A missão da Operação Nariz Vermelho é levar alegria às crianças hospitalizadas, aos seus familiares e acompanhantes e aos profissionais de saúde através da arte dos Doutores Palhaços. Estivemos à conversa com Anabela Possidónio, diretora-geral da Operação Nariz Vermelho, para perceber os desafios que se colocam à efetivação da missão da organização.
Como surgiu a Operação Nariz Vermelho e o que incentivou a sua criação?
A Operação Nariz Vermelho (ONV) nasce em 2002 com Beatriz Quintella, a “Dr.ª da Graça”, que tinha o sonho de levar alegria, através da arte do palhaço, a quem mais precisa dela: as crianças que estão hospitalizadas, longe das suas casas, famílias, amigos, do seu espaço natural e num ambiente muitas vezes complexo e assustador como pode ser um hospital.
Na altura, ainda não havia nada parecido cá em Portugal, por isso a Beatriz dirigiu-se ao Hospital D. Estefânia e propôs levar a sua “Dr.ª da Graça” até às crianças, para as ajudar a perder o medo e ansiedade e transformar com humor o ambiente hospitalar. Trabalhou oito anos sozinha e como voluntária, até tornar o trabalho oficial com a ONV. Em setembro de 2001 convidou dois amigos, Bárbara Ramos Dias e Mark Mekelburg, para se juntarem a ela, e graças a uma generosa contribuição de um parceiro, o projeto profissionalizou-se e estabeleceu-se oficialmente em 2002 nos hospitais de Santa Maria, D. Estefânia e Instituto Português de Oncologia – IPO de Lisboa.
Hoje, qual é a missão e em que alicerces se baseia a vossa ação?
Esta missão é levada a cabo por uma equipa de artistas profissionais, com formação específica para atuar em contexto hospitalar. A arte do Palhaço baseia-se no improviso, pois não há duas crianças iguais e, por isso, cada brincadeira e interação dos Doutores Palhaços com elas também é única e irrepetível. No entanto, e embora se adaptem ao sabor de cada instante e da condução do jogo feita pelas crianças, os artistas treinam e preparam-se em conjunto, partilhando um reportório de músicas, danças e jogos que podem utilizar em determinadas interações.
De que forma e onde levam a cabo as vossas atividades?
Os Doutores Palhaços visitam os hospitais em duplas fixas, isto é, durante seis meses uma dupla visita um determinado hospital uma ou duas vezes por semana, dependendo do número de serviços e de crianças a visitar. Este modelo permite estabelecer laços fortes de cooperação com as equipas de restantes profissionais hospitalares e também com as crianças que visitam e os seus acompanhantes.
Vão a pedido e solicitação ou propões vocês as ações a implementar?
A ONV atua no seio dos hospitais e serviços pediátricos e são raras as vezes que retiramos os Doutores Palhaços dos hospitais, já que, afinal, angariamos fundos junto da comunidade precisamente para conseguir que eles lá estejam. Por isso, quando participam num evento fora do hospital, tal acontece por ser um momento institucional. A génese do nosso trabalho é o encontro entre Palhaço e Criança no Hospital, em visitas semanais ou bi-semanais. No entanto, existem ao longo do ano momentos em que os artistas podem atuar fora deste âmbito, seja em ações com parceiros e empresas que se associam à nossa causa, seja em eventos ou iniciativas promovidas pela ONV para angariar fundos ou promover a notoriedade e reconhecimento da sua Missão junto do grande público.
Quantos colaboradores têm hoje?
A ONV conta com uma equipa artística (os Doutores Palhaços) de 34 elementos e, no escritório, mais 16 elementos que trabalham áreas como Comunicação e Marketing, Eventos, Merchandising, Angariação de Fundos e Relação com os Doadores, Relação Hospitalar, Recursos Gerais e Centro de Estudos e Pesquisa.
É esta uma ação de voluntariado?
Não. A ONV é uma instituição de solidariedade social, oferece aos hospitais as visitas dos Doutores Palhaços e, uma vez que não recebe qualquer apoio do Estado, financia-se junto da comunidade, através de diversas campanhas e fontes de angariação de fundos. Toda a equipa é profissional e remunerada, incluindo os artistas, recorrendo a ONV a voluntários apenas para momentos muito específicos nos quais à necessidade da participação dos mesmos.
De que forma podem os portuguese contribuir e ajudar?
Toda e qualquer ajuda à nossa causa é muito bem-vinda e os portugueses têm várias formas de nos apoiar: seja através da consignação do seu IRS ou da participação nas campanhas anuais de angariação de fundos que temos, como o Dia do Nariz Vermelho ou a campanha de Natal, ou organizando eventos que revertam para nós, ou, por fim, tornando-se doadores regulares e escolhendo doar mensalmente um valor monetário para ajudar à sustentabilidade da nossa missão.
Qual é a maior realização para os vossos colaboradores?
Penso que esta opinião que vou dar é partilhada pela equipa inteira da ONV: a nossa maior realização é recebermos o feedback das crianças, dos pais e dos profissionais hospitalares após receberem uma visita dos Doutores Palhaços e ouvi-los dizer que a passagem deles transformou o ambiente do hospital e tornou os seus dias mais leves e agradáveis. Sentir que fazemos a diferença na vida destas crianças e também dos adultos em redor delas é o nosso objetivo máximo e sentir que o alcançamos faz-nos sentir muito gratos e realizados.
Há nisso um sentimento de partilha e felicidade?
Sim, há, sem dúvida, um sentimento de partilha e felicidade por transformarmos a experiência de uma criança que está internada ou de passagem pelo hospital num momento menos assustador, mais harmónico, mais leve. Podermos fazê-la sentir-se bem, animá-la, fazê-la sorrir ou até soltar uma gargalhada é o melhor prémio que podemos receber todos os dias, e toda a equipa partilha essa alegria.
Como se pode ser colaborador da Operação Nariz Vermelho?
Tanto para a equipa do escritório como para a equipa artística, a entrada de novos membros acontece quando surge necessidade de reforçar as áreas e é anunciada nas plataformas habituais para o efeito, sendo que surgem igualmente no nosso site, www.narizvermelho.pt, e no nosso LinkedIn.
Quais são hoje os vossos maiores desafios?
Assegurar que conseguimos os fundos necessários para a sustentabilidade da nossa associação. Uma vez que não temos apoios do Estado e
refazemos do zero o nosso orçamento todos os anos, nunca tomamos nada por garantido e trabalhamos – seja nas campanhas de comunicação e marketing, seja na divulgação do nosso trabalho na rua, através das nossas equipas Face to Face – para que cada vez mais pessoas saibam aquilo que fazemos e saibam as formas que têm ao seu dispor para nos apoiar. Porque nada disto seria possível sem o reconhecimento e apoio constante que a comunidade nos tem vindo a dar e que nos permitiu crescer, nestes últimos 20 anos, até ao ponto onde estamos hoje.
E de que forma encara a vossa organização o futuro?
Encaramos com muita esperança e empenho, e sempre com o compromisso de tudo fazer para assegurar a nossa presença nos hospitais e junto das crianças. O nosso sonho é poder, um dia, estar em todas as pediatrias dos hospitais públicos do país, e trabalhamos diariamente para o alcançar.
Ainda não conseguimos cumprir a nossa Missão de chegar a todas as crianças hospitalizadas. Para tal, precisamos de continuar a reforçar a nossa equipa e a angariar mais fundos, ano após ano, para garantir que continuamos presentes nos serviços e hospitais que já visitamos, além dos novos onde queremos chegar, e também que mantemos uma equipa estável e empenhada na continuidade da Missão.