cancro da próstata.
«Atuamos em diversos planos, tais como a divulgação da necessidade do rastreio atempado como modo de prevenção, oferecemos apoio aos doentes e familiares, insistimos junto das entidades governamentais responsáveis pela saúde, de forma a promover e a divulgar ações que alertem para o rastreio do cancro da próstata, estabelecemos e desenvolvemos parcerias com vários organismos relacionados com as doenças da próstata, como a Associação Portuguesa de Urologia ou a Sociedade Portuguesa de Oncologia, e somos filiados na Europa Uomo, que é uma associação europeia, para que se implantem em Portugal os benefícios a que têm acesso os doentes da próstata à escala europeia», afirma José Graça Guimarães Gonçalves, vice-presidente da Associação Portuguesa de Doentes da Próstata. Para o reponsável, «as associações de doentes desempenham um papel vital no apoio, educação, defesa e promoção da melhoria contínua dos cuidados de saúde para aqueles que vivem com problemas médicos muitas vezes difíceis e específicos».