Os novos casos de cancro do pulmão aumentaram entre 2018 e 2020, mas a mortalidade estabilizou, evidenciando, segundo o Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR), melhores resultados nos tratamentos, avança a Lusa.
Segundo o 15.º relatório do ONDR, que congrega os principais indicadores da saúde respiratória em Portugal, a mortalidade por cancro do pulmão tem-se mantido estável – com uma pequena variação nos últimos três anos observados: 2018 (4.621), 2019 (4.703)e 2020 (4.609). Já os diagnósticos mostram uma tendência crescente, subindo mais de 15% de 2018 (4.424) para 2019 (5.208).
O ONDR diz que estes valores provam “melhores resultados terapêuticos do cancro do pulmão”, permitindo verificar “o aumento da esperança de vida decorrente do uso das terapêuticas alvo e da imunoterapia”.
Por outro lado, destaca o documento hoje divulgado, há uma “grande variabilidade” nos valores de mortalidade por região, “particularmente evidente entre zonas próximas, como acontece entre a Zona Metropolitana do Porto e Trás-os-Montes”, que o relatório explica com uma menor taxa de diagnósticos por causa da dificuldade de acesso.
O relatório explora também os hábitos tabágicos – o consumo de tabaco continua a ser a principal causa de cancro evitável (responsável por 27% de todos os cancros) -, mostrando que as taxas diminuíram para 17% em 2019 (era 20% em 2014), baixando em ambos os sexos.
“São boas notícias e as suas consequências na saúde respiratória poderão ser uma realidade no futuro mais ou menos próximo, conforme a área patológica a estudar”, refere o observatório.
Contudo, os responsáveis expressam preocupação pelas taxas nas faixas etárias mais jovens (15:24 anos), que ultrapassam os 15%.
“Apesar de tudo, são preocupantes as taxas de fumadores em grupos etários mais baixos”, consideram, sublinhando: “É preocupante o facto de cerca de 50% dos fumadores terem uma carga tabágica diária superior a 10 cigarros”.
Reconhecendo que há muito trabalho a fazer para “interromper a epidemia tabágica”, o ONDR considera urgente “o aumento significativo do preço do tabaco e a elaboração de uma lei antitabaco menos permissiva e mais efetiva”.
De uma forma geral, o relatório aponta para uma “ligeira diminuição da mortalidade” nas doenças respiratórias (de 11.317 óbitos em 2014 para 11.243 em 2020) , uma situação para a qual podem ter contribuído “a diminuição de diagnósticos, por transferência da causa de morte, ou ainda por prevenção [no caso da pneumonia] e tratamento mais eficiente [cancro do pulmão]”, indica.
Aponta, mais uma vez, para o subdiagnóstico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), cujo diagnóstico correto se faz com a espirometria. Segundo os dados divulgados, mais de 50% dos doentes referenciados com DPOC nunca fizeram este exame, que “tem lista de espera e, simplesmente, não está disponível”.
Segundo os dados divulgados, a DPOC foi responsável por 2.656 óbitos em 2020.
No que se refere à tuberculose, num artigo publicado neste relatório da autoria de Inês Ladeira, do Centro de Referência Regional para a Tuberculose Multirresistente CDP de Vila Nova de Gaia, é recordada a tendência decrescente da doença nos últimos cinco anos.
A este nível, a responsável considera que “o rastreio e tratamento preventivo de grupos vulneráveis é uma estratégia fulcral para evitar o aparecimento de novos casos de tuberculose em contexto de baixa incidência”.