Antes do Novembro Jazz’23, o 8ª Avenida, Centro Comercial gerido e comercializado pela consultora imobiliária CBRE, vai receber um warm up do festival com uma vasta programação, que inclui desde uma exposição, a uma talk e concertos de jazz. Um dos eventos teve lugar no passado dia 13 de outubro. Subordinado ao tema sobre As Mulheres na Música e na Arte, contou com a presença da artista, a Amaura.
Amaura é uma das artistas mais promissoras em Portugal no mundo da música. Conversámos com ela sobre a sua evolução no universo musical nacional e sobre o papel da mulher neste meio.
Como surgiu o seu interesse pela música?
O meu interesse pela música começou já em criança, por ser grande parte integrante do meu dia a dia e por cedo se ter revelado uma companhia que me ajudou, sendo eu mais introvertida do que era normal na altura.
Quando decidiu (ou percebeu) que era esse o caminho que queria percorrer?
Juntamente ao interesse veio o entender, que nada me causava o entusiasmo e até a concentração que o fazer algo relacionado a música. Cedo percebi que só ia ser feliz a sério se conseguisse aliar uma coisa à outra.
Fazer r&b escrito e cantado em português: foi fácil esta decisão?
Não foi fácil, mas foi extremamente natural no sentido em que eu queria ouvir com as minhas palavras. Com as palavras que uso para os meus sentimentos, então, naturalmente, e sem pressões, eu sempre me senti mais eu na minha língua e sinto me muito mais honesta, muito mais eu.
EmContraste, o seu primeiro trabalho a solo, surgiu depois de várias colaborações em outros projetos. Foi ele o concretizar de um desejo antigo?
Foi o concretizar e o estar certa disso mesmo, já vinha de alguns anos e projetos que me deram essa mesma segurança. Gosto de pensar que aprendi, primeiro para executar sem medos, e depois, lá está, com uma identidade que é a minha.
Em que consiste o seu processo criativo? É ele algo de maioritariamente orgânico?
O meu processo de criação também sofre alterações como em qualquer outra área…. neste momento encontro-me mais feliz, então estou mais moderna na escrita, uso memes por vezes, imagens, prismas, tudo o que me possa ajudar a montar o puzzle de forma mais orgânica possível.
SUBESPÉCIE, o seu segundo registo discográfico, é a afirmação definitiva do caminho musical que quer trilhar enquanto artista?
O SUBESPÉCIE é um salto de fé, uma premissa de um “fim que acaba bem”. Foi marcado primeiramente pela perda da minha mãe e consequentemente a minha. E em segundo pela recuperação do amor próprio e ao próximo.
Certamente vincou aqui qualquer coisa de mudança em mim e, acreditando que posso fazer trabalhos muito diferentes uns dos outros porque tenho essa veia em mim.
O ‘subespécie’ é um trabalho que me ensinou muito, trabalhei com muitos talentos.
Sou muito grata por isso, acho que dita muito sobre o caminho “exploração ” que pretendo fazer sempre de mão dada com aquilo que é o meu som de gema e acho que sempre será assim.
As palavras ganham outra dimensão quando escreve as letras?
Sim, acredito que sim. Não que não possa fazer isso com as palavras de alguém, que temos grandes compositores de canções no nosso país e eu própria gosto de trabalhar nesse âmbito para os outros! Mas confesso que até ao dia de hoje sinto que dou mais de mim quando o faço pelas minhas palavras e cabeça.
São essas letras o espelho do que vai na alma de Amaura?
Sempre! Sinceramente não me corre bem quando não é. Tenho a sorte de me sentir segura o suficiente para o fazer e mais ainda do público gostar disso.
Alguma vez sentiu que tudo era mais difícil por ser mulher?
Já, claro. Há dias em que o espírito de resiliência não está tão bem disposto e isso causa me um sentimento de injustiça muito grande. Há uma exigência até muitas vezes social e quotidiana que se fala pouco, mas tenho fé nos tempos, nas pessoas, nas oportunidades, e, acima de tudo, na mudança desta narrativa e que isso ainda nos vá dar dias de mais “equilíbrio”.
Com toda a sua experiência como analisa a evolução da presença da mulher no universo da música, nomeadamente em Portugal?
Lá está, acho que a narrativa está a tentar evoluir, mas há um longo caminho a fazer-se até que deixe de “ser questão”. Ainda não se vê com bons olhos a presença feminina neste universo…temos produtoras, técnicas de som, instrumentistas, compositoras, e sinto que aí ainda há mais caminho a fazer-se.
Por isso, acho importante continuar-se a falar.
Estive, por exemplo, presente no 8ª Avenida para uma conversa sobre “As Mulheres na Arte e na Música”, porque este é um tema muito importante para mim.
Sinto que as mulheres na indústria musical portuguesa estão cada vez a dar mais cartas, e as tabelas e as pessoas falam por si. É quase um 50/50. Já se fez muito, mas há ainda muito a fazer para que seja neutro e não fracionado.