Um novo estudo publicado na Science Advances confirma que os primeiros humanos chegaram à América do Norte há cerca de 23 mil anos, muito antes do que se pensava. As provas vêm de pegadas antigas descobertas no Parque Nacional de White Sands, no Novo México, cuja datação por radiocarbono volta a apontar para um período anterior à última Idade do Gelo.
As pegadas foram inicialmente identificadas em 2019, impressas em solo argiloso rico em gesso. Na altura, os investigadores dataram sementes e pólen encontrados nas camadas próximas das pegadas, estimando uma idade entre 21 mil e 23 mil anos. No entanto, a comunidade científica reagiu com cepticismo: muitos especialistas questionaram a fiabilidade dos materiais usados, alegando que poderiam ter sido deslocados no solo, comprometendo a validade dos resultados.
Agora, para resolver o impasse, os cientistas recorreram a um método alternativo: analisaram diretamente a lama antiga que envolveu as pegadas humanas. Os novos resultados, com idades entre 20.700 e 22.400 anos, não só confirmam as estimativas anteriores como reforçam a ideia de que os humanos já ocupavam o continente muito antes da cultura Clovis, até agora considerada a mais antiga das Américas, com cerca de 13 mil anos.
Ao todo, os investigadores realizaram 55 testes de radiocarbono sobre três materiais diferentes: sementes, pólen e sedimentos. E todos forneceram datas coerentes. Como sublinha a revista New Atlas, esta consistência dá uma nova robustez às conclusões iniciais e redefine a cronologia da chegada humana ao continente americano.
Apesar da confirmação da antiguidade das pegadas, continua por explicar porque não foram ainda encontrados vestígios materiais deixados pelos autores destas marcas, como ferramentas ou acampamentos. Os arqueólogos sugerem que os caçadores-recoletores que as criaram poderão ter estado de passagem, sem deixar artefactos para trás.
A descoberta marca um ponto de viragem no entendimento da pré-história das Américas e mostra que os humanos poderão ter coexistido com megafauna extinta num período de intensas mudanças climáticas — muito antes do que as teorias tradicionais propunham.