“Para prevenir a doença, os portugueses devem adotar comportamentos saudáveis e aderir às medidas de rastreio ou de diagnóstico precoce, designadamente conhecendo se pertencem a grupos de risco”, sublinhou o diretor do Departamento de Medicina do IPO do Porto, Mário Dinis Ribeiro.
De acordo com os dados mais atualizados do Registo Oncológico Nacional (RON), referentes a 2020, o cancro digestivo representa 25% da incidência global do cancro e 35% de todas as mortes relacionadas com o cancro.
Em Portugal, estima-se que até 2050 a incidência de cancro digestivo aumente 25%.
Em declarações à agência Lusa, e em antecipação do ‘Cancro Digestivo – Abordagens Atuais e Futuras Centradas na Prevenção’ que decorre segunda-feira no IPO do Porto, o gastrenterologista referiu que o cancro digestivo “tem registado aumento nos últimos anos”.
Em causa está uma doença que representa aproximadamente 12% da mortalidade portuguesa e agrega os tipos de cancro do cólon e do reto, estômago, fígado, pâncreas e esófago.
Na região Norte, em particular, a maior incidência reflete-se no cancro do estômago, não existindo, no entanto, “uma explicação certa ou única”, disse o especialista.
“Pode estar associado a fatores genéticos e hábitos alimentares muito próprios do Norte. É um facto, mas não se consegue dizer porquê”, referiu Mário Dinis Ribeiro, sublinhando sempre a importância da prevenção.
“Não fumar, praticar exercício físico, não consumir álcool, fazer uma dieta saudável, ou seja pobre em sal e evitando as carnes vermelhas e as carnes fumadas, aderir aos programas de rastreios e à mínima queixa ou suspeita procurar o médio assistente”, frisou.
Questionado sobre os programas de rastreio, Mário Dinis Ribeiro explicou que só existe um definido, o do intestino grosso, e que há a sugestão da União Europeia para se explorar programas piloto para o cancro do estômago.
“Não há demonstração de custo/benefício, de uma perspetiva social, para rastreios ao esófago, pâncreas e fígado. Portanto, as pessoas que têm fatores de risco acrescidos devem fazer despistagem específica nesses campos. Mas, para o intestino grosso, a mensagem fundamental é: adiram, façam. O cancro do intestino grosso representa uma em cada 20 mortes portuguesas”, apontou.
Igual apelo faz o presidente da Europacolon Portugal, Vítor Neves, que lamenta que “um problema de saúde pública gravíssimo em Portugal não esteja a merecer o apoio e cuidado e dos decisores políticos”.
“Têm de colocar instrumentos de prevenção de forma inteligente ao dispor dos cidadãos. Os números estão a crescer. E temos de aproveitar o interesse europeu na saúde oncológica. Temos de esquecer o passado, olhar para o futuro e arranjar as medidas para que o rastreio do cancro do intestino se implemente no país de uma forma igual e que hajam tratamentos disponíveis para o tratamento dos casos positivos. Em suma vontade de que não morram 24 pessoas por dia com esta doença”, disse Vítor Neves.
À Lusa, o presidente da Europacolon Portugal destacou, ainda, o papel das unidades de cuidados de saúde primários e dos médicos de família e defendeu o aumento da comunicação com uma linguagem descodificada.
A Europacolon Portugal dedica-se à luta pelos direitos dos doentes, à promoção de um acesso equitativo e rápido a tratamentos avançados, à busca pela melhoria da qualidade de vida dos pacientes e à procura da implementação dos rastreios de base populacional disponíveis.
A iniciativa de segunda-feira, que é pública e não carece de inscrição prévia, dirige-se a especialistas, não especialistas, doentes, familiares, cuidadores, sobreviventes, e população em geral.
Lusa