Está com problemas em pagar as suas dívidas? As prestações levam-lhe uma grande parte do seu vencimento? Como vai mudar esta situação se nem sabe por onde começar?
Se este cenário lhe é familiar, deve começar por elaborar uma estratégia financeira aliada a uma estratégia de mudança comportamental. Vai ter que mudar a sua mentalidade e abordar esta questão de forma a ter um resultado definitivo, evitando que a circunstância penosa de pagar créditos se prolongue na sua vida.
1. Dívidas boas e dívidas más
Nem todas as dívidas são más, a parte boa em conseguirmos um financiamento ou um crédito é o facto de poder proporcionar um estilo de vida mais facilitado e, com isso, uma maior qualidade de vida. Se não houvesse crédito à habitação, quantas pessoas iriam conseguir comprar casa a pronto? Poucas… e quantos anos iriam necessitar para juntar o dinheiro suficiente? Muitos! Assim, é fundamental percebermos quais as dívidas que nos vão ajudar a progredir, distinguindo-as daquelas que, simplesmente, foram contraídas com um propósito insignificante, mas que acabaram por ter um grande impacto, principalmente, pela fatia que nos levam, todos os meses, dos nossos rendimentos.
Podemos referir-nos como dívidas boas os créditos que nos trazem retorno financeiro. Já antes mencionado, um bom exemplo é o crédito à habitação, pois tende a ser sobre um bem que se valoriza com o passar do tempo (claro, dependendo do mercado imobiliário onde está inserido). Um outro exemplo, é um empréstimo de capital com vista a iniciar um negócio, visando retornos futuros através dos lucros. Podemos assim dizer que maior parte das dívidas que lhe possibilitam gerar mais dinheiro e aumentar o seu património líquido são, de grosso modo, consideradas benéficas.
Por outro lado, aquelas que não lhe dão nenhum retorno, tendo sido feitas com o propósito de consumismo ou, simplesmente, para seu bem-estar momentâneo, são a principal causa negativa e um condicionamento ao sucesso de um bom orçamento mensal.
Nesta categoria de dívidas más os exemplos são vastos, começando pelo mal-amado cartão de crédito com plafond atribuído e, continuando com a conta-ordenado que é, na realidade, um contrato de crédito sob a forma de descoberto autorizado. Neste grupo vai encontrar também as ofertas de crédito para as férias, para o recheio da casa ou, até mesmo, aqueles créditos concedidos pelas lojas de telecomunicações para comprar um smartphone com um custo superior ao ordenado mínimo nacional. Acredite que estes tipos de dívidas não lhe vão dar descanso e vão estar, todos os meses, a comer uma fatia do seu ordenado que poderia perfeitamente estar a render em investimentos ou, pelo menos, a reforçar a sua conta de projetos/objetivos futuros, ou seja, a conta dos seus sonhos!
2. Estratégia para atacar as dívidas
Uma técnica que considero muito boa, que serve para motivar o pagamento dos créditos, foi criada por um famoso conselheiro financeiro nos Estados Unidos chamado Dave Ramsey, que lhe deu o nome de “Método da Bola de Neve da Dívida” (Debt Snowball Method) e que consiste em 4 passos muito simples:
1- Fazer uma lista de todas as suas dívidas, ordenando da menor para a maior, independentemente das taxas de juros que lhe cobram.
2- Continue a pagar as prestações de todas com exceção da dívida mais pequena.
3- Relativamente à dívida mais pequena, pague a prestação e o que lhe consiga alocar extra, em cada mês.
4- Repita os passos anteriores até que cada dívida que tenha seja paga integralmente.
Uma a uma, vai ver que quando terminar uma dívida irá ficar motivado para extinguir todas as outras e que, gradualmente, com algum tempo e sacrifício financeiro, irá ficar livre dessa responsabilidade de pagar prestações todos os meses. Apresentando um cenário como exemplo, um financiamento que costuma ser dos últimos a serem liquidados e que demora um longo período de tempo é o crédito à habitação. Mas se entretanto, pagar todas os outros créditos de valores inferiores e aplicar este método a este crédito, irá conseguir amortizar muito mais rapidamente a sua casa.
3. Renegociação preventiva
Todavia, se estiver com a corda ao pescoço, não deixe a situação andar e ficar num cenário ainda mais complicado, que possa envolver cobranças coercivas ou, até mesmo, processos judiciais (como penhoras ou insolvência pessoal). Nestas situações mais difíceis, fale diretamente com a entidade credora e tente estabelecer, se for possível, acordos de pagamento, fazendo de tudo para evitar entrar em incumprimento, que só irá acrescentar os juros de mora e afundá-lo ainda mais no mar das dívidas.
Apesar de não ser uma solução às dívidas, o crédito consolidado (juntar os créditos todos num só com uma prestação mais baixa do que se tivesse que pagar todos individualmente), é sempre uma hipótese para evitar cenários piores. Mas, se puder, evite recorrer a esta “ajuda” financeira, pois só estará a adiar o problema em vez de o resolver. Obviamente que o psicológico de cada um é diferente e reage de forma diferente, por isso existe quem consiga gerir melhor o seu dinheiro do que outros. Assim, deverá analisar qual é o seu comportamento com as dívidas e tentar corrigi-lo ao máximo, isto para evitar que faça mais dívidas ou que nunca mais as consiga pagar.
Uma motivação neste percurso, para não ter a sensação que apenas está a juntar dinheiro para pagar créditos, é não menosprezar a reserva de emergência. Deve tentar elaborar um plano financeiro que lhe permita ir reforçando a sua conta da reserva (com isso criando um sentimento que está a aumentar o seu dinheiro) e, ao mesmo tempo, tente reforçar a sua outra conta, aquela que criou para amortizar as dívidas antecipadamente, de forma a livrar-se das mesmas o quanto antes.*
*Todo o conteúdo neste artigo apenas serve para fins educacionais e não representa qualquer tipo de aconselhamento financeiro. Consulte sempre um especialista certificado ou faça a sua própria análise.
Por Ariana Nunes
(Educadora financeira e criadora do Canal Renda Maior no YouTube)
Site: https://www.youtube.com/rendamaior