Segundo a mulher e os filhos, Corman, conhecido como o “Rei dos filmes B” de Hollywood, morreu na quinta-feira na sua casa em Santa Mónica, na Califórnia.
“Quando lhe perguntaram como gostaria de ser recordado, disse: ‘Eu era um cineasta, apenas isso’”, referem em comunicado.
Em 2009, Corman recebeu o Óscar honorário da Academia de Cinema norte-americana.
A partir de 1955, Corman ajudou a produzir centenas de filmes como produtor e realizador, entre os quais “Black Scorpion”, “Bucket of Blood” e “Bloody Mama”, e foi um notável avaliador de talentos: contratou aspirantes a cineastas como Francis Ford Coppola, Ron Howard, James Cameron e Martin Scorsese e lançou diversos dos atores que hoje são referências de Hollywood.
Jack Nicholson estreou-se no cinema como personagem principal num filme de Corman de 1958, “The Cry Baby Killer”.
Outros atores cujas carreiras começaram em filmes de Corman foram Robert De Niro, Bruce Dern e Ellen Burstyn.
A participação de Peter Fonda em “The Wild Angels” foi precursora do seu filme independente “Easy Rider”, de referência sobre motociclismo, com Nicholson e Dennis Hopper, também ex-aluno de Corman.
“Boxcar Bertha”, com Barbara Hershey e David Carradine, foi um dos primeiros filmes de Martin Scorsese.
Também Ron Howard, que viria a ganhar um Óscar de melhor realizador por “Uma Mente Brilhante”, trabalhou com Corman em 1977, no filme “Grand Theft Auto”.
Os realizadores de Corman recebiam orçamentos minúsculos e muitas vezes tinham de terminar os seus filmes em apenas cinco dias.
Os filmes de Corman eram abertos para a época, focando temas como sexo e drogas, como o seu lançamento de 1967 “The Trip”, uma história explícita sobre LSD escrita por Nicholson e protagonizada por Fonda e Hopper.
Entretanto, também lançou filmes estrangeiros de prestígio nos Estados Unidos, entre os quais “Gritos e Sussurros” de Ingmar Bergman, “Amarcord” de Federico Fellini e “O Tambor de Lata” de Volker Schlondorff. Os dois últimos ganharam o Óscar de melhor filme em língua estrangeira.
Roger William Corman nasceu em Detroit e foi criado em Beverly Hills, mas “não na secção abastada”, disse ele uma vez.
Frequentou a Universidade de Stanford, licenciando-se em engenharia, e chegou a Hollywood depois de três anos na Marinha.
Corman começou a trabalhar como estafeta na Twentieth Century-Fox, acabando por se tornar analista de histórias.
Depois de abandonar brevemente o negócio para estudar literatura inglesa durante um período em Oxford, regressou a Hollywood, onde trabalhou como assistente de palco na televisão e agente literário, antes de iniciar a sua carreira como produtor e realizador de cinema.
Foi casado com Julie Halloran, também ela produtora, e tiveram quatro filhos.
Apesar dos seus métodos de poupança, Corman manteve boas relações com os seus realizadores, gabando-se de nunca ter despedido nenhum porque “não queria infligir essa humilhação”.
Alguns dos seus antigos subordinados retribuíram a sua bondade anos mais tarde. Coppola incluiu-o em “O Padrinho, Parte II”, Jonathan Demme incluiu-o em “O Silêncio dos Inocentes” e “Filadélfia” e Howard deu-lhe um papel em “Apollo 13”.
A maior parte dos filmes de Corman foram rapidamente esquecidos pelos fãs, mas uma rara exceção foi “Little Shop of Horrors” (“A Pequena Loja dos Horrores”), de 1960, que tinha como protagonista uma planta sangrenta que se alimentava de seres humanos e que contou com Nicholson no papel de um paciente dentário que adorava a dor.
Em 1963, Corman iniciou uma série de filmes baseados nas obras de Edgar Allan Poe, dos quais o mais notável foi “O Corvo”, que juntou Nicholson com as estrelas veteranas do terror Boris Karloff, Peter Lorre e Basil Rathbone.
O sucesso de Corman levou a ofertas de grandes estúdios, tendo dirigido “The St. Valentine’s Day Massacre” e “Von Richthofen and Brown” com orçamentos normais, mas ambos os filmes foram dececionantes.
RCS // JMR
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