O cancro continua a ser uma das maiores ameaças para a saúde a nível mundial, apesar dos avanços na investigação e na tecnologia. De acordo com o Sistema Europeu de Informação sobre o Cancro (ECIS), prevê-se que 31% dos homens e 25% das mulheres sejam diagnosticados com cancro na União Europeia antes de atingirem os 75 anos de idade. Em Portugal, o tipo de cancro mais comum nos homens é o da próstata, ao passo que nas mulheres é o cancro da mama1. Só na UE, mais de 5 milhões de vidas foram salvas graças às invenções no domínio da oncologia, que ocorreram entre 1989 e 20222. Por ocasião do Dia Mundial do Cancro (4 de fevereiro), a Organização Europeia de Patentes (OEP) acaba de publicar um novo estudo que revela que as invenções na luta contra o cancro aumentaram 70% entre 2015 e 2021, de acordo com o número de famílias de patentes internacionais (FPI) de diferentes áreas técnicas.
O novo estudo “Patentes e Inovação contra o Cancro” tem como objetivo disponibilizar aos decisores políticos e investigadores um retrato sobre o registo global de patentes no âmbito da luta contra o cancro, descrevendo onde decorreram e quais foram os avanços tecnológicos mais recentes. O relatório revela que mais de 140 mil invenções de combate ao cancro foram divulgadas publicamente nos últimos 50 anos. Este estudo é complementado por uma plataforma digital da OEP de acesso livre, que simplifica o acesso aos inovadores na área, a informação técnica contida nas patentes, a partir de pesquisas pré-definidas em bases de dados.
O Presidente da OEP, António Campinos, afirma: “A plataforma que hoje lançamos terá um papel preponderante na luta contra o cancro, capacitando os cientistas de informação técnica e conhecimento necessários ao desenvolvimento de futuras investigações e apoiando o seu trabalho na criação de novas tecnologias que permitam salvar vidas. A Europa ocupa a segunda posição no que concerne ao desenvolvimento de tecnologias relacionadas com o cancro, mas podemos evidentemente fazer muito mais e temos de fazer muito mais neste domínio – especialmente quando as previsões indicam que haja um aumento de diagnósticos por doença cancerígena nos próximos anos”.
De acordo com o novo relatório da OEP, os Estados Unidos lideram a inovação relacionada com o cancro a nível mundial, com quase 50% de todas as FPI de 2002 a 2021 atribuídas a requerentes americanos. A UE surge em segundo lugar com uma quota de 18%, seguida do Japão com 9%. Mais recentemente, a China deu passos significativos neste domínio, com uma grande contribuição para o panorama global da inovação no domínio do cancro. Na Europa, a Alemanha tem mantido a sua posição como país líder da origem na inovação relacionada com o cancro, tendo liderado durante as últimas duas décadas. O Reino Unido emergiu rapidamente como o segundo maior contribuinte. A França, a Suíça e os Países Baixos demonstram um aumento constante da inovação relacionada com o cancro, ocupando a terceira, quarta e quinta posições, respetivamente.
As inovações estão a redefinir o futuro do tratamento e do diagnóstico do cancro
Os esforços de luta contra o cancro têm vindo a ser reforçados graças a novas e melhores tecnologias de tratamento e diagnóstico desta doença. Os avanços nas imunoterapias e nas terapias genéticas desempenham aqui um papel significativo. Entre 2015 e 2021, o número de FPI em terapia genética duplicou, ao passo que a imunoterapia mais do que duplicou no mesmo período. Verificou-se ainda um aumento substancial da atividade internacional de registo de patentes no domínio do diagnóstico do cancro, especialmente nas biópsias líquidas (ex. amostras de sangue). Outros novos avanços na informática dos cuidados de saúde centraram-se na utilização de técnicas avançadas de processamento de imagem e de algoritmos de machine learning fundamentais para melhorar a precisão e a eficiência da deteção e do diagnóstico do cancro.
O papel crescente das universidades e dos centros de investigação públicos
As universidades, os hospitais, as instituições públicas de investigação e as start-ups desempenham um papel cada vez mais importante na forma como estas inovações chegam ao mercado. Foram fundamentais em quase um terço das FPI relacionadas com o cancro entre 2002-2021, representando 26% de todas as FPI de requerentes de patentes da UE e 35% das FPI de requerentes dos EUA, ultrapassando significativamente a sua contribuição média em todas as tecnologias.
O INSERM e o CNRS franceses destacam-se como pólos fundamentais da inovação no domínio do cancro, ocupando o terceiro e o sétimo lugares a nível mundial entre 2017-2021. Em Portugal, que ocupa a 37ª a nível mundial com 145 FPI entre 2002 e 2021, o ranking é composto pela Universidade de Coimbra, Universidade do Minho e Instituto de Medicina Molecular.
Outros atores destacados entre os principais requerentes incluem empresas farmacêuticas dos EUA e da Europa, centradas principalmente em tratamentos inovadores contra o cancro, enquanto várias empresas, como a Philips, a Siemens e a Fujifilm, são especializadas em diagnósticos.
A nova plataforma para facilitar o acesso à informação e as novas ferramentas para facilitar o investimento A nova plataforma digital de acesso livre, “Technologies combatting cancer”, foi desenvolvida por especialistas da OEP, em colaboração com 10 institutos nacionais de patentes da Europa. A ferramenta apresenta mais de 130 conjuntos de dados sobre quatro temas abrangentes: prevenção e deteção precoce; diagnóstico; terapias; e bem-estar e cuidados posteriores. A plataforma inclui as 140 000 invenções em que o estudo é baseado, assim como outras adicionais. Esta é a quarta plataforma do género desenvolvida pela OEP, após as plataformas desenvolvidas para o coronavírus, as tecnologias de energia limpa e de combate aos incêndios.
Para ajudar no desenvolvimento e comercialização de novas tecnologias de combate ao cancro, a OEP está a atualizar a sua ferramenta “Deep Tech Finder”, que faz o mapeamento de cerca de 8 000 start-ups europeias com pedidos de patentes. Esta ferramenta inclui agora filtros para 17 tecnologias relacionadas com o cancro, facilitando e promovendo o contacto entre as cerca de 1 340 start-ups que detêm tecnologias patenteadas neste domínio e potenciais investidores e parceiros interessados em investir nestas empresas, cujo modelo de negócio está alicerçado em promissoras e valiosas tecnologias (deep tech) de combate ao cancro.