Os lobos, tal como os cães, podem diferenciar as vozes humanas que lhes são familiares das desconhecidas, refere um estudo que pode ter implicações mais amplas, sobre as interações entre espécies diferentes, avança a Lusa.
A hipótese dominante durante muito tempo foi que a capacidade dos cães de distinguir vozes humanas se explicava pela criação seletiva de canídeos, domesticados ao longo dos séculos.
Para questionar esta teoria, 24 lobos cinzentos, machos e fêmeas, de cinco zoológicos e parques da Espanha, participaram num estudo realizado por uma equipa de investigação, que incluiu a Holly Root-Gutteridge, da Universidade de Lincoln (Inglaterra), coautora da publicação divulgada esta semana na revista Animal Cognition.
A equipa instalou altifalantes perto dos lobos. Primeiro, foram transmitidas as vozes de estranhos para habituá-los a não se preocuparem com estas. Depois, foi transmitida a voz do seu cuidador, com comentários familiares, como “Olá meus pequenos, como vocês estão?”
A esses sons, os lobos levantaram as suas cabeças, ficaram com suas orelhas em pé, e viraram-se para o altifalante, tal como os cães fariam.
As vozes desconhecidas depois repetidas não chamaram a sua atenção. E mesmo que o cuidador dissesse algo diferente das instruções habituais, os lobos reconheceram a sua voz e continuaram a reagir.
O estudo permite, portanto, estabelecer que os canídeos selvagens conseguem distinguir as vozes humanas, destacou Holly Root-Gutteridge à agência France-Presse (AFP).
Algumas investigações já tinham sido realizadas sobre este tema, sendo que os cientistas apontam que os gorilas, os nossos parentes mais próximos, são capazes de ouvir os humanos.
Também foi demonstrado que os elefantes podem distinguir entre vozes com base no género, idade e até etnia do falante.
Em particular, estes animais têm mais medo de vozes masculinas do que de mulheres ou crianças.
Este novo estudo demonstra, portanto, que “há de facto uma boa hipótese de que muitas espécies estejam a ouvir os humanos e a distinguí-los como indivíduos”, realçou a cientista.
De acordo como Holly Root-Gutteridge, esta característica não acontece apenas com humanos, pois os cães conseguem diferenciar os miados de vários gatos, por exemplo.
“Se estas habilidades são tão difundidas, isso significa que os animais podem ter muito mais interações entre espécies diferentes do que se pensava anteriormente”, sublinhou.