Um dos mais bem guardados segredos até ao momento tem sido o facto do restaurante Vintage, nobre sala de refeições do Estoril Vintage Hotel – gerido pela Amazing Evolution –, não ser de acesso exclusivo aos hóspedes e estar aberto ao público em geral. Pois é mesmo verdade. Todos os dias, das 12h às 15h e das 19h às 22h30, à distância de uma reserva, pode deleitar-se com muito mais do que uma boa refeição, mas antes com uma experiência gastronómica que coloca todos os sentidos em… sentido. Talvez por isso, todos acabem por guardar segredo.
De frente para o mar e nascido sobre o amplo terraço lateral do palacete, o restaurante Vintage é uma relíquia arquitetónica, um pequeno pavilhão de vidro com perfil de romântico jardim de inverno. Aqui, porém, plantas, flores e legumes são apresentados à mesa, após delicados e sofisticados modos de confeção. Um trabalho que replica a mesma sensibilidade e paixão da jardinagem, mas que se dedica ao apuramento de sabores e à criação de experiências sensoriais que passam, literal e metaforicamente, de boca em boca.
Tudo começa na envolvência da sala, um cubo de magia envidraçado para permitir que se pinte com o azul do oceano e claraboia de vidro para se pintalgar de sol e estrelas. Mais do que uma cor, o azul é aqui uma inspiração marinha, uma omnipresente nota de maresia. Replica ainda as pinceladas de uma peça de arte cuja tonalidade domina a sala. O restaurante Vintage é luxuosamente adornado por um fabuloso painel de azulejos, um original que acompanha a casa desde que o industrial Alfredo da Silva a mandou construir para acolher a temporada de verão da família.
Aquando da transformação do palácio em hotel, os azulejos foram cirurgicamente removidos, um a um e, como um puzzle, repostos num mural que honra bem a arte da azulejaria nacional. Com sorte, pode até ser que acabe por ouvir a história, contada na primeira pessoa pela proprietária, uma apaixonada esteta que manteve e respeitou, com o máximo rigor, toda a traça original do palacete.
Porém, e ainda que satisfaçam o olhar e promovam bem-estar, os requintes arquitetónicos e do design de interiores são apenas peças sofisticadas de um mood prévio, uma espécie de antecâmera sensorial aos prazeres régios que pode aguardar enquanto se deleita com a paisagem.
O principal, bem sabemos, são os sabores que percorrem uma carta elaborada pelo Estoril Vintage Hotel e assegurada pela chef Sara Esteves. Uma jovem maestrina na direção de uma orquestra de pratos que conjuga ingredientes e sabores tradicionais, onde bacalhau, polvo ou robalo, bochechas de porco, borrego ou o incontornável bife do lombo se harmonizam e adjetivam com inesperadas e sofisticadas conjugações. Nesta cozinha não há impossíveis e tal como todas as notas têm cabimento numa nova composição, também aqui a criatividade não conhece limites.
O resultado termina em associações divinais onde cogumelos-ostra, feijão verde e cerejas, arroz de tomate com chouriço ou algas e abacate afinam melodias gastronómicas. A uma sólida base de sabores e ingredientes muito nossos, ousa-se acrescentar a frescura da originalidade gustativa. O resultado dificilmente se traduz em palavras, já que o palato não se presta a traduções fáceis. Soberbo, é a única palavra que arriscamos. O convite é para que venha provar e se, no final, lhe faltarem palavras… tanto melhor!