Todos os anos, o Dia Internacional Sem Dieta nos convida a refletir sobre os padrões alimentares impostos, o culto ao corpo ideal e a relação que cada pessoa desenvolve com a própria saúde. Este dia conhecido mundialmente como “International No Diet Day” nasceu em 1992, por esforço de Mary Evans, diretora do grupo britânico “Diet Breakers”, que após sofrer de anorexia, começou a lutar contra a indústria das dietas.
Nesta data, é essencial trazer à tona um ponto muitas vezes esquecido: a individualidade biológica. Em especial, o papel da nutrigenética nesse cenário.
Vivemos em uma sociedade permeada por padrões. Eles sempre existiram — nas tribos ancestrais, nas cortes imperiais, nas periferias urbanas. Os padrões de beleza, de corpo, de comportamento e de saúde são, em muitos casos, reflexos de figuras que se destacaram em sua época e passaram a exercer influência sobre os demais. E isso, por si só, não é um erro. O ser humano se inspira, se modela, se conecta a exemplos.
Na França do século XVII, por exemplo, mulheres da nobreza eram consideradas mais belas quanto mais alvas e cheias fossem. Ter a pele muito branca era um símbolo de status, pois revelava que aquela mulher não precisava se expor ao sol para trabalhar. Muitas usavam pó de arroz ou até compostos com chumbo para acentuar esse tom, em busca de uma imagem que reforçava sua posição social. O corpo mais roliço, longe de ser criticado, era sinal de fartura, fertilidade e prestígio.
Em outra cultura, mulheres da tribo Kayan, no sudeste asiático, carregam outro exemplo marcante: quanto mais longo o pescoço, maior a beleza e o respeito social. Desde pequenas, elas passam a usar anéis de metal que alongam gradualmente essa região do corpo, adaptando o esqueleto ao ideal estético de sua comunidade.
Padrões como esses, por mais distintos entre si, mostram que o ideal do que é considerado bonito ou saudável está sempre mudando — e, muitas vezes, desconsidera fatores internos essenciais.
E aqui entra uma reflexão fundamental: esses padrões também respondem à genética. A capacidade de manter o peso corporal estável, de ganhar massa muscular com facilidade, de envelhecer lentamente, de metabolizar bem certos alimentos — tudo isso pode ter um fundo genético importante.
Quando começamos a considerar essa perspetiva, o olhar sobre nós mesmos se torna mais compassivo. Percebemos que nem sempre estamos “falhando” por não alcançar aquele corpo idealizado ou aquela dieta da moda. Muitas vezes, o que falta é entender nossa própria biologia, nossos próprios códigos. E é aí que entra a nutrigenética: o estudo de como nossos genes interagem com os alimentos que consumimos.
A alimentação considerada ideal para um indivíduo pode não funcionar para outro. O que é dito como “o mais saudável” — como laticínios, oleaginosas, frutas específicas, percentuais de macronutrientes — pode ser inadequado para quem possui intolerâncias, sensibilidades ou predisposições genéticas. Isso sem contar os fatores ambientais e emocionais que também impactam na forma como nosso corpo reage ao que comemos.
Portanto, o Dia Internacional Sem Dieta, a provocação que deixo é: e se o seu caminho para a saúde for diferente do caminho do outro? E se respeitar a sua genética for a chave para construir hábitos sustentáveis, eficientes e gentis consigo mesmo?