A ‘startup’ quer analisar as características dos que sobreviveram a um cancro considerado incurável e tentar replicar em larga escala os mecanismos que lhes permitiram contrariar todos os prognósticos.
“São pessoas que, por razões desconhecidas, tiveram uma trajetória da doença completamente diferente da dos outros”, explicou Nicolas Wolikow, especialista em saúde e um dos dois empresários ligados ao lançamento da Cure 51 há três anos, à agência France-Presse.
Tendo como objetivo final permitir a criação de medicamentos que imitem as características moleculares dos pacientes sobreviventes para beneficiar o maior número possível de pessoas, a empresa espera ser financiada através de contratos de colaboração com empresas de biotecnologia ou laboratórios farmacêuticos.
A Cure 51 foi cofundada por centros de oncologia reconhecidos mundialmente, como o Gustave-Roussy ou o Léon-Bérard em França, o Instituto de Oncologia de Milão e o Hospital Charité em Berlim, e prepara-se agora para criar “a primeira base de dados global de sobreviventes de cancro”.
O âmbito do estudo abrangerá doentes que sobreviveram mais de três ou cinco anos aos três piores cancros: o glioblastoma (o cancro do cérebro mais agressivo), o adenocarcinoma metastático do pâncreas e o cancro do pulmão de pequenas células.
“O que têm em comum é que são cancros muito agressivos, que não beneficiaram de verdadeiros progressos terapêuticos nos últimos 15 anos”, referiu Nicolas Wolikow.
No entanto, algumas dezenas de milhares de doentes a nível mundial sobrevive e a Cure 51 quer saber porquê.
Segundo o especialista, 50 centros em todo o mundo deverão colaborar para se recuperarem os dados daqueles sobreviventes.
A empresa identificou um total de 1.300 pacientes cujos ficheiros poderá recuperar, um número considerado suficiente pelas equipas científicas para evitar distorções.
Depois de recolhidos todos os dados, iniciar-se-á “a análise dos relatórios médicos, da imagiologia, das células tumorais…”, adiantou o diretor executivo da Cure 51.
Também serão tidas em conta as respostas a questionários que incluam informações sobre o seu estilo de vida, sono, alimentação ou o papel das pessoas que os rodeiam.
A inteligência artificial será igualmente utilizada para encontrar características comuns entre estes pacientes, comparando-as com as de doentes que morreram.
“Esperamos descobrir uma ‘assinatura molecular’ que explique a sobrevivência excecional destes pacientes”, disse Olivia Le Saux, oncologista do centro Léon-Bérard em Lyon, que supervisiona o projeto, à AFP.
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Lusa/fim