Entrevista: «Da mesma forma que vamos ao dentista ou fazemos análises clínicas, devemos prevenir a nossa saúde mental» Luis Couto, CEO da Khushi Minds

A Khushi Minds é um projeto que nasceu com o objetivo de combater a solidão através de um número gratuito.

Depois de consolidar o seu modelo online, contanto com uma equipa de psicólogos clínicos estável e de grande qualidade, afirma-se hoje como uma clínica, refere o CEO da empresa, Luís Couto, em entrevista à Forever Young.

P processo terapêutico é da inteira responsabilidade do psicólogo, não existindo qualquer interferência na proposta comercial, é referido. O importante é que cada pessoa que usa os serviços da Khushi Minds, sinta que o seu bem-estar está em primeiro lugar, «isso sobrepõe-se a qualquer interesse comercial», assegura Luís Couto

O que é e quando nasceu a Khushi Minds?
Este projeto visou dar resposta a um problema que persiste na sociedade – a solidão. Em 2018, após ter passado por uma situação pessoal no âmbito de um processo de parentalidade, decidi avançar com uma ideia que permitisse colmatar esta necessidade, vivida na primeira pessoa. Foi então que nasceu a “Friends2Talk”. Essencialmente consistia numa linha telefónica de apoio à solidão e, apesar da maior parte das pessoas nem se dar conta, do outro lado da linha estavam psicólogos credenciados pela OPP, profissionais especialistas em dar apoio psicológico. Na impossibilidade de manter a sustentabilidade do projeto, este ficou em stand-by.
Quando a pandemia se instala, já em fevereiro de 2020, após o início do segundo confinamento geral, decidi lançar um desafio aos psicólogos, que foi de imediato aceite. Foram assim pioneiros na disponibilização de um número gratuito 24h, todos os dias. Tudo isto foi possível devido à equipa de psicólogos incansáveis, que não hesitaram em dar apoio psicológico e de forma voluntária a prestar apoio SOS.
Nesta jornada surge Himali Bachu (atualmente Diretora Técnica da Khushi Minds), psicóloga com mais de 20 anos de experiência, a disponibilizar-se também neste apoio voluntário. A paixão pelo projeto foi imediata e, juntos, decidimos que o próximo passo seria fazer evoluir o conceito para um projeto mais estruturado na área da psicologia. Isto porque chegámos à conclusão de que as principais razões para o contacto (ansiedade, sintomatologia depressiva, burnout, fadiga pandémica e autodesenvolvimento e autoconhecimento) exigiam algo mais do que um apoio telefónico. E assim surge a Khushi Minds. Himali Bachu foi a “madrinha” e o nome surgiu da ideia de utilizar a expressão hindu “khushi” que casa muito bem com o objetivo e missão do projeto – promover mentes felizes.
A Khushi Minds, atualment,e é uma plataforma online que presta serviços na área da Terapia Mental & Bem Estar (consultas de psicologia online, com toda a extensão possível do tema, programas de desenvolvimento pessoal, avaliação de clima organizacional e bem-estar, entre outros).

Qual a vossa missão e filosofia?
A Khushi Minds tem como missão desmistificar o tema da saúde mental, generalizar o acesso a serviços de apoio psicológico a preços acessíveis e contribuir desta forma para o bem-estar emocional da população e para o aumento de produtividade das organizações.

Que objetivos se propõem alcançar?
O grande desafio é de facto desmistificar o tema da saúde mental e promover a literacia nesta área. A ideia de que só vamos ao psicólogo quando estamos deprimidos ou a entrar em burnout é completamente falsa. O trabalho de um psicólogo, enquanto especialista de comportamento, está muito antes disto. O psicólogo tem um papel fundamental na prevenção e no diagnóstico precoce, no desenvolvimento pessoal e no autoconhecimento. Da mesma forma que fazemos check-up anual num dentista, devemos fazer também fazer seguimento da nossa saúde mental, pois é tão importante como a nossa saúde física e tem impactos sobre bastante perversos. Em países como o Inglaterra, EUA e o Brasil, as idas frequentes ao psicoterapeuta são super normais e completamente aceites pela sociedade.
Na Khushi Minds sabemos que existe um longo caminho a percorrer, mas estamos altamente empenhados e focados nesta “missão humanitária” de eliminar tabus, desfazer estigmas e promover a aceitação geral sobre “é normal ir a um psicólogo, é perfeitamente aceitável ter essa necessidade”.

