Não é possível parar o tempo. Apesar da evolução da ciência, ainda ninguém descobriu a fórmula para a imortalidade e juventude eterna. No entanto, isto não significa que devamos ficar passivamente à espera de que as marcas de envelhecimento comecem a surgir e, com elas, as temíveis doenças. Pelo contrário: para viver mais e melhor, temos de agir preventivamente, como nos explicam nesta entrevista o farmacêutico António Hipólito de Aguiar e a médica Marta Padilha.
O que é exatamente a medicina antienvelhecimento?
A medicina Anti-Aging é uma é uma área médica que se dedica à promoção da qualidade de vida e longevidade. Os objetivos desta prática médica focam-se em detetar, prevenir e tratar atempadamente doenças decorrentes do envelhecimento que podem estar camufladas por sintomas que pensamos conhecer mas que podem apresentar um quadro clínico muito mais complexo do que imaginamos.
O Anti-Aging assenta em 5 pilares fundamentais: modulação hormonal, suplementação não hormonal, exercício físico, nutrição funcional e gestão do stress. Só assim conseguimos promover uma melhor qualidade de vida e prevenir as doenças relacionadas com o envelhecimento. Estamos perante um tipo de medicina personalizada e individualizada que tem em conta cada história, caso e percurso oferecendo resultados imediatos na qualidade de vida dos pacientes.
Com que idade devemos começar a agir para envelhecermos bem?
Os desequilíbrios hormonais podem ocorrer em qualquer fase de vida. Devemos estar por isso atentos aos sinais e sintomas desses mesmos desequilíbrios sendo por isso aplicável a modulação hormonal em qualquer idade desde que haja necessidade.
E o que é envelhecer bem?
Envelhecer bem é com passar pelas fases da vida de forma equilibrada e sem danos resultantes do envelhecimento fisiológico.
Até que ponto a prevenção é importante neste processo?
A prevenção, a deteção e o tratamento precoce são as chaves deste processo.
Quais os primeiros indícios do envelhecimento?
Todas as pessoas começam a perder as suas hormonas, ao ritmo de 1 a 3% ao ano, por volta dos 30-35 anos. A partir dessa idade, o organismo passa a exigir muito mais das hormonas do que a sua capacidade de produzir. É importante entender que as hormonas não decrescem porque envelhecemos, mas envelhecemos porque as hormonas diminuem.
No entanto, é crucial esclarecer que a pessoa equilibrada do ponto de vista hormonal também envelhece, mas a um ritmo controlado que irá permitir reduzir os danos de saúde. Os sintomas da deficiência hormonal podem ocorrer em qualquer parte do corpo, pois existem recetores hormonais em todas as células do nosso organismo.
Os sintomas de défice hormonal são comuns à maioria das pessoas e variam consoante o sexo.
Nas mulheres, manifesta-se com :
· Irritabilidade;
· alteração da qualidade do sono;
· dificuldade em perder peso;
· alteração da memória
· diminuição da líbido e secura vaginal, entre outros
No sexo masculino, ocorre :
· dificuldade em perder peso,
· aumento do perímetro abdominal
· diminuição da líbido
· alteração da memória,
· Irritabilidade
· diminuição do número de ereções matinais, entre outros.
Note-se, no entanto, que cada pessoa é única e cada corpo é diferente e, por essa razão, o seu grau de envelhecimento é também exclusivo de cada indivíduo
Quem envelhece mais depressa: os homens ou as mulheres?
Tal como foi referido o envelhecimento ocorre na mesma altura , 30-35 anos de idade mas o envelhecimento na mulher é mais abrupto e nos homens é mais insidioso.
O cérebro também envelhece? De que forma se pode evitar ou retardar essa situação?
Seguramente que sim. Além de o nutrirmos devidamente com substâncias apropriadas (na qual os ómegas 3-6-9, nas proporções devidas são essenciais) devemos estimulá-lo, através de práticas como sejam a aprendizagem de novos temas que nos interessem e a leitura ou a escrita diária.
São muitas as doenças que afetam hoje o Homem. De que forma podem elas ser evitadas?
Devemos estar atentos aos sinais e sintomas dos desequilíbrios hormonais já referidos e ao equilibrar hormonal conseguimos diminuir o dano do envelhecimento fisiológico, associado sempre a conjugação dos 5 pilares do antienvelhecimento
Em todo este processo qual o papel desempenhado pelo peso ideal?
A má gestão do peso é provavelmente a maior queixa dos pacientes nos dias de hoje, o que está em consonância com o alerta emanado pela OMS, de que a obesidade é mesmo a pandemia do século XXI, tal é o aumento generalizado de peso que se regista em todas as populações dos quatro cantos do Mundo. A maiorias das pessoas já fizeram todas as dietas, perderam peso mas, geralmente, recuperam não só os quilos perdidos como ganham ainda mais. Entram na consulta desmotivados e sem saber o que fazer. A primeira coisa que importa transmitir é que “a culpa não é sua.” A obesidade não é sempre um problema de falta de vontade ou de motivação. É mais complicado do que isso. A chave para uma perda permanente de peso é o equilíbrio hormonal. Muitos distúrbios hormonais farão ganhar peso e não há nenhuma dieta no mundo que resolva definitivamente o problema se o distúrbio hormonal não for corrigido.
Que conselhos gostaria de deixar a quem nos lê?
Prevenir o envelhecimento é antes de mais uma atitude, que começa com a nossa vontade em viver mais e melhor, o subtítulo do nosso livro.
Para alcançar esse desiderato devemos não só encontrar forma de não “agredirmos” o nosso organismo, evitando substâncias tendencialmente mais “tóxicas” como sejam o álcool em excesso e o tabaco (além naturalmente de drogas ilícitas), seguir uma alimentação em que se privilegie uma ingestão calórica mais baixa (o excesso de calorias é nefasto, a vários níveis, ao organismo) e a preferência por alimentos frescos vegetais e de boa qualidade (evitando o denominado “fast food” ou regimes com excessivo teor em sal, açúcar e gorduras de baixa qualidade tipo margarinas e óleos) e praticar exercício físico.
Além disso um estado de maior felicidade e sem stress contínuo são fundamentais para retardar o envelhecimento, para o qual também importa exercitar a mente, pelo que manter tarefas diárias que nos estimulem intelectualmente é igualmente uma prática antienvelhecimento fundamental.
«Sempre Jovens»
António Hipólito de Aguiar e Marta Padilha
Manuscrito
Sobre os autores:
ANTÓNIO HIPÓLITO DE AGUIAR é farmacêutico e doutorado em Ciências Farmacêuticas. É autor de vários livros na área da saúde e do medicamento. Colabora regularmente em rubricas de saúde na televisão e é membro da organização humanitária Médicos do Mundo. O seu interesse pela área do antienvelhecimento vem de longa data, tendo já publicado livros neste âmbito juntamente com outros médicos. Além de se dedicar ao estudo deste ramo da Medicina, participa no desenvolvimento de formulações farmacêuticas.
MARTA PADILHA é médica na área da Medicina Anti-Aging, possuindo uma especialização em Medicina Antienvelhecimento e Longevidade pela Universidade de Barcelona. É membro da American Academy of Anti-Aging Medicine (A4M), onde obteve o Master em Gestão do Peso. Colabora em vários programas de televisão e revistas com temáticas sobre a modulação hormonal. Atualmente, exerce atividade médica na sua clínica em Lisboa, na qual instituiu um método baseado nos cinco pilares do antienvelhecimento.