O anúncio da Johnson & Johnson relativo ao fim da comercialização do seu pó de talco em 2023 veio relançar a dúvida: o pó de talco causa ou não cancro de ovário? A polémica remonta a 2018, quando a marca foi condenada a indemnizar, em 4 mil milhões de euros, 22 mulheres que se queixaram de ter desenvolvido cancro nos ovários por usarem pó de talco, refere a DecoProteste.
Algumas mulheres usam pó de talco na vulva (área genital externa) por questões de higiene, e esta prática tem sido associada ao cancro do ovário, afirma a DecoProteste.
Agora, após uma análise exaustiva da literatura científica disponível, um grupo de trabalho da Organização Mundial da Saúde, constituído por 29 peritos internacionais, classificou o talco como “provavelmente cancerígeno” para os seres humanos. De acordo com a investigação, esta classificação foi feita com base numa combinação de “evidências limitadas de cancro em seres humanos (para o cancro do ovário)”, “provas suficientes de cancro em animais” e “fortes evidências mecanicistas [processo pelo qual uma substância produz efeito num organismo] de que o talco apresenta características-chave de agentes cancerígenos em células primárias humanas e sistemas experimentais”.
Talco é “provavelmente cancerígeno”
Após esta investigação, a Organização Mundial da Saúde classificou o talco no nível 2A, o segundo nível mais elevado de risco de que uma substância possa causar cancro. De acordo com a OMS, os vários estudos realizados demonstraram consistentemente um aumento da incidência de cancro do ovário em seres humanos que declararam ter utilizado pó de talco na região perineal. E, embora a análise se tenha centrado em pó de talco que não continha amianto, não foi possível excluir a contaminação do talco com amianto na maior parte dos estudos. Além disso, não foi possível excluir, com razoável confiança, a existência de enviesamento na forma como a utilização de talco foi comunicada nos estudos, o que significa que não foi possível também estabelecer plenamente a existência de uma relação causa-efeito.
Apesar disso, os estudos realizados em animais demonstraram que a utilização de talco provocou um aumento da incidência de neoplasias (tumores) malignas nas fêmeas e uma combinação de neoplasias benignas e malignas nos machos de uma única espécie (rato).
Os principais fatores de risco para o cancro do ovário são a idade (a incidência aumenta com a idade, ocorrendo a maioria dos casos após a menopausa), a predisposição genética e os fatores reprodutivos e endócrinos, como nuliparidade (nunca ter dado à luz) ou condições que afetem o útero, como a endometriose. Outros fatores de risco podem incluir excesso de peso ou obesidade e tabagismo.
Quais os sintomas do cancro do ovário?
A sintomatologia do cancro do ovário não é específica ou é mesmo ausente numa fase inicial. Nessa altura, o seu diagnóstico ocorre, habitualmente, aquando da realização de um exame ginecológico de rotina ou na investigação clínica e/ou radiológica de uma dor pélvica. Os sintomas surgem de forma inespecífica, seja sob a forma de sintomas do foro gastrointestinal, tais como náuseas, enfartamento, diarreia/obstipação, etc., seja como sintomas do foro urológico, como polaquiúria (frequência urinária aumentada) e urgência miccional. Não menos frequentemente, surgem sintomas como sensação de peso e/ou dor pélvica. Sangramentos fora do período menstrual (metrorragias) e alterações do ciclo menstrual também podem ocorrer.
Como posso substituir o pó de talco?
Não é necessário usar pó de talco ou outro produto na vulva por razões de higiene. O uso de produtos perfumados pode causar irritação na pele sensível. Lavar a zona com água é suficiente.