Durante décadas, a ciência tem vivido dividida entre dois mundos: a mecânica quântica, que explica o comportamento do muito pequeno, e a relatividade geral, que descreve o funcionamento do muito grande. Agora, uma nova e ousada teoria propõe um caminho diferente e começa por reinventar o tempo.
Um geofísico da Universidade do Alasca acredita que o tempo não é uma linha contínua, mas sim um tecido tridimensional que sustenta tudo o que existe. A sua teoria poderá resolver um dos maiores dilemas da física moderna: unir o mundo quântico ao cosmos.
A proposta foi apresentada por Gunther Kletetschka, investigador da Universidade do Alasca em Fairbanks, e publicada na revista Reports in Advances of Physical Science, em maio de 2024. Segundo o artigo, o tempo poderá não ser uma dimensão única, como se assumia até agora, mas sim um fenómeno tridimensional que opera em paralelo com as três dimensões do espaço.
Em vez de quatro dimensões (três espaciais e uma temporal), o Universo seria composto por seis dimensões fundamentais, com três dimensões temporais independentes mas interligadas. Esta estrutura poderá permitir a tão procurada unificação entre a teoria da relatividade geral de Einstein e as leis da mecânica quântica, que até hoje permanecem incompatíveis.
O tempo como tela, o espaço como tinta
De acordo com o estudo, cada uma das três dimensões temporais atua a uma escala diferente. A primeira rege os fenómenos quânticos, onde os eventos ocorrem quase instantaneamente. A segunda corresponde ao tempo que vivemos no quotidiano, com o seu ritmo previsível. E a terceira atua à escala cósmica, onde processos como a formação de galáxias se desenrolam ao longo de milénios.
“O tempo em três dimensões torna-se a tela do Universo”, afirma Gunther Kletetschka no artigo. “O espaço, com as suas três dimensões familiares, é mais como a tinta sobre essa tela”.
Ao tratar o tempo como tridimensional e ortogonal, a teoria oferece uma forma de conciliar a causalidade com fenómenos que hoje desafiam a nossa compreensão, como o entrelaçamento quântico ou a curvatura extrema do espaço-tempo junto a buracos negros.
Embora a ideia de um tempo tridimensional não seja totalmente nova, os modelos anteriores não tinham relevância empírica. O que distingue esta proposta, segundo Kletetschka, é o facto de a formulação matemática reproduzir dados físicos reais.
Mais a teoria prevê valores para as massas dos neutrinos – ainda desconhecidos com exatidão – e pequenas variações na velocidade das ondas gravitacionais, fenómenos que poderão ser verificados em futuras experiências científicas.
O estudo, intitulado «Time Has Three Dimensions – A Proposal for a 3+3 Spacetime Framework to Unify Gravity and Quantum Field Interactions», foi avaliado pelos pares e encontra-se publicado na Reports in Advances of Physical Science, Volume 3, Número 2. A divulgação internacional da teoria foi feita pelo portal Science Alert, que destacou o potencial transformador do modelo.
Se for confirmada por observação e experiência, esta proposta poderá representar um passo decisivo na busca de uma Teoria de Tudo, capaz de descrever, numa única estrutura matemática, tanto os fenómenos quânticos como a dinâmica do cosmos. Por agora, permanece uma teoria arrojada, mas já cumpre um requisito fundamental da ciência: faz previsões concretas e testáveis.