Vivemos momentos de grande ataque aos vínculos e à relação entre as pessoas, envoltos numa bruma bélica que acentua a ideia de que agarrados ao umbigo somos mais fortes. Engano tão perigoso como grave que conduz invariavelmente à destruição maciça da vida desde o seu sentido mais estrito ao sentido mais amplo; o do próprio planeta.
A saúde mental e quem a estuda sabe que os maiores adoeceres surgem da impossibilidade de diálogo interno e externo e da ausência de pontes que criam laços que suportam diferenças. Toda a saúde mental e, arrisco dizer, toda a saúde depende da existência de fraternidade. Por outras palavras, nascemos da relação e precisamos dela ao longo da vida para as regulações psicossomáticas (físicas e psicológicas) serem o mais favoráveis possível à manutenção da nossa própria vida e da vida de todas as pessoas que nos circundam. Nascemos de um outro e para outros, mas temos de aceitar que nascer implica saber que somos mortais e que a infinitude que buscamos acontece sempre que vivemos momentos relacionais onde nos sentimos inteiros e autênticos, onde o prazer da partilha é superior a qualquer medo de a experimentar.
A fraternidade implica o reconhecimento da importância que temos uns para os outros e ressignifica a excessiva relevância que damos à ideia de auto-preservação.
A relação entre “irmãos”, unidos pela condição existencial de se ser humano e mortal num mundo pleno de incerteza, torna possível a sobrevivência porque lhe confere sentido; o da cooperação e mutualidade. Toda a relação que consegue erguer-se e manter-se em fraternidade é solo que suporta e amplia a existência fortificada do ser e de se ser.
Mas a fraternidade não pode ser entendida como um estado que uma vez alcançado se garante a si mesmo, pelo contrário, necessita de constante preservação, uma vez que a vida e todas as provações que comporta põem à prova a capacidade de permanecer em relação de forma livre e ética.
Quando o medo aperta é fácil acreditar que sozinhos somos mais fortes. Cabe a cada um de nós não sucumbir ao desejo de ficar eternamente a cicatrizar o umbigo e cultivar
ininterruptamente a possibilidade de mudança e evolução numa construção conjunta e que expande a vida.
A “terra da fraternidade” será sempre o lugar que vai conferindo sentido e luz ao que vivemos e que nos liberta da mortalidade verdadeiramente insuportável que é a ausência de companhia interna.