O navio português Nossa Senhora do Cabo, atacado por piratas há mais de 300 anos, foi finalmente identificado submerso na costa da ilha de Nosy Boraha, em Madagáscar, antiga base de piratas durante a Era Dourada da Pirataria.
A descoberta foi anunciada por investigadores do Centro de Preservação de Naufrágios Históricos e publicada na revista Wreckwatch. A equipa, liderada por Brandon Clifford e Mark Agostini, baseou a identificação na análise da estrutura do navio, documentação histórica e artefactos religiosos encontrados no local.
Entre os 3300 artefactos recuperados destacam-se objetos religiosos de marfim e madeira, como uma representação da Virgem Maria, parte de um crucifixo e uma placa com a inscrição “INRI”. Estes indicam que o navio partiu de Goa, então colónia portuguesa na Índia, e seguia para Lisboa.
O Nossa Senhora do Cabo transportava um carregamento avaliado em mais de 138 milhões de dólares (cerca de 117 milhões de euros), incluindo lingotes de ouro e baús de pérolas, um dos tesouros piratas mais valiosos conhecidos.
Registos históricos indicam que, no dia 8 de abril de 1721, o navio foi capturado por uma frota pirata liderada pelo notório Olivier “O Abutre” Levasseur, após ter sido enfraquecido por uma tempestade e ter descartado os seus canhões. A bordo seguiam passageiros ilustres, como o vice-rei português e o Arcebispo de Goa, além de cerca de 200 escravos provenientes de Moçambique.
O navio foi levado para Nosy Boraha (na época, Île Sainte-Marie), um reduto estratégico para piratas, onde costumavam partilhar despojos. Estima-se que pelo menos quatro naufrágios ligados a piratas estejam naquela área.
Apesar das dificuldades causadas pelo lodo e areia que complicam as escavações, a equipa de arqueólogos espera que as futuras investigações revelem mais segredos sobre este e outros naufrágios da região.