Podemos referir que são hoje uma clínica e não um Marketplace?
Correto, existem nesta área duas tendências: uma é a utilização de Inteligência Artificial para selfcare – proliferam apps neste sentido com o intuito de ajudar pessoas através de uma subscrição e; a criação de marketplaces onde qualquer psicólogo pode prestar serviços mas sem uma lógica de equipa e não integrada na regulamentação de cada país onde prestam serviços. A Khushi Minds utiliza a tecnologia para poder tornar mais acessível os serviços de psicologia clínica com pessoas reais e não máquinas e compreende que em cada país existe regulamentação que tem que ser cumprida pelos psicólogos, mas é um garante na prestação de cuidados de saúde. É preciso que haja pessoas a falar com pessoas e é nisso que a Khushi Minds se distingue.

Significa que têm espaços físico? Se sim onde e que serviços disponibilizam?
Depois de termos iniciado a nossa atividade apenas online, percebemos que temos um papel de facilitar o acesso a consultas de psicologia no terreno, principalmente para crianças e jovens e população mais idosa. Neste sentido possuímos 3 espaços em zonas menos urbanas nos Concelhos de Pombal, Leiria e Maia. Disponibilizamos serviços de psicologia clínica, que também podem ser agendados através da nossa plataforma online. Gostaríamos no futuro de aumentar a nossa oferta em todas as vilas e aldeias com alguma dimensão a nível nacional. No entanto, 95% das nossas consultas são online.

De que forma analisam a forma como a sociedade olha hoje para as questões relacionadas com a saúde mental?
Estamos muito melhor! A discussão sobre saúde mental está cada vez mais presente na sociedade em geral, principalmente na população mais jovem, no entanto, sinto que se fala mais de doença mental que saúde mental. Ainda existe muito o estigma de que quem vai ao psicólogo. Quando perguntamos a alguém se já alguma vez foi ao psicólogo é comum obter a resposta que “ainda não foi preciso”, denotando logo que há muita resistência à sua normalização. Se vamos todos os anos ao médico fazer análises, ou ao dentista fazer um check-up, não é porque estamos doentes ou temos uma cárie. Vamos porque queremos manter-nos saudáveis. Deveria ser da mesma forma com a saúde mental, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Outro aspeto está ligado com os custos. A oferta de serviços de psicologia clínica é ainda escassa (e a que existe prioriza casos de doença mental) e a grande maioria das famílias portuguesas não consegue aceder a estes profissionais por razões profissionais. Imagine-se uma família em que duas pessoas frequentam o psicólogo semanalmente. Estamos a falar de cerca de 400-500€ por mês e isso não é comportável.
Pagar um valor por consulta é importante para que haja o comprometimento para com o processo terapêutico, mas os valores que existem são inacessíveis para a maioria das pessoas.

Lançam agora uma aplicação de saúde mental. O que incentivou esse lançamento?
Ser mais fácil para o utilizador. Até agora, temos utilizado a nossa plataforma online em browser e percebemos que existem limitações e que a grande maioria de pessoas usa o smartphone e menos um computador. A necessidade de ter uma App era crucial para a simplicidade de acesso a serviços de psicologia clínica.

Esta é uma primeira versão. De futuro, a App Khushi Minds (disponível para iOS e Android) permitirá o apoio SOS com seu psicólogo/a dedicado, o acesso a mais conteúdos e ferramentas de saúde mental, inclusive ‘o meu planner de saúde mental digital’, a gestão do meu pacote de serviços personalizados e a disponibilização de App exclusivas e dedicadas para empresas. As versões para organizações permitem ter soluções específicas para necessidades identificada em avaliações prévias, quer seja através de estudos de saude mental e bem estar, quer através de rastreios.”

Que finalidade tem esta aplicação?
Estar mais próximo do paciente, mais customizado. Até agora, temos utilizado a nossa plataforma online em browser e percebemos que existem limitações e que a grande maioria de pessoas usa o smartphone e menos um computador.

De que forma funciona?
Está disponível em iOS e Android para a sua base de dados e para todos que queiram aceder a este serviço. Depois de fazer download basta fazer o login (ou registar-se) e poderá de forma simples selecionar o profissional, agendar a sua consulta e fazer o seu pagamento. Tudo no seu telemóvel!

Que conteúdos vão os utilizadores lá encontrar?
São sobretudo conteúdos que visam o esclarecimento de conceitos e patologias na área da saúde mental. Dicas dos psicólogos da Khushi Minds, ferramentas de autocuidado, entre outros.

