A desinformação na área da saúde continua a ser um desafio difícil de contrariar, mesmo quando a verdade é apresentada, nem sempre é suficiente para apagar uma ideia errada. Catarina Santos, investigadora do ISCTE, defende que o segredo pode estar na forma como se comunica a correção: através de frases muito semelhantes às falsas, mas com conteúdo verdadeiro.
“É muito difícil corrigir a desinformação. Uma vez que a informação incorreta é assimilada, tende a ser integrada na memória e encarada como verdadeira”, afirmou Catarina Santos em entrevista à agência Lusa. “A partir desse momento, qualquer tentativa de correção encontra uma barreira, o que reduz significativamente a eficácia das mensagens corretivas.”
A estratégia que a investigadora propõe baseia-se num modelo de semelhança de conteúdo. Um exemplo? Para contrariar a ideia falsa de que “pintar o cabelo durante a gravidez faz mal ao bebé”, a frase correta seria “pintar o cabelo durante a gravidez não faz mal ao bebé”. “São frases muito semelhantes que podem levar o sujeito a pensar que está a reforçar o conhecimento que já tem, quando na verdade está a corrigi-lo”, explica.
As redes sociais como megafone de desinformação
Segundo Catarina Santos, o problema agravou-se com as redes sociais. “Antes, quando alguém dizia na televisão que as vacinas não tinham importância, tratava-se de uma intervenção pontual, com alcance e duração relativamente controlados. Agora basta ter uma conta nas redes sociais para amplificar tudo para um universo quase infinito.”
Embora reconheça o esforço de entidades como a DGS ou a ACSS, a investigadora alerta que “os algoritmos são um problema” e que um dos objetivos da desinformação em saúde é “descredibilizar as instituições, a democracia e a influência ao nível da cidadania”.
Outro tema abordado por Catarina Santos é o da desinformação na estética e no emagrecimento, áreas que considera “altamente lucrativas e particularmente vulneráveis à proliferação de práticas pseudocientíficas”.
A investigadora critica ainda a emissão de cédulas profissionais para terapias complementares sem base científica. “O facto de as pessoas terem uma cédula profissional para trabalhar legitima o trabalho que fazem, mesmo quando esse trabalho não é baseado em conhecimento científico.”
Catarina Santos alerta para a necessidade de maior regulação e de um combate mais eficaz à desinformação em saúde, assente em evidência científica, comunicação inteligente e políticas públicas consistentes.