Vivemos uma era de pais exaustos, divididos entre carreiras exigentes, vida doméstica intensa e uma constante pressão para estar presente a cada segundo. Num contexto em que as exigências da parentalidade aumentaram, mas o tempo disponível não, o tempo de ecrã tornou-se num verdadeiro salva-vidas, ainda que poucos o admitam.
Segundo um novo estudo conduzido pelo Lingokids, plataforma educativa digital, 29% dos pais de crianças entre os 2 e os 8 anos admitem mentir sobre o tempo de ecrã que permitem aos filhos. Mais, 74% dizem sentir culpa por esse mesmo tempo, e 77% já se sentiram julgados por outras pessoas devido às suas decisões digitais.
Cristobal Viedma, fundador do Lingokids, aponta o dedo a uma realidade simples:
“A parentalidade digital ainda é nova. Não há manual. E, por isso, a culpa instala-se.”
A reflexão inspirou a nova campanha da marca, que simula um tribunal real com pais de verdade a serem julgados, não pela decisão de RECORREecrãs, mas por serem demasiado duros consigo próprios. O vídeo tornou-se viral e já conta com quase oito milhões de visualizações no YouTube. A mensagem parece clara, não se trata de demonizar os ecrãs, mas de repensar a sua utilização com intenção e equilíbrio.
O que dizem os especialistas?
A pediatra Dra. Mona Amin concorda que é altura de abandonar a mentalidade do “tudo ou nada”. “Não se trata apenas de quantos minutos estão diante do ecrã, mas sim do que estão a ver, com que propósito e o que estão a perder em troca”, defende, cita o site Bestlife.
A médica destaca sinais de alerta que devem preocupar os pais, uso passivo e sem supervisão, substituição do sono ou da atividade física, e quando o ecrã é usado como solução rápida para birras ou emoções difíceis.
Em vez disso, a especialista propõe seis princípios para uma relação saudável com a tecnologia:
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Evitar ecrãs durante as refeições ou antes de dormir, excepto chamadas em vídeo com a família.
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Assistir com os filhos, promovendo interação e reflexão.
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Estabelecer limites claros, com empatia, para que as regras façam sentido.
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Narrar o próprio uso de tecnologia, para que a criança compreenda e aprenda com o exemplo.
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Preservar o essencial, movimento, sono, brincadeira livre e tempo ao ar livre.
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Reduzir o cansaço visual, com pausas frequentes e uso moderado de dispositivos móveis.
Para a Dra. Mona, a conclusão é simples e tranquilizadora:
“Não se trata de perfeição, mas de conexão. As crianças não precisam de pais perfeitos, disponíveis 24 horas por dia. Precisam de pais sintonizados, que saibam desligar, os ecrãs e as distrações, quando estão juntos”.
Se também já sentiu remorsos por mentir no tempo em que os seus filhos estão frente ao ecrã, a especialista recomenda está na hora de substituir a culpa por conversa e presença, dois elementos que, esses sim, não têm botão de pausa.