A hipocondria, ou Perturbação de Ansiedade de Doença, deixa de ser uma condição rara para se transformar num problema crescente, impulsionado pelo fácil acesso à informação na internet e pela monitorização obsessiva da saúde. É o que alerta a psicóloga Inês de Matos Ferrão, do Hospital Lusíadas Monsanto, no artigo que publicou recentemente no Lifestyle ao Minuto.
“A hipocondria assume hoje contornos cada vez mais subtis, muitas vezes camuflados sob o disfarce de ‘prevenção’. Mas a questão que se coloca é: até que ponto o cuidado com a saúde deixa de ser um ato racional e se transforma numa verdadeira prisão mental?”, questiona Inês de Matos Ferrão.
Segundo a especialista, esta perturbação caracteriza-se por um medo persistente e excessivo de estar gravemente doente, mesmo na ausência de sintomas ou apesar da tranquilização médica. Estudos indicam que entre 1% a 5% da população mundial sofre de hipocondria, com números em Portugal a estimar que até um milhão de pessoas podem estar afetadas.
“Enquanto a medicina preventiva tem melhorado a qualidade de vida, o excesso de zelo com a saúde pode ter o efeito oposto. A preocupação excessiva pode transformar-se numa obsessão, criando um ciclo vicioso onde a vigilância constante sobre o corpo é mais prejudicial do que benéfica”, explica.
A psicóloga salienta que a hipervigilância leva à monitorização contínua de sintomas e à realização frequente e muitas vezes desnecessária de exames médicos, que podem agravar o sofrimento psicológico. #O hipocondríaco não é apenas alguém que teme estar doente: é alguém cuja vida fica marcada por esse medo constante, que afeta a vida social e profissional de forma profunda”.
Para combater esta tendência, Inês de Matos Ferrão defende que “a educação em saúde é fundamental. É essencial conhecer o corpo e escutar os seus sinais, mas sem cair na armadilha do alarme constante”. Ela alerta ainda para os riscos do excesso de informação sem contexto, especialmente a pesquisa obsessiva de sintomas na internet, que “impede a pessoa de viver com tranquilidade”.
“A saúde não deve ser uma obsessão, mas uma prática equilibrada e consciente. O equilíbrio é o verdadeiro pilar de uma vida saudável tanto física quanto mental”, conclui a psicóloga.