A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) lança, a propósito do Dia Mundial de Combate ao Bullying, que se assinala hoje, um novo documento sobre o tema: “Vamos falar sobre Bullying”.
É ainda divulgada uma check list para crianças e jovens entenderem se podem estar a ser vítimas de bullying ou bully.
O documento começa por explicar que bullying é “qualquer comportamento, exercido por um indivíduo ou grupo, com intenção de controlar, prejudicar ou magoar alguém, física ou psicologicamente” e que se distingue de outras discussões, desentendimentos, actos isolados de agressão/desrespeito/intimidação ou outros conflitos entre pares pela intencionalidade, pela repetição e pelo desequilíbrio de poder ou de força.
Os vários tipos de bullying incluem:
· Bullying físico: bater, arranhar, cuspir, roubar, empurrar, partir objectos; bullying de cariz sexual (por exemplo, acariciar, tocar contra a vontade do próprio).
· Bullying verbal: insultar, ameaçar, ofender, provocar, gozar, chamar nomes, usar alcunhas depreciativas, etc.
· Bullying socio-emocional: espalhar boatos ou difamar alguém, isolar socialmente alguém (às vezes referido como “cancelamento”), excluir alguém de um grupo, fazer com que alguém se sinta rejeitado, etc.
· Cyberbullying: Utilizar a Internet (por exemplo, as redes sociais) para enviar mensagens ameaçadoras ou insultuosas, partilhar informação sobre alguém, divulgar fotos de alguém contra a sua vontade, etc.
Qual é a frequência do Bullying?
O bullying entre crianças e adolescentes é um fenómeno muito comum, que ocorre, maioritariamente, em ambiente escolar.
É difícil obter uma ideia exacta da frequência do bullying, já que, muitas vezes, as vítimas optam pelo silêncio. Todavia, desde há vários anos, que os dados disponíveis revelam motivos para preocupação:
[2017] Portugal é o 15.º país com mais relatos de bullying na Europa e na América do Norte, ficando à frente dos Estados Unidos. 31%-40% dos adolescentes portugueses com idades entre os 11 os 15 anos confirma ter sido intimidado na escola uma vez em menos de dois meses
[2018] Quase uma em cada quatro crianças (23%) é vítima de bullying (em 2014 a percentagem era de 10%). A percentagem de bullies (17%) duplica face a 2010
[2019]Na Europa, 30% dos rapazes e 28,2% das raparigas sofreram bullying e 33% dos rapazes/19,2% das raparigas fizeram bullying. O bullying psicológico é o mais frequente na Europa e o ciberbullying regista uma tendência crescente (UNESCO, 2019). A maioria das crianças e adolescentes considera que o bullying através de meios tecnológicos (cyberbullying) é a forma de bullying mais frequente. 23% considera ter-se sentido perturbados com a exposição a conteúdos negativos no último ano e 16% refere que “teve de fazer coisas que não queria fazer”.
[2020 e 2021] A PSP regista cerca de 1400 ocorrências de bullying nas escolas portuguesas
[2022] Jovens LGBTQ+ entre os 14 e os 19 anos são vítimas preferenciais de bullying em Portugal
Mais de 60% das vítimas de bullying não denuncia o agressor e quem o faz demora, em média, 13 meses a fazer a denúncia.
Quais são os impactos do Bullying?
TODOS os comportamentos de bullying provocam sofrimento e mal-estar e colocam em causa o desenvolvimento saudável. Trata-se de um problema que pode comprometer a aprendizagem, perturbar as relações interpessoais e o desenvolvimento socio-emocional das crianças e jovens, reduzindo a sua percepção de segurança e protecção.
As crianças e jovens vítimas de bullying podem sentir ou revelar:
Preocupação e medo constantes.
Agitação, raiva e irritabilidade.
Apatia, abatimento, tristeza e baixa autoestima.
Sentimentos de vergonha, humilhação e rejeição.
Isolamento dos outros.
Comportamentos autodepreciativos ou autodestrutivos.
Dificuldades de concentração na escola.
Dificuldades de aprendizagem.
Desconforto físico, dores (por exemplo, dores de cabeça ou de estômago) e outras queixas físicas (por exemplo, cansaço).
Perturbações do sono.
Dificuldades de relacionamento com os outros, a curto e a longo prazo (por exemplo, retracção social, dificuldade em manter um relacionamento amoroso, baixo sentido de auto-eficácia ou auto-confiança, dificuldade em tomar decisões, dificuldades laborais).
Maior vulnerabilidade a problemas de Saúde Psicológica, a curto e a longo prazo (por exemplo, ansiedade, depressão, perturbação de pânico, ideação suicida, stresse pós-traumático ou consumo de substâncias).