Numa altura em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) escolhe a Saúde Mental no Trabalho como tema para este Dia da Saúde Mental, é preciso lembrar as promessas por cumprir. O governo não está a olhar para a saúde mental no local de trabalho.
Foi entregue um Livro Verde do Futuro da Segurança e Saúde no Trabalho, elaborado por um grupo de peritos e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social não se pronunciou sobre o que vai acontecer. As equipas de saúde ocupacional já deviam contar com um psicólogo, por exemplo, como já recomendado pela Direção-Geral da Saúde, mas, na prática, nada acontece.
É preciso que o governo tire os relatórios das gavetas e ponha a funcionar as políticas de promoção da saúde mental no local de trabalho que podem fazer a diferença na vida das pessoas.
Numa altura em que todos dizem ser muito importante a saúde mental no local de trabalho é lamentável que, quando chega a altura de colocar as políticas em prática, tudo seja esquecido em prol do pilar financeiro e de curto prazo. E isso acontece tanto por parte dos decisores políticos como de empregadores e sindicatos.
A saúde mental não pesa na mesa de negociações. E com isso perde-se no bem-estar das pessoas e perde-se na economia. Quando as pessoas não estão bem ao nível da saúde mental não conseguem ter o mesmo nível de produtividade, basta recordar o relatório da própria Ordem dos Psicólogos Portugueses que indica que o stresse e os custos de Problemas de Saúde Psicológica no trabalho custam 5,3 mil milhões por ano.
Lamento ainda que o Estado não dê o exemplo sobre o que deve ser feito nesta área, em serviços tão basilares como o Serviço Nacional de Saúde ou as escolas, onde os profissionais estão descontentes, e não deve ser só pelas questões financeiras. Há também a falta de reconhecimento e autonomia. E não se faz nada.
Já nas organizações privadas, recordo que tem sido crescente a importância dada à saúde mental, o que é muito positivo. Mas é preciso ter cuidado para não se ficar apenas pelos discursos e pelas intenções e pelo ‘mental washing’. É necessário que as boas práticas sejam efetivamente aplicadas e que se façam planos de avaliação dos riscos psicossociais e de mitigação desses riscos.