Todos os anos, o Eurostat, a agência oficial de estatísticas da UE, mede o grau de satisfação com a vida de uma amostra da população de cada Estado Membro. Esta escala vai de zero – insatisfação absoluta – a dez – o que significa que as coisas não poderiam estar a correr melhor. A Áustria está no topo da tabela. Portugal surge em 20.º lugar, atrás de países como Itália (14.º), Espanha (17.º) e França (19.º).
A analise da felicidade é complexa, depende de vários fatores pessoais, contextuais, e até genéticos: a saúde física e psicológica, a perceção de bem-estar, a educação, a satisfação financeira, o contexto familiar e social, etc. Como refere Cláudia Adão, Diretora-Geral e psicóloga da Integral Saúde Mental “em Portugal tendemos para um ‘vamos andando’. Somos um povo que se por um lado não vive nem expressa a felicidade, por outro também não nos atrevemos a expressarmos infelicidade porque “há quem esteja pior”. Há uma espécie de “fado” cultural enraizado na nossa rotina: tristes perante as dificuldades da vida, mas com esperança”.
A felicidade é em si uma emoção que não se escolhe, não se compra. A felicidade sente-se, estimula-se, potencia-se e aprende-se através da prática de algumas competências emocionais como a gratidão pelas pequenas grandes coisas da vida, a (auto)compaixão, a empatia, o perdão e a aceitação de que todas as emoções fazem parte da minha existência, do meu contrato com a vida. As emoções são como os estados do tempo: eu não as controlo, mas posso controlar a forma como as vivencio. Se for de forma positiva e resiliente, conseguirei ser feliz, faça chuva ou faça sol.
E como podemos ser mais felizes? No dia em que se assinala a felicidade no mundo, a especialista deixa dicas “cuidar da saúde mental, cuidar da saúde psicológica, é tão importante como cuidar da saúde física. Claro que não é possível ser-se feliz a toda a hora, mas é possível termos muitas horas felizes. Com inspiração no movimento da Psicologia Positiva (que assenta na premissa de que para ser feliz, não preciso de corrigir o que está mal mas identificar e fortalecer o que está bem) somos convidados/as a percorrer as 5 dimensões defendidas por Martin Seligman:
- Emoções positivas: incluem não apenas felicidade, mas também esperança, interesse, alegria, amor, compaixão, orgulho, diversão e gratidão. Ser feliz e ter saúde mental é aprender a lidar de forma saudável e construtiva com todas as outras emoções mesmo as mais difíceis (tristeza, medo, raiva, frustração…).
- Envolvimento: capacidade de me envolver positiva e ativamente nas tarefas vivendo no momento presente com uma sensação de energia, prazer e foco total que nem dou pelo tempo passar.
- Relações positivas: capacidade de gerir as minhas relações interpessoais de modo construtivo, de modo a sentir-me apoiado/a, amado/a e valorizado/a pelos outros. Além disso, responder entusiasticamente aos outros, investir nas relações o que pode passar por se inscrever em workshops/cursos, fazer voluntariado ou procurar conhecer melhor as pessoas próximas, mantendo em mente que as relações são mais importantes do que as soluções.
- Significado: a busca por significado, por um propósito na vida ajuda-nos a focar no que é realmente importante quando perante desafios ou adversidades. Este significado pode ser encontrado na profissão, numa causa social ou política, numa crença religiosa/espiritual, mas sempre alinhado com os meus valores. As pessoas que relatam ter um propósito na vida vivem mais tempo, têm maior satisfação de vida e enfrentam menos problemas de saúde (Kashdan et al., 2009);
- Realização: relacionada com a autodeterminação e persistência na prossecução de objetivos. Este sentido de realização resulta do esforço e do trabalho em direção a metas, o que contribui para o bem-estar na medida em que posso olhar para a minha vida com um sentimento de orgulho.