De acordo com a Fundação Calouste Gulbenkian, em comunicado, o renovado edifício do Centro de Arte Moderna (CAM) – um projeto do arquiteto Kengo Kuma, enquadrado pelo novo jardim desenhado pelo paisagista Vladimir Djurovic – irá reabrir portas ao público com um projeto da artista visual Leonor Antunes, a exposição “Linha de Maré” e uma outra dedicada ao artista Fernando Lemos (1926-2019).
Encerrado desde 2020, o CAM, inaugurado em 1983, alberga uma coleção com cerca de 12 mil obras de arte moderna e contemporânea, predominantemente portuguesa, que inclui também obras de artistas estrangeiros.
O programa de abertura, em setembro, incluirá a exposição “Linha de Maré”, que apresentará mais de 90 obras de diferentes tipologias artísticas – a maioria das quais inspiradas pelo 25 de Abril de 1974 – uma exposição do artista plástico, fotógrafo e ‘designer’ Fernando Lemos que mostrará a relação da sua obra com o Japão, bem como uma programação de artes performativas com a duração de três dias.
O fim de semana de abertura terá um programa de eventos que inclui performances dos artistas japoneses Ryoko Sekiguchi e Samon Takahashi, e exposições de Go Watanabe e Yasuhiro Morinaga.
A exposição de Leonor Antunes será apresentada na galeria principal do CAM, “com uma instalação imersiva que responde à especificidade arquitetónica do edifício, num projeto intitulado ‘Da desigualdade constante dos dias de Leonor'”, que pretende “questionar a invisibilidade das mulheres no cânone da história da arte moderna”, como, por exemplo, o trabalho quase desconhecido de Sadie Speight, arquiteta e ‘designer’ britânica que contribuiu para o primeiro projeto de arquitetura do CAM, concebido na década de 1980.
A exposição incluirá também obras da coleção do CAM de artistas mulheres, desde os anos 1960 até à atualidade, escolhidas por Leonor Antunes, “uma apresentação que dá início a uma nova forma de pensar e expor a coleção, convidando artistas para fazerem a curadoria das obras do seu acervo”, indicou a fundação.
Sobre este projeto, Leonor Antunes diz, citada no comunicado: “Aceitei o convite de Benjamin Weil para fazer uma curadoria da coleção do CAM em simultâneo com a exposição das minhas obras, que faz sentido à luz da minha prática e também pelo facto de poder estar rodeada de artistas que foram, e continuam a ser importantes para a minha formação enquanto artista”.
Benjamin Weil, diretor do CAM, também citado no comunicado, afirmou: “Queremos ser um interface entre os projetos artísticos mais ousados e um público diversificado. Sendo os jardins da Gulbenkian um local muito procurado, concebemos o CAM como um lugar onde as pessoas podem regressar vezes sem conta e incluir a experiência da arte na sua rotina, como fazem com um passeio no parque”.
A exposição do artista luso-brasileiro Fernando Lemos irá explorar a sua relação com o Japão nos anos 1960, quando o artista recebeu uma bolsa da Gulbenkian para estudar caligrafia japonesa e aprender técnicas de fotografia.
Os seus desenhos e fotografias serão apresentados, a par de peças de outros artistas da coleção do CAM e de gravuras japonesas da Coleção do Museu Gulbenkian.
Na sequência da aquisição de dois hectares de terreno para alargar o espaço da Gulbenkian para sul, o projeto de renovação do CAM cria uma zona de entrada na instituição, alterando o acesso ao edifício, que passa a fazer-se através de um novo jardim e de uma entrada pela Rua Marquês de Fronteira, indicou a Fundação.
Kengo Kuma reimaginou completamente o anterior edifício de betão, da autoria do arquiteto britânico Leslie Martin, aumentando a sua transparência para sul e acrescentando-lhe uma pala de 100 metros de comprimento, com uma cobertura de grandes telhas de cerâmica brancas.
O átrio transparente liga visualmente o novo jardim ao resto do espaço da Gulbenkian e uma nova galeria de mil metros quadrados acolherá exposições da coleção do CAM, estando ladeada por uma Sala de Desenho dedicada à apresentação da sua extensa coleção de obras sobre papel.
Kengo Kuma trabalhou em colaboração com Vladimir Djurovic, de modo a integrar arquitetura e natureza, desenvolvendo a visão dos arquitetos portugueses Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto para o jardim preexistente, “no sentido de reflorestar os terrenos com vegetação autóctone”.
Lusa