Há umas semanas estava a tomar café com uma conhecida de longa data, com a qual tinha perdido o contacto. Entre as habituais conversas sobre a nossa vida pessoal e caminhos que cada uma tinha seguido, falamos sobre a nossa vida profissional. Nessa altura, ela questiona-me “Como é ser mulher nas obras? Deve ser mesmo difícil, não?”. Dei por mim a refletir nos estereótipos e associações que existem entre ser mulher e trabalhar nas obras. No entanto, a resposta que se seguiu foi “É tao fácil como ser homem!”.
Tive a sorte de me licenciar na Faculdade de Engenharia Civil da Universidade do Porto, onde o rácio de mulheres a ingressar no curso é, praticamente, o mesmo que o de homens e nunca senti qualquer diferença digna de menção. As minhas competências profissionais foram, maioritariamente, desenvolvidas na MAP Engenharia, numa fase inicial como Engenheira Orçamentista, posteriormente na Direção de Obra e atualmente encontro-me no Departamento de Compras.
Enquanto diretora de obra, os meus receios profissionais nunca estiveram relacionados com o meu género, mas com a idade e anos de experiência profissional, claramente inferiores à média de outros profissionais nos mesmos cargos. No ambiente de produção, os desafios são constantes: gestão de stress; cumprimento de prazos & budgets; dificuldades de conseguir contratar mão-de-obra especializada; e, gestão de pessoas de diferentes backgrounds. Foi uma aprendizagem e um desafio, que me deu especial prazer em ultrapassar.
Em nenhuma circunstância senti que a minha posição era mais ou menos questionada por ser mulher. Não o senti porque, vendo em retrospetiva, nunca senti que fosse superior ou inferior a um colega do sexo masculino. Na minha cabeça esta questão nunca se colocou, porque sempre fui avaliada pelas minhas competências, mas se o fizesse diria até que as mulheres têm uma forma brilhante de gerir os problemas com uma inteligência emocional e sensibilidade que lhes são inatas.
Não deixo por isso de reconhecer, que a construção continua a ser uma área predominantemente masculina, apesar de haver empresas como a MAP onde a cota de mulheres é de 26%, num País onde a média, segundo os dados do INE sobre a construção civil em Portugal, é de 7,2%. Mas, Se me questionassem sobre o maior desafio para as mulheres em engenharia, diria que não é aceder a este mercado, o qual já integramos com uma competência inquestionável, mas o de garantir que as mulheres acedem a cargos de liderança. O preconceito e estereótipo mais prejudicial para a mulher, é se ela decide acumular com a sua função profissional o desejo de ser mãe, quando a sua dedicação ao trabalho é balanceada (ou refreada) pela dedicação aos filhos e pela estabilidade familiar.
A solução, na minha opinião, não passa por uma menor dedicação da mulher à sua família. Passa sim, pelos homens terem a mesma dedicação, pela distribuição equitativa das responsabilidades familiares, para que ambos tenham a possibilidade de evoluir na carreira, sem descurar a sua família. A solução não passa por exigir mais às mulheres para que consigam vencer em ambos os campos; a solução é consciencializar os homens, que as acompanham, que precisam de lhes dar tempo e espaço para que consigam chegar tão longe quanto a sua ambição o permitir.
No entanto, posso afirmar, tendo sempre em consideração que esta tem sido a minha vivência e a minha perspetiva, nunca em alguma situação me questionei “É por ser mulher?”.