O “primeiro passo” é dado hoje com a assinatura de um protocolo entre a OM e a Coordenação Nacional das Políticas numa sessão de debate sobre “Saúde mental e bem-estar dos médicos no local de trabalho”, em Lisboa, a propósito do Dia Mundial da Saúde de Mental (10 de outubro).
O bastonário disse à Lusa que a OM vai aproveitar esta data para debater uma questão que será motivo de reflexão em todo o mundo: “A priorização da saúde mental no local de trabalho”.
Segundo Carlos Cortes, esta questão tem “preocupado muito” a OM, que tem desenvolvido neste mandato “um conjunto de iniciativas”, e está a programar outras, para ajudar os médicos nas mais diversas áreas, como, por exemplo, na da solidariedade.
“Já tirámos médicos indigentes que viviam em tendas em Lisboa”, enfatizou, apontando outros apoios, como o jurídico, no âmbito dos conselhos disciplinares em processos de mediação.
A violência contra os profissionais de saúde, nomeadamente sobre os médicos, que tem “aumentado substancialmente, não só em Portugal, mas em todo o mundo”, também tem merecido a atenção da Ordem.
“O descontentamento que existe em relação à prestação dos cuidados de saúde faz com que muita gente acabe por descarregar e por responsabilizar os profissionais de saúde”, lamentou.
Dados da DGS apontam que, em 2023, foram registados mais de 2.100 casos de violência contra profissionais de saúde, uma média de seis agressões diárias, o equivalente a 3.200 dias de ausência ao trabalho.
Um quarto dos profissionais de saúde queixa-se ainda de ter sofrido pelo menos um episódio de violência física ou psicológica nesse ano.
Segundo o Gabinete de Segurança do Ministério da Saúde, os episódios de violência contra profissionais de saúde aumentaram mais de 56% entre 2021 e 2023.
O bastonário alertou também para os níveis de ‘burnout’ na classe, afirmando que os dados de Portugal “são sobreponíveis aos dados internacionais, em que mais de metade dos médicos, sensivelmente”, sofre deste problema, sobretudo os médicos em formação.
Os médicos internos têm um “programa de formação muito exigente” e são, por vezes, utilizados de “forma indevida” para colmatar falhas de recursos humanos nos hospitais ou em qualquer instituição de saúde.
Referiu a este propósito uma notícia do Diário de Notícias, segundo a qual os médicos fizeram quase dois milhões de horas extraordinárias no verão para assegurar as urgências, considerando este número “absurdamente assustador”.
“É evidente que isto tem impacto sobre a qualidade de vida das pessoas, sobre o seu bem-estar e sobre a sua saúde”, criticou.
Por todas estas razões, OM decidiu focar-se no que acontece aos médicos no local de trabalho, nomeadamente “no caos” que se vive no Serviço Nacional de Saúde, que “não é de agora”, mas que tem vindo a intensificar-se nos últimos anos.
“Ao contrário do que provavelmente algumas pessoas pensam, os médicos são pessoas como as outras. Têm problemas de saúde, têm famílias, são pessoas que se cansam, que, às vezes, têm dificuldades e muitas vezes o próprio poder político acha que os médicos têm capacidades acima das outras pessoas. Ora não tem”, declarou.
O bastonário defendeu que é necessário dar-lhes “condições adequadas de trabalho”, valorizá-los e reconhecer o seu papel e o seu esforço, o que a OM vai fazer através de um conjunto de iniciativas que irá apresentar junto do poder político, do Ministério da Saúde e da Assembleia da República.
A OM irá propor alterações a algumas leis ligadas às condições de trabalho, para poder proporcionar “um ambiente mais saudável, mais adequado para os médicos poderem continuar a desenvolver a sua atividade da melhor forma possível para os seus doentes”.
HN // FPA
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