Ouvir parece simples. Mas se é assim tão fácil, porque é que tantas pessoas se queixam de não se sentirem ouvidas? A resposta pode estar em seis comportamentos comuns que acabam por boicotar a capacidade verdadeira de ouvir e que a maioria de nós comete sem se dar conta. A solução, defendem dois especialistas em psicologia positiva num artigo da Fast Company, está na chamada “escuta radical”: um modelo de atenção plena, empatia e conexão.
Antes de tudo, é importante perceber o que estamos a fazer mal.
Comparar experiências
É comum tentarmos “ligar-nos” ao outro partilhando algo semelhante que nos aconteceu. Contudo, muitas vezes, esse impulso acaba por roubar o foco da conversa e desvaloriza o que o outro está a sentir. Ouvir não é competir por histórias.
Competir pela atenção
A tendência de responder com algo “ainda pior”, como: “tu tens 200 e-mails, eu tenho mil!”. Esta prática transforma um desabafo numa corrida de obstáculos. Em vez de se ouvir com empatia, tentamos destacar-nos. Resultado? O outro sente-se diminuído.
Presumir ou adivinhar o que o outro vai dizer
Interromper com base no que achamos que vem a seguir é uma armadilha clássica. Essa espécie de “leitura mental” quebra a ligação real e afasta-nos do que está mesmo a ser partilhado.
Dar conselhos não solicitados
“Devias fazer…” é uma frase que salta da boca de forma automática. Mas nem sempre é isso que o outro precisa. Às vezes, basta estar presente, sem dar soluções, apenas com compreensão.
Achar que a nossa opinião é a mais importante
Este erro é frequente em reuniões ou discussões: interromper ou desvalorizar os outros, porque achamos que temos razão. A escuta verdadeira exige humildade e abertura.
Falta de tempo (ou de paciência)
Ouvir alguém enquanto se olha para o relógio ou para o telemóvel transmite uma mensagem clara: “não tenho tempo para ti”. E ninguém se sente ouvido assim.
A escuta radical em seis passos:
Para contrariar estes hábitos, os autores propõem a escuta radical – uma prática que não exige concordar, mas sim acolher o que o outro tem para dizer, com atenção plena e sem julgamentos.
- Reparar:
Estar verdadeiramente atento ao que o outro diz. Ouvir com os ouvidos, olhos e coração. -
Calar:
Fazer silêncio, tanto por fora como por dentro. Pausar o julgamento, o impulso de responder e o ruído mental. -
Aceitar:
Respeitar o ponto de vista alheio, mesmo quando não coincide com o nosso. Aceitação não é concordância, é abertura. -
Reconhecer:
Validar o esforço, a emoção ou a partilha do outro. Um simples “percebo que isso não foi fácil” pode fazer toda a diferença. -
Questionar:
Fazer perguntas com genuíno interesse. Mostra envolvimento e estimula o diálogo. -
Intervir (com entusiasmo):
Quando apropriado, uma intervenção positiva e calorosa reforça a ligação. Não se trata de interromper, mas de acompanhar.
Ouvir de forma radical é um gesto simples, mas transformador. Num mundo apressado e cheio de ruído, saber ouvir é, cada vez mais, uma forma de cuidado.