Podemos dizer que aqui a tecnologia é uma ajuda no processo de ligar as pessoas aos profissionais de saúde?
Sem dúvida. Vários estudos comprovam que a psicologia online é eficaz e muitas pessoas atualmente preferem as consultas online versus as consultas presenciais. No nosso caso, e analisando os dados nos locais onde temos presença física, cerca de 65% das consultas são online. A ausência de deslocação e flexibilidade de horários são os principais motivos, muitos dos nossos clientes trabalham em regime híbrido e aproveitam para realizar a sua terapia quando estão em teletrabalho.

É importante perceber que há uma pessoa do lado de lá?
Sim! Vários estudos comprovam que a psicologia online é eficaz e muitas pessoas atualmente preferem as consultas

Podem os utilizadores encontrar uma tecla de socorro? Como vai ela funcionar?
Neste momento disponibilizamos apoio SOS gratuito através do número 211 452 430. De futuro o cliente poderá contactar o seu psicólogo ou outro que esteja de serviço através da própria App.

No vosso comunicado referem o ‘o meu planner de saúde mental digital’, em que consiste este plano?
De futuro, a App Khushi Minds (disponível para iOS e Android) permitirá o apoio SOS com seu psicólogo dedicado, o acesso a mais conteúdos e ferramentas de saúde mental, inclusive, a gestão do meu pacote de serviços personalizados e a disponibilização de App exclusivas e dedicadas para empresas. As versões para organizações permitem ter soluções específicas para necessidades identificada em avaliações prévias, quer seja através de estudos de saúde mental e bem-estar, quer através de rastreios.
Neste momento já temos um planner em formato físico que disponibilizamos aos nossos clientes. Mais informação aqui

Destina-se a aplicação apenas a utilizadores individuais ou também a empresas e organizações? No caso destas, que soluções especificas vão lá encontrar?
A aplicação está desenhada para as pessoas que pretendem cuidar da sua saúde mental. Contudo, uma vez que a nossa estratégia assenta muito em trabalhar em conjunto com as organizações, no sentido de concederem aos seus colaboradores este benefício, a nossa aplicação está preparada para permitir a personalização para cada organização (de conteúdos, profissionais disponíveis, preços, entre outros).

Está a aplicação pensada apenas para Portugal?
A plataforma está já preparada para outros países e permite uma personalização para cada cultura e língua. Atualmente já se iniciou o processo de preparação para a Alemanha, Espanha, Turquia, Holanda, Chéquia, Moçambique e Equador. Mas a criação de um serviço estável e de qualidade demora o seu tempo e exige um investimento considerável.

Assim, sendo para que realidades está ela preparada e de que forma desenvolveram essas abordagens (tendo em conta que as sociedades são diferentes)?
Em cada país a equipa de psicólogos é diferente, permitindo ter abordagens específicas para uma determinada cultura. Existem questões transversais em termos clínicos, mas o contexto da língua e cultura obriga a estarmos preparados para abordagens específicas.

Olhando para Portugal quais os maiores problemas de saúde mental que conseguem identificar?
De acordo com o Eurobarómetro, 2022, em Portugal, os problemas de Saúde Psicológica mais comuns (stresse, depressão ou ansiedade) afetaram quase dois em cada cinco trabalhadores (33%) no último ano devido ao trabalho, uma prevalência acima da média da União Europeia (27%).

Estão eles relacionados de alguma forma com o envelhecimento da população portuguesa?
Na nossa opinião não existe essa relação. Inclusivamente, segundo o último (2022) (estudo realizado de 4 em 4 anos em colaboração com a OMS) houve para um agravamento da saúde mental nos adolescentes, sendo algumas das principais causas os impactos da pandemia, a dependência das novas tecnologias, com consequente isolamento, a falta de autonomia e a pouca qualidade e quantidade de sono. Sabe-se também que 50% das doenças mentais diagnosticadas nos adultos surgem na adolescência, mas não foram detetadas antes.

Que conselho(s) deixaria a um leitor que neste momento sinta que precisa de ajuda?
A ideia chave é não ir ao psicólogo de forma reativa (ou seja, para dar resposta a um problema que já existe há algum tempo), mas sim de forma preventiva. Ou seja, da mesma forma que vamos ao dentista ou fazemos análises clínicas, devemos prevenir a nossa saúde mental. Desta forma consegue-se prever e tratar precocemente com maior sucesso, contribuindo assim para uma melhoria significativa do bem-estar psicológico.

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