Há um movimento (corrente) que está a encantar os millennials e que já fez com que muitos jovens, por todo o mundo, conseguissem deixar os seus empregos e viver das suas poupanças e investimentos.
Chama-se Movimento FIRE (uma sigla em inglês, que significa “Financial Independence, Retire Early” que traduzindo, seria algo como Independência financeira, Reforma Antecipada). Consiste em poupar, trabalhar e viver uma vida bastante regrada durante alguns anos da vida ativa para que, com isso, seja possível antecipar a reforma, atingindo assim a liberdade financeira (não precisar de trabalhar para ganhar dinheiro ou para pagar contas).
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Como começou?
Tudo começou com um livro chamado“ Your Money, Your Life”de Vicki Robin, no ano de 1992, no qual a autora prezou pela consciência em procurar a liberdade financeira com conceitos muito inovadores, tais como:
- A suficiência, ou seja, o que é preciso para nos sentirmos bem versus o consumismo. Ter mais coisas não significa que sejamos mais felizes.
- O conceito de energia vital, que está associada à distribuição do nosso tempo. As horas que temos disponíveis na nossa vida e como é feita a troca dessa nossa energia pelo dinheiro. Tudo numa perspetiva do tempo que dedicamos ao trabalho.
- Que há uma diferença entre o trabalho e o emprego, sendo que o último é apenas para receber dinheiro, enquanto que o primeiro dá-nos auto-estima (realização pessoal). Assim, a autora defende que devemos trabalhar por gosto e não por uma necessidade económica.
- A menção à frugalidade em poupar bastante em tudo o que for possível, por exemplo, em vez de pagar para arranjar algo ou algum objeto, fazer a própria pessoa esse concerto.
Entre outras formas de olhar para as nossas despesas e atos na vida.
No momento do lançamento do livro, estes conceitos não foram valorizados e só, mais tarde, com a geração dos millennials é que uma série de jovens insatisfeitos decidiram começar a aplicar estas reflexões e ideias, impulsionados pelo medo de passar uma vida apenas a trabalhar e sem ter tempo nem qualidade de vida até à idade da reforma, desperdiçando assim anos de vida apenas trabalhando.
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Como se calcula?
Neste movimento pretende-se fazer sacrifícios no presente, para que se consiga reformar o quanto antes, atingindo assim a independência em 10/15 anos de trabalho. Mas não basta poupar é preciso também investir.
O FIRE está alicerçado num estudo feito pela Universidade Trinity (Texas), nos Estados Unidos da América, que também é conhecido pela regra dos 4%.
Simplificando o cálculo, em primeiro lugar uma pessoa tem de saber com quanto precisa para viver por ano, multiplicando sempre esse valor por 25. O resultado, será o montante que precisa de juntar de forma a atingir a liberdade financeira.
Como exemplo, se precisa de 1.000 euros por mês, multiplicados por 12 meses do ano dá 12.000 euros. Continuando no cálculo e multiplicando por 25, dará então 300.000 euros. Então o objetivo será alcançar esses 300.000 euros o quanto antes e, durante esse período de poupança, ir investindo esse dinheiro em produtos financeiros (por exemplo, em ETFs de Índices ou, até mesmo, em investimentos imobiliários).
O facto de ter esse dinheiro aplicado neste tipo de investimentos vai-lhe permitir um resgate anual seguro de 4%, que equivale aos 12.000 euros que precisa anualmente (continuando com o exemplo de quem vive com 1.000 euros mensais).
De acordo com o Estudo Trinity, a rentabilidade anual destes investimentos suporta a retirada de 4% ao ano, permitindo que continue o dinheiro a crescer, mesmo com o levantamento anual (o nome oficial é taxa segura de retirada).
Nem todos estarão dispostos a fazer sacrifícios ou a viver com o mínimo dos mínimos em tudo, por vezes, é mesmo necessário abdicar do lazer tal como o conhecemos, isto é, viagens confortáveis, trocar de carro, jantar fora, etc. Sendo difícil, principalmente, em Portugal, pois os nossos ordenados são baixos e devido a nossa carga horária excessiva, dificulta a possibilidade de ter um segundo emprego (algo comum de se ter nos EUA quando se procura alcançar o FIRE).
Existem mesmo assim, várias críticas apontadas a este movimento e são colocadas muitas questões pelos céticos em relação à teoria e aplicabilidade desta filosofia de vida, tais como: Estará a fórmula a contemplar corretamente a inflação? E se houver uma crise financeira e uma queda abrupta nos mercados, continuará a existir dinheiro suficiente? Entre outras questões e variáveis que podem pôr em causa a subsistência no futuro de quem o segue.
Na realidade, conseguimos encontrar várias pessoas, por todo o mundo, já “reformadas antecipadamente” e que aproveitam para mostrar os benefícios após concretizarem o objetivo. Através das redes sociais e pela internet, vão partilhando como é bom trabalhar apenas no que gosta, aproveitar o tempo em família, que com a liberdade se pode viajar mais e, ainda, que se pode dispensar algum tempo para coisas importantes na sociedade como questões cívicas e de caridade.
Caberá a cada um pensar no seu estilo de vida, se vale a pena trocar o agora por um futuro melhor e, principalmente, qual será o melhor plano para o conseguir fazer. Na realidade, hoje em dia, já se podem seguir outras correntes do FIRE, onde são consideradas diferentes variáveis para alcançar sempre o mesmo objetivo, a liberdade financeira.*
*Todo o conteúdo neste artigo apenas serve para fins educacionais e não representa qualquer tipo de aconselhamento financeiro. Consulte sempre um especialista certificado ou faça a sua própria análise no que se trata a investir, pois envolve risco de perdas.
Por Ariana Nunes
(Educadora financeira e criadora do Canal Renda Maior no YouTube)
Site: https://www.youtube.com/rendamaior