Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUSA), no Porto, lança sexta-feira o primeiro Banco de Córneas de Cultura em Portugal, um projeto que permitirá aumentar o número de doentes transplantados, avançou o diretor de serviço de oftalmologia à Lusa.
Em declarações à agência Lusa, a propósito do Dia Mundial da Visão que se comemora hoje, Pedro Menéres contou que o CHUSA obteve já aprovação do Ministério da Saúde, da Direção-Geral de Saúde e do Instituto da Transplantação, sendo “grande o potencial de crescimento”.
“É um projeto em que minoramos os custos, graças ao aproveitamento de estruturas existentes. Contamos alcançar mais colheitas e mais tempo de preservação, pelo que esperamos aumentar bastante a transplantação de córneas ajudando mais doentes em risco de cegueira ou que já estão mesmo com a visão próxima de não útil para as suas atividades do dia a dia”, disse o clínico.
A córnea é, no olho, a estrutura transparente que está à frente da íris.
O desafio neste tipo de intervenções é devolver transparência quando há patologia que põe em causa essa passagem de luz.
Considera-se que a escassez de tecidos é o passo limitante do processo de transplantação de córneas.
O Hospital de Santo António fez o primeiro transplante de córnea em 1958 e, até 1980, foram efetuados 198, o que representava uma média de nove por ano.
Em 1980, o hospital criou o Banco de Olhos para córneas refrigeradas, o que permitiu a conservação das córneas por alguns dias, possibilitando uma atividade mais regular.
Atualmente faz entre 150 e 200 transplantes de córnea por ano.
A colheita de córneas para transplante é feita a dadores cadáveres através de duas formas: conservação a frio (córneas refrigeradas) e conservação em meio de cultura (córneas de cultura).
“Passando a apostar também na cultura – atualmente Portugal recorre a bancos estrangeiros – temos a expectativa de aumentar os tratamentos. A mudança para cultura permite aumentar muito a capacidade”, resumiu Pedro Menéres.
À Lusa, o diretor de serviço explicou que com este banco de cultura, o número de potenciais dadores, quer pela idade quer por se poder combater melhor outros problemas de saúde e infeção, aumenta, bem como o tempo de preservação.
“A preservação vai até um mês em vez de uma semana ou duas”, apontou.
Isto porque a preservação a frio permite a utilização das córneas até um máximo de 14 dias, tratando-se de um método com outras limitações porque exclui os dadores acima dos 80 anos de idade e as vítimas de septicemia.
A preservação efetuada em meio de cultura permite o uso até 34 dias.
A idade e a septicemia não são critérios de exclusão.
Na informação remetida à Lusa, o CHUSA acrescenta que “o robustecimento do programa permitirá a oferta de córneas a outros hospitais”.