“A nossa plataforma monitoriza atualmente cerca de 300 satélites de algumas das principais operadoras do mercado. Esta ferramenta permite detetar com precisão o lixo espacial, prever colisões e sugerir manobras de evasão”, referiu Carlos Cerqueira, diretor de desenvolvimento de negócio da empresa de Coimbra.
Em declarações à agência Lusa, este responsável da Neuraspace explicou que o ‘software’ criado há cerca de um ano reúne o maior número de dados possíveis e alia a inteligência artificial e o ‘machine learning’, permitindo um grau de precisão muito superior ao de métodos tradicionais.
“No fundo, monitorizamos os objetos que andam à volta dos satélites e identificamos o risco de colisão, emitindo alertas consoante o grau de gravidade. Esta ferramenta permite que o operador se concentre apenas nas situações de risco elevado e que possa tomar decisões em segurança”, acrescentou.
À disposição dos operadores são colocadas algumas propostas de manobras, que têm ainda em atenção o facto de a órbita sugerida não colocar o satélite em rota de colisão com outro objeto.
Segundo Carlos Cerqueira, o grau de precisão desta ferramenta permite mesmo que os operadores de satélite não executem manobras desnecessárias, evitando elevados prejuízos.
“Não só porque o combustível dos satélites é finito, mas também porque enquanto se realiza uma manobra de evasão o serviço que o satélite está a prestar é interrompido. E nós estamos cada vez mais dependentes, no bom sentido, destes serviços”, informou.
À Lusa, disse ainda que a Neuraspace, criada em 2020 por Nuno Sebastião, nasceu para ajudar a combater os perigos do lixo espacial.
“Em 1957 tínhamos um satélite no espaço, o Sputnik, hoje temos cerca de oito mil satélites e, em 2030, prevê-se que haja cerca de 100 mil ou até mais. Dos satélites que foram lançados para o espaço, nem todos estão ativos e nem sempre houve a ideia de economia circular no espaço como hoje existe”, indicou.
Os detritos espaciais viajam a cerca de 25 mil quilómetros por hora, existindo no espaço mais de 36 mil objetos com mais de 10 centímetros, um milhão de objetos com um a dez centímetros e 130 milhões de objetos com menos de um centímetro.
“Qualquer pedacinho de lixo, mesmo que seja inferior a dez centímetros, é uma autêntica bala de canhão e que pode destruir completamente um ativo. Esses objetos no espaço são uma ameaça às operações comerciais e científicas, no sentido que danificam os satélites, mas também do ponto de vista da sustentabilidade da humanidade”, alegou.
De acordo com o diretor de desenvolvimento de negócio da Neuraspace, quando um objeto de dez centímetros choca com um satélite, os danos causam mais uma centena de detritos e geram “um efeito exponencial”.
“Tal pode fazer com que a Terra, a dada altura, fique coberta por uma carapaça de objetos metálicos, que impeçam que se aceda ao espaço. A humanidade ficaria presa na Terra para sempre, sem possibilidade de viajar no espaço”, concretizou, aludindo à descoberta do astrónomo americano Kessler.
A Neuraspace, com sede no Instituto Pedro Nunes (IPN), em Coimbra, é constituída por uma equipa de 26 elementos.
Entre os operadores de satélites com que trabalha figuram a Geosat, a Dragonfly e a Agência Espacial Europeia.
A Neuraspace lidera uma das Agendas Mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o projecto “AI Fights Space Debris, C626449889-00463050″, com um orçamento de 25 milhões de euros, que tem permitido este crescimento e a aquisição de infraestrutura para monitorizar os detritos espaciais.
Lusa