O que é afinal o movimento FIRE?

Esta semana, Ariana Nunes (educadora financeira e criadora do canal YouTube “Renda Maior) explica aos leitores da Forever Young a interessante história do movimento de independência financeira que está a conquistar muitos fãs

Há um movimento (corrente) que está a encantar os millennials e que já fez com que muitos jovens, por todo o mundo, conseguissem deixar os seus empregos e viver das suas poupanças e investimentos.

Chama-se Movimento FIRE (uma sigla em inglês, que significa “Financial Independence, Retire Early” que traduzindo, seria algo como Independência financeira, Reforma Antecipada). Consiste em poupar, trabalhar e viver uma vida bastante regrada durante alguns anos da vida ativa para que, com isso, seja possível antecipar a reforma, atingindo assim a liberdade financeira (não precisar de trabalhar para ganhar dinheiro ou para pagar contas).

 

  1. Como começou?

 

Tudo começou com um livro chamado“ Your Money, Your Life”de Vicki Robin, no ano de 1992, no qual a autora prezou pela consciência em procurar a liberdade financeira com conceitos muito inovadores, tais como:

  • A suficiência, ou seja, o que é preciso para nos sentirmos bem versus o consumismo. Ter mais coisas não significa que sejamos mais felizes.
  • O conceito de energia vital, que está associada à distribuição do nosso tempo. As horas que temos disponíveis na nossa vida e como é feita a troca dessa nossa energia pelo dinheiro. Tudo numa perspetiva do tempo que dedicamos ao trabalho.
  • Que há uma diferença entre o trabalho e o emprego, sendo que o último é apenas para receber dinheiro, enquanto que o primeiro dá-nos auto-estima (realização pessoal). Assim, a autora defende que devemos trabalhar por gosto e não por uma necessidade económica.
  • A menção à frugalidade em poupar bastante em tudo o que for possível, por exemplo, em vez de pagar para arranjar algo ou algum objeto, fazer a própria pessoa esse concerto.

 

Entre outras formas de olhar para as nossas despesas e atos na vida.

No momento do lançamento do livro, estes conceitos não foram valorizados e só, mais tarde, com a geração dos millennials é que uma série de jovens insatisfeitos decidiram começar a aplicar estas reflexões e ideias, impulsionados pelo medo de passar uma vida apenas a trabalhar e sem ter tempo nem qualidade de vida até à idade da reforma, desperdiçando assim anos de vida apenas trabalhando.

 

  1. Como se calcula? 

 

Neste movimento pretende-se fazer sacrifícios no presente, para que se consiga reformar o quanto antes, atingindo assim a independência em 10/15 anos de trabalho. Mas não basta poupar é preciso também investir.

O FIRE está alicerçado num estudo feito pela Universidade Trinity (Texas), nos Estados Unidos da América, que também é conhecido pela regra dos 4%.

Simplificando o cálculo, em primeiro lugar uma pessoa tem de saber com quanto precisa para viver por ano, multiplicando sempre esse valor por 25. O resultado, será o montante que precisa de juntar de forma a atingir a liberdade financeira.

Como exemplo, se precisa de 1.000 euros por mês, multiplicados por 12 meses do ano dá 12.000 euros. Continuando no cálculo e multiplicando por 25, dará então 300.000 euros.  Então o objetivo será alcançar esses 300.000 euros o quanto antes e, durante esse período de poupança, ir investindo esse dinheiro em produtos financeiros (por exemplo, em ETFs de Índices ou, até mesmo, em investimentos imobiliários).

O facto de ter esse dinheiro aplicado neste tipo de investimentos vai-lhe permitir um resgate anual seguro de 4%, que equivale aos 12.000 euros que precisa anualmente (continuando com o exemplo de quem vive com 1.000 euros mensais).

De acordo com o Estudo Trinity, a rentabilidade anual destes investimentos suporta a retirada de 4% ao ano, permitindo que continue o dinheiro a crescer, mesmo com o levantamento anual (o nome oficial é taxa segura de retirada).

 

Nem todos estarão dispostos a fazer sacrifícios ou a viver com o mínimo dos mínimos em tudo, por vezes, é mesmo necessário abdicar do lazer tal como o conhecemos, isto é, viagens confortáveis, trocar de carro,  jantar fora, etc. Sendo difícil, principalmente, em Portugal, pois os nossos ordenados são baixos e devido a nossa carga horária excessiva, dificulta a possibilidade de ter um segundo emprego (algo comum de se ter nos EUA quando se procura alcançar o FIRE).

Existem mesmo assim, várias críticas apontadas a este movimento e são colocadas muitas questões pelos céticos em relação à teoria e aplicabilidade desta filosofia de vida, tais como: Estará a fórmula a contemplar corretamente a inflação? E se houver uma crise financeira e uma queda abrupta nos mercados, continuará a existir dinheiro suficiente? Entre outras questões e variáveis que podem pôr em causa a subsistência no futuro de quem o segue.

Na realidade, conseguimos encontrar várias pessoas, por todo o mundo, já “reformadas antecipadamente” e que aproveitam para mostrar os benefícios após concretizarem o objetivo. Através das redes sociais e pela internet, vão partilhando como é bom trabalhar apenas no que gosta, aproveitar o tempo em  família, que com a liberdade se pode viajar mais e, ainda, que se pode dispensar algum tempo para coisas importantes na sociedade como questões cívicas e de caridade.

Caberá a cada um pensar no seu estilo de vida, se vale a pena trocar o agora por um futuro melhor e, principalmente, qual será o melhor plano para o conseguir fazer. Na realidade, hoje em dia, já se podem seguir outras correntes do FIRE, onde são consideradas diferentes variáveis para alcançar sempre o mesmo objetivo, a liberdade financeira.*

 

*Todo o conteúdo neste artigo apenas serve para fins educacionais e não representa qualquer tipo de aconselhamento financeiro. Consulte sempre um especialista certificado ou faça a sua própria análise no que se trata a investir, pois envolve risco de perdas.

 

 

 

Por Ariana Nunes
(Educadora financeira e criadora do Canal Renda Maior no YouTube)
Site: https://www.youtube.com/rendamaior

 

 

 

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