“Em média, a semana de quatro dias envolveu a redução das horas de trabalho semanais em 13,7% (de 39,3 para 34 horas, reportado pelas empresas)”, pode ler-se no relatório apresentado por Pedro Gomes, professor de economia na Universidade de Londres, e Rita Fontinha, professora de gestão estratégica de recursos humanos na Universidade de Reading, avança a Lusa.
Porém, os trabalhadores que participaram na experiência reportaram uma redução menor do número de horas semanais efetivamente trabalhadas em 11,3%, de 41,1 horas para 36,5 horas, indica o estudo.
De acordo com o documento, 41 empresas estão a experimentar a semana de quatro dias em Portugal, abrangendo mais de 1.000 trabalhadores, das quais 21 empresas começaram o teste em junho de 2023, com um total de 332 trabalhadores.
Na maioria das empresas (58,5%), os trabalhadores têm um dia livre por semana, tendo 41,5% das empresas optado por uma quinzena de nove dias, alternando uma semana de quatro dias com uma semana de cinco dias.
Em 20% das empresas, o dia livre é coordenado à sexta-feira, ou seja, “apenas em oito empresas a sexta-feira foi o novo sábado” e as restantes optaram por diferentes formatos, disse Pedro Gomes.
Mais de 70% das empresas adotaram mudanças organizacionais, como a redução do número e duração de reuniões, a criação de blocos de trabalho, ou a adoção de novo ‘software’, referem os coordenadores do estudo que aponta que 95% das empresas avaliam positivamente o teste.
A semana de quatro dias teve também impacto na saúde mental dos trabalhadores, com o índice de ansiedade a diminuir em 21%, o de fadiga em 23%, o de insónia ou problemas de sono em 19%, o de estados depressivos em 21%, o de tensão em 21% e o de solidão em 14%.
Os níveis de exaustão pelo trabalho reduziram em 19% e a percentagem de trabalhadores que sente ser difícil ou muito difícil a conciliação entre trabalho e família desceu de 46% para 8%.
A maioria (65%) dos trabalhadores passou mais tempo com a família após o início da redução horária.
O relatório indica ainda que 85% dos trabalhadores “apenas aceitaria mudar para uma empresa com um funcionamento a cinco dias, mediante um aumento salarial superior a 20%”.
Na apresentação do relatório, Pedro Gomes disse que as maiores dificuldades manifestadas pelas empresas na implementação do projeto foram a definição de métricas de produtividade, a gestão da semana de quatro dias durante os períodos de férias e a dificuldade em alterar a cultura interna para evitar o desperdício de tempo.
Para Pedro Gomes, “a semana de quatro dias, por muito radical que pareça, é uma prática de gestão legítima e pode solucionar problemas reais das empresas”.
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que encerrou a cerimónia de apresentação, agradeceu às 41 empresas e aos trabalhadores que se “aventuraram no desconhecido” ao aderirem à iniciativa e considerou que este é um projeto “vencedor” que já está a ser replicado na Bélgica.
O secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, defendeu que a semana de quatro dias de trabalho é “um dos projetos mais inovadores em Portugal”.