Entre elas estão várias bebidas de mel e com mel, algumas típicas do nosso país, como a poncha e o brandymel. Mais antigo é o hidromel, que se pensa ser apreciado há nove mil anos, começa por assinalar o site florestas.pt .
Do hidromel à água-mel e melosa, passando pelo brandymel, pela poncha e até pela cerveja, há múltiplas bebidas que juntam história, tradição, mel e vários outros sabores provenientes da floresta. Mas desde quando se aprecia o mel em estado líquido?
É difícil dizer quando se começaram a produzir bebidas de mel, mas elas existem há pelo menos nove mil anos, quando da fermentação de uma mistura de mel e outros alimentos resultaram líquidos com diferentes composições e teores de álcool. A descoberta foi proporcionada pelo elevado teor de açúcar contido no mel. Além de energéticos e doces ao paladar, os açúcares são há muito conhecidos pela sua capacidade de fermentação, um processo biológico que os converte noutros “produtos”, entre os quais o etanol ou álcool.
Embora com diferentes receitas e nomes em diferentes locais do mundo, os também chamados vinhos de mel – antecessores dos vinhos de uva – são uma referência transversal à história de dezenas de povos, da Ásia à Europa. Pensa-se, por exemplo, que os Celtas, Saxões e Vikings os bebiam durante os seus rituais e acreditavam nos seus poderes curativos, assim como na sua capacidade de aumentar a fertilidade. Diz-se, inclusive, que a expressão “lua de mel” poderá ter origem nestas crenças, contando-se que o “vinho de mel” oferecido aos noivos no dia do casamento ajudaria ao nascimento do primogénito nove meses depois.
Em Portugal, temos várias bebidas típicas que não dispensam o mel, como a melosa ou a poncha. Na sua maioria são alcoólicas e por isso recomendamos: bebe-as com moderação, mas aproveite os serões do inverno que há pouco começou para descobrir alguns dos sabores do mel em estado líquido.
Hidromel: a “bebida dos deuses”
O hidromel é talvez a mais antiga e conhecida de todas as bebidas de mel. Trata-se de uma bebida alcoólica à base de mel e água e supõe-se que seja uma das primeiras de sempre a conter álcool.
As primeiras evidências apontam para que a receita base já fosse conhecida em 7000 aC, no Norte da China, onde foram encontrados resíduos de uma bebida de mel, arroz, frutos e compostos orgânicos da fermentação.
Produzida em praticamente todo o mundo antigo foi apelidada por alguns como a “bebida dos deuses” e as referências ao hidromel multiplicam-se ao longo da história, em diferentes locais, incluindo na cultura grega – onde foi referido por Aristóteles -, celta e romana, assim como em vários escritos religiosos hindus e também no Corão. Nas culturas do Norte da Europa, era considerado uma dádiva divina.
O hidromel é produzido através da fermentação (por leveduras também usadas no vinho, cerveja e champagne) dos açúcares presentes no mel. Hoje, a bebida está classificada numa categoria dentro dos licores – a dos vinhos aromatizados. Em vários locais do mundo, incluindo no norte da Europa, chamam-lhe inclusive “vinho de mel”.
A gradação alcoólica do hidromel depende da quantidade de mel e do tempo de fermentação. Consoante esta quantidade e tempo obtêm-se diferentes tipos de hidromel – seco, licoroso, doce e espumoso. À receita base do hidromel podem adicionar-se outros ingredientes, incluindo especiarias, frutos e aguardente vínica.
Vinagre e outros temperos de mel
Se o hidromel resulta de uma primeira fermentação, quando este “líquido precioso” é submetido a uma segunda fermentação obtém-se vinagre de mel. Todos os vinagres resultam de uma dupla fermentação (alcoólica e acética) e qualquer fonte de hidratos de carbono fermentável permite produzir este líquido cujo nome deriva das palavras francesas para “vinho acre”. O vinagre de mel é um dos dois únicos vinagres de origem animal (o outro deriva do leite ou soro de leite).
Os especialistas aconselham-no para acompanhar queijos, sobremesas e frutas, e hoje podem ser encontradas dezenas de variedades de vinagres de mel ou balsâmicos que juntam este néctar a outros alimentos e condimentos – limão, maçã, alecrim, poejo e muito mais. E além de vinagre, encontram-se ainda dezenas de receitas de molhos e temperos que integram o mel como ingrediente: uma mistura de azeite, mel, mostarda e sumo de limão é apenas um deles.
Água-Mel e água com mel: descubra as diferenças
A Água-mel é produzida em Portugal desde tempos antigos e tem um papel importante na valorização dos subprodutos da colmeia, pois aproveita os restos de mel, própolis e pólen que ficam nas ceras depois de extraído o mel.
As ceras são mergulhadas em água quente para que os restos de mel, própolis e pólen se libertem e a água é depois aquecida durante várias horas até se obter um líquido acastanhado, que lembra um xarope.
Esta delícia em estado líquido é há muito usada para adoçar leite ou chá, para molhar o pão, confecionar bolos, temperar saladas e para servir de base a novas bebidas. Mais recentemente, chefes de cozinha usam a Água-mel em elegantes propostas gastronómicas, pelo tem ganho crescente reconhecimento.
Mas quando falamos de Água-mel, convém não a confundir com “água com mel”. São duas coisas muito diferentes. A segunda é a infusão de mel em água morna ou quente. Limão e mel são dois ingredientes tradicionalmente usados em chá quente, para ajudar a recuperar de constipações e a aliviar as dores de garganta, mas há mais sabores que se podem juntar, como o gengibre e a canela, por exemplo.
Quando sujeita a destilação, a água mel tem sido usada na produção de aguardente – das chamadas aguardentes de água-mel ou aguardantes de mel, também elas apreciadas por portugueses e turistas que visitam o Algarve.
No nosso país, a serra de Monchique é, por excelência, o berço das bebidas destiladas de mel em Portugal.
Além do conhecido brandymel (hoje em dia comercializado com o nome Cristinalda), com um aroma intenso a mel, a que se junta aguardente de medronho e aromas de ervas de montanha, é também nesta serra que se produz uma mais das antigas e típicas bebidas algarvias de mel: a Melosa.
As suas receitas variam, mas geralmente também integram aguardente de mel ou água-mel e aguardente de medronho, especiarias e frutos.
Poncha madeirense
Outra das bebidas de mel famosas em Portugal vem da Ilha da Madeira: a Poncha.
Esta bebida de degustação obrigatória para portugueses e estrangeiros que visitam a ilha da Madeira tem várias receitas, mas nenhuma dispensa o Rum da Madeira, mais conhecido como aguardente de cana, e o mel de Laurissilva – dois ingredientes únicos da região.
Apesar da flexibilidade da receita, a Poncha da Madeira tem Indicação Geográfica Protegida, o que destaca esta bebida muito enraizada na cultura local que é hoje um dos sabores emblemáticos do arquipélago.
A sua origem parece ser muito distante. Pensa-se que a poncha se beba desde o século XIX e resulte da adaptação de uma bebida conhecida por “panche”, que os navegadores ingleses traziam da Índia, no século anterior.
Para beber com moderação , aqui fica uma receita de poncha caseira, inspirada por quem nasceu neste arquipélago:
Ingredientes
2 limões
2 laranjas
2 colheres de sopa de açúcar
Aguardente de cana da Madeira
Mel a gosto
Preparação
Junte a casca de um limão e o açúcar e esmague-os com um pilão. Adicione-lhes o sumo dos limões e laranjas previamente espremidos. Coe a mistura para um jarro e adicione aguarente de cana em quantidade similar à dos sumos de laranja e limão. Junte o mel, misture bem e sirva.
Mel foi uma das essências das primeiras cervejas
O mel está também presente numa vasta gama de bebidas bem conhecidas noutras paragens, desde a Irlanda aos Estados Unidos da América, incluindo o whiskey e bourbon. Mas mais comum do que se poderia supor é o uso do mel nas receitas de cerveja.
A cerveja é uma das bebidas mais conhecidas do mundo – pensa-se que seja a mais consumida atualmente -, mas muitos dos que a bebem desconhecem que o mel é um dos elementos mais antigos na sua receita, usado, por exemplo, no início do século V, pelos Anglo-saxões.
Ainda hoje, por todo o mundo, continua a usar-se o mel como complemento do malte, em especial em pequenas cervejeiras e produções artesanais, quer porque os seus açúcares contribuem para a fermentação da cerveja, quer porque adiciona à cerveja sabores e aromas naturais que continuam a ser apreciados.
Nos Estados Unidos realiza-se até uma conferência que junta especialistas em mel com produtores de cerveja, para manter viva a produção de cerveja com mel. O Conselho norte-americano do Mel, que a organiza, disponibiliza também muita informação e recomendações sobre como produzi-la. Indica, por exemplo que o sabor da cerveja se altera em função das quantidades de mel adicionadas (em percentagem do total de fermentáveis):
cerveja
– 3 a 10% de mel cria uma cerveja com um subtil sabor floral e um aroma delicado;
– 11 a 30% produz uma cerveja com um robusto sabor de mel que deve ser equilibrado pelos sabores fortes do lúpulo, especiarias ou maltes especiais escuros;
– Mais de 30% cria uma cerveja dominada pelo sabor do mel, que se aproxima do que os fabricantes medievais de cerveja chamavam de “braggot”, um misto de hidromel e cerveja que também usava mel e malte de cevada na fermentação.
Por todo o mundo, há dezenas de marcas de cerveja de mel e, embora em alguns países a legislação não permita esta adição às cervejas, as receitas de mel e cereais fermentados persistem com tantas designações como sabores e aroma