A aproximação da meia-idade pode inspirar pavor pois podemos pensar que os melhores anos já passaram. Isto pode levar á famosa crise da meia-idade. A verdade é que a maior parte dos especialistas considera a “crise da meia-idade” um fenómeno cultural, um mito ocidental alimentado por exageros dos meios de comunicação social e das redes socias.
As mudanças que vêm com esta nova fase da vida por vezes trazem algumas emoções mais complexas, mas que não vão obrigatoriamente desencadear uma crise.
O que exatamente é meia-idade?
A meia-idade é geralmente aceite como os anos entre idades dos 40 e dos 60 anos. Mas novos papéis e responsabilidades, sem falar nas mudanças de carreira, da vida familiar e da saúde, podem criar uma perceção de meia-idade antes o grande 4-0. Ou seja, a meia-idade pode ter inicio numa data diferente para cada pessoa.
A noção de “crise da meia-idade” começou com Elliot Jacques, um psicanalista que criou o termo em 1965 após notar mudanças significativas num dos seus doentes de meia-idade.
De acordo com Jacques, a crise suscita sentimentos de depressão, angústia e perda relacionados com a proximidade do fim da vida. Ele também observou que muitas vezes envolvia uma perda de criatividade e confiança.
A transição para a meia-idade costuma envolver outras turbulências emocionais , como:
- declínio da felicidade e satisfação com a vida
- falta de objetivo ou perda de propósito de vida
- dúvida
- frustração com a mudança de papéis e responsabilidades na vida
- tédio e insatisfação com o relacionamento, carreira ou vida em geral
- preocupações sobre a sua aparência e como os outros o percebem
- pensamentos sobre a morte, o significado da vida e outros conceitos existenciais
- mudanças nos níveis de energia, do aumento da inquietação a fadiga incomum
- menos motivação ou interesse em perseguir objetivos e atividades que antes gostava
- mudanças de humor, incluindo raiva , irritabilidade e tristeza
- mudanças no desejo sexual
A cultura popular diz que mulheres e homens experimentam tipos de crise completamente diferentes.
A chamada crise de meia-idade masculina pode envolver carros sofisticados, projetos domésticos inacabados e casos amorosos (ou famílias totalmente novas).
A chamada crise de meia-idade feminina, por outro lado, supostamente envolve choro, diminuição do interesse por sexo e tentativas de se apegar à juventude.
A verdade é que o género não decide automaticamente como a pessoa se vai sentir em relação ao envelhecimento. Qualquer pessoa pode sentir-se angustiada com as mudanças iminentes na saúde, no desejo sexual ou nas funções cerebrais. Os estereótipos binários são limitantes e prejudiciais, principalmente porque excluem qualquer pessoa que não se identifique como homem ou mulher.
Assim, as alterações hormonais relacionadas com a menopausa podem intensificar o desconforto físico e emocional. E, é claro, a sociedade tende a vincular a beleza feminina e a atratividade à juventude. Isso faz com as mulheres de meia-idade sejam frequentemente empurradas para o papel de cuidadoras, e sua sexualidade completamente ignorada.
Muitos especialistas consideram a crise da meia-idade como mais um mito
Os fatores que desencadeiam o sofrimento e a tensão emocional relacionados com a idade podem variar bastante, dependendo de situação e circunstâncias específicas de cada pessoa, mas podemos identificar três estágios:
- O gatilho. Momento de tensão que leva a preocupações com o envelhecimento, perda do propósito de vida ou medo da morte. Os gatilhos comuns incluem perda de emprego, preocupações com a saúde, morte ou doença de um dos pais , mudança de filhos ou sobrecarga diária.
- O período de crise. Normalmente envolve algum exame sobre as dúvidas, relacionamentos, valores e senso de identidade. Se não se gosta do que descobre, a pessoa pode sentir-se perdida e insegura e tentar renovar a sua vida explorando novas paixões, identidades e conexões sexuais ou românticas.
- Resolução. A “crise”, por assim dizer, geralmente termina quando a pessoa se sente mais confortável consigo própria e começa a aceitar, talvez até acolher, o que a vida lhe reserva.