Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) perderam mais de 1.500 voluntários desde a pandemia de covid-19, revelou hoje a Federação Nacional do Voluntariado em Saúde (FNVS), que quer recuperá-los para garantir “a humanização” do ambiente hospitalar, avança a Lusa.
É essa a mensagem prioritária do encontro que, no próximo sábado, reúne em São João da Madeira, no distrito de Aveiro, 20 instituições de todo o país dedicadas ao voluntariado hospitalar, em representação das 56 que constituem o universo de associadas da FNVS e de outros organismos com intervenção no setor.
“Atualmente, temos cerca de 5.000 voluntários registados nas nossas 56 associadas, mas, com a covid-19, 30% a 50% dessas pessoas deixaram de exercer as tarefas que tinham nos hospitais, porque, devido à sua idade avançada e a doenças crónicas, passaram a ter medo de lá estar”, declara à agência Lusa o presidente da FNVS, Carlos Pinto Ribeiro.
Esse responsável anuncia, por isso, que a prioridade da federação é agora, por um lado, “recuperar esses voluntários”, tendo em conta que “o avanço da medicina e as medidas adotadas pelas autoridades de saúde fazem com que o regresso aos hospitais já não represente riscos”, e, por outro, “assegurar que as pessoas que têm mesmo que afastar-se são substituídas por elementos mais jovens”, para o que está já a decorrer um programa de sensibilização escolar empenhado em cativar estudantes quando esses atingirem a maioridade.
“Os voluntários dão um contributo extraordinariamente importante para a humanização do serviço da saúde”, assegura Carlos Pinto Ribeiro.
“O setor está muito desumanizado e os voluntários são um elo privilegiado entre o utente e os profissionais de saúde, em aspetos concretos e às vezes muito intimidantes como a navegação interna do labirinto dos hospitais, o uso das máquinas dispensadoras de senhas para consultas e visitas, a distribuição de pequenas refeições nas salas de espera, a alimentação de doentes mais debilitados, o apoio às parturientes, a gestão do luto e a comunicação com as famílias”, refere.
Para ajudar na execução dessas atividades, o encontro da FNVS integra no sábado uma componente de formação, com conferencistas como Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesas dos Bancos Alimentares contra a Fome, e João Moita, docente do Instituto Politécnico de Viseu, que investiga o impacto do voluntariado em saúde na economia nacional.
A outra componente do evento envolve atividades lúdicas que serão “um gesto de agradecimento aos voluntários”, já que, segundo Carlos Pinto Ribeiro, esses “não têm o reconhecimento que merecem por parte do Estado e outras entidades públicas”.
O presidente da FNVS explica: “Não queremos nenhuma compensação e nunca aprovámos propostas de alguns partidos como regalias fiscais ou transportes gratuitos para quem faz voluntariado, porque achamos que este trabalho deve continuar a ser realmente voluntário, sem esperar nada em troca, mas falta efetivamente o devido reconhecimento público pelo esforço e dedicação destas pessoas”.
Como exemplo, Carlos Pinto Ribeiro dá o caso da Liga de Amigos e Voluntariado do Centro Hospitalar Tondela Viseu: só no que se refere ao período da pandemia, os voluntários dessa instituição asseguraram “mais de 40.000 horas de trabalho gratuito no centro de vacinação local, um feito extraordinário olhando a tudo o que implicou de cedência e reorganização na sua pessoal e familiar